quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Quinta Underground #19: Red Hot Chili Peppers (3ª Parte)

Depois de mais de um mês parada, a série volta pro blog. Na real, todas as quintas feiras que eu deixei passar foram cagada minha. Sempre eu demorava pra me ligar que era quinta e, quando eu via, era tipo, 10 da noite. Mas hoje eu não deixei passar \o

A terceira parte vai tratar justamente dos discos que fazem o RHCP ter fama de "banda de roqueiro de shopping center". Mas pra quem realmente conhece a banda, sabe que não é bem assim. Pra quem não tá ligado, na última parte eu falei do Blood Sugar Sex Magik, auge da banda. Ali, o RHCP saiu da Califórnia para o mundo.

Claro que isso é um exagero, a banda já fazia sucesso fora dos EUA com o antecessor, Mother's Milk. Com o Blood Sugar, porém, a coisa alcançou proporções titânicas. Shows no mundo todo, inclusive tendo a primeira passagem da banda pelo Brasil, no Hollywood Rock de 1993, quando já contava com Arik Marshall nas guitarras, no lugar de John Frusciante (vou falar sobre isso logo), além de mais ou menos 15 milhões de cópias vendidas. Isso tudo com um disco que foi lançado no mesmo dia do Nevermind, do Nirvana, ou seja, provavelmente teve seu desempenho até um pouco ofuscado por isso.

O novo RHCP, agora com Navarrosca
Mas, em 1992, John resolve sair da banda. O motivo principal era que, segundo ele, "ele não estava conseguindo lidar muito bem com o sucesso, os shows e esse tipo de coisa". Ou seja, ele preferiu ficar enclausurado em casa durante alguns anos, gastando todo o dinheiro que ganhou com todos os tipos de droga que se pode imaginar, fazendo algumas pinturas e gravando discos de gosto e qualidade duvidosos, como Niandra Lades and Just Usually a T-Shirt (disco duplo, onde o segundo, Usually Just a T-Shirt, é composto inteiramente de músicas sem título. John não intitulou elas para lançar logo o disco, pensando que estava perto de morrer), e Smile From the Streets You Hold.

E cara, se tem uma coisa que eu acho MUITO chata nos fãs do John é isso... essas gravações são o que existe de pior na carreira dele, mas pior mesmo, mal mixado, mal cantado, ideias (que até poderiam ser boas músicas, se bem trabalhadas) mal organizadas, isso tudo muito por causa do estado físico e mental que ele se encontrava, e elas são tratadas pelos fãs como "genialidade". Sinceramente, o John é um ótimo guitarrista, um dos melhores dos últimos, sei lá, 20, 30 anos. Mas pra gênio falta muito.

Como eu disse... Navarrosca
Enfim, depois desse parênteses, gigante, diga-se de passagem, voltamos ao RHCP. Enquanto John se afundava nas drogas e estava cada vez mais perto da morte, Anthony, com o baque da saída do seu amigo da banda, também volta a usar drogas, algo que ele não fazia desde 1988, com a morte de Hillel Slovak. A solução que a banda encontrou para o RHCP continuar foi a entrada de Dave Navarro, do Jane's Addiction. A ideia de Navarro fazer parte do RHCP já vinha desde a saída do Frusciante, ainda em 1992, mas como ele tava com o Jane's, ele declinou o convite. Até o fim de 1993, a saída foi Arik Marshall (que aparece, inclusive, no clipe de Breaking The Girl).

A partir de 1994, o RHCP agendou uma turnezinha, de uns 10 shows, mais ou menos, para Navarro e a banda começarem a se entender no palco. O segundo show do RHCP com ele foi já no Woodstock 94'. Mas enfim, essa introdução toda sobre o que aconteceu entre 1991 a 1994 foi só pra contextualizar o disco mais obscuro, pesado, esquecido e polêmico do Red Hot Chili Peppers...

Tearjerker, One Hot Minute e Shallow Be Thy Game (1995 - One Hot Minute)

Experimenta perguntar pra um fã realmente poser de RHCP se ele conhece alguma coisa desse disco? Se conhecer, é porque o Josh deu uma palhinha de My Friends num show ano passado e uma outra de Walkabout esse ano. Mas não é culpa dos posers, porque discos mais antigos que esse têm músicas tocadas ao vivo. O problema é a banda. Esse disco, exceto Pea, que o Flea toca de vez em quando, só foi tocado ao vivo até 1997, ano que o Navarro saiu da banda. O John sequer OUVIU o disco até hoje. Desde que o Josh entrou na banda, a esperança é que isso mude, mas como esse disco lembra uns tempos mais nebulosos pro AK, ele prefere não incluir músicas dele nos shows do RHCP. Ou seja, o disco foi COMPLETAMENTE ignorado nos últimos 15 anos. O que deu uma ponta de esperança pro pessoal foram justamente essas palhinhas do Josh.

Outra coisa... se encontrarem esse CD pra vender, comprem. Recomendo. Ele é bem mais pesado, tanto no teor das letras, falando de droga, morte e tal, como no instrumental. Talvez seja mais difícil de assimilar, mas depois que se entende o disco, se torna facilmente um dos melhores da banda, superior até ao superestimado By The Way. Isso principalmente porque aqui o Flea está no seu auge, veloz nos slaps e nas linhas em geral, e mandando solos incríveis de baixo, como em Coffee Shop e Shallow Be Thy Game.

Anthony, dentro de suas limitações vocais, faz um belo trabalho, talvez o mais exigente para a sua voz até
hoje. Chad groovy como sempre e o Navarro acrescentando um peso na guitarra. Mas chega de papo, vamos às músicas. Preferi trazer temas menos conhecidos, porque Warped (o famoso clipe da bitoquinha entre o Anthony e o Navarrosca), Aeroplane, My Friends e Walkabout, mesmo sem serem tocadas hoje em dia, ainda são lembradas pelo pessoal que conhece a discografia da banda.

Tearjerker - Uma das baladas do disco. Com uma bela introdução e solos com bastante feeling, fala sobre a morte do Kurt Cobain, que aconteceu um ano antes. Vale a pena conferir. Foi uma das três músicas do OHM que não ganhou versão ao vivo. As outras duas são Falling Into Grace e...

One Hot Minute - Uma das maiores do disco (junto com Deep Kick e One Big Mob, são as três músicas que ultrapassam seis minutos no disco). Paulada. Afu. Ela começa parecendo até um loop sem sentido na guitarra do Navarro, até que o pau come solto. Pode parecer chata e arrastada, principalmente no final, que repete um riff "ad infinitum", mas tudo isso faz parte da atmosfera da música. No final, tu se acostuma e percebe que é um som legal.

Shallow Be Thy Game - Segue o padrão desse disco. Pesada, agressiva, com uma bateria muito menos funky e mais reta, pro padrão do Chad, algo como o que ele fazia nos tempos do Mother's Milk. Além disso, um puta riff do Navarro e um solaço de baixo do Flea, pra esfregar no chão a cara de quem fala que ele é superestimado. Além disso, pelo lado do Anthony, o que temos de bom nessa música é uma ferrenha crítica à igreja católica na letra.

Get On Top, Easily, Savior e Purple Stain (1999 - Californication)

Eis que em 1998 o pessoal do RHCP resolve visitar John, que estava na rehab. Compraram uma guitarra pra ele (sim, John chegou num ponto tão decadente que ele vendeu TODOS os seus instrumentos, só pra comprar droga), e foram ver se ele realmente estava em condições de voltar para a banda, como ele havia considerado. Ele mostrou que estava recuperado do seu problema com drogas e voltou, com uma turnezinha em 1998, mais ou menos como foi com o Navarro em 1994. A diferença é que o disco que se seguiria aqui seria um marco pro RHCP. Ainda que fosse um bom disco, e que tivesse vendido mais ou menos 7 milhões de cópias, metade do que vendeu o BSSM, o One Hot Minute deu uma apagada no RHCP, no cenário internacional. Pra recuperar isso, tinha que ser algo de sucesso. E o Californication é isso, sem dúvidas. É a banda, sem perder a essência (mesmo que seja acusada de tal), mas fazendo algo realmente mais pop, mais acessível. E deu certo.

Get On Top - Sinceramente, falam em RHCP "bandinha da MTV a partir do Californication". Será mesmo? Aqui não vejo nada além do RHCP antigo. Batida rápida, baixo sempre foda, guitarrinha beeem funky, com wah-wah, e as rimas sem sentido algum, do Anthony. Uma abordagem bem diferente do que é apresentado nos singles. Não é à toa que, das seis primeiras, foi uma das únicas que não foi single.

Easily - Falando em guitarra simples... o que é esse solo? Seria cômico se não fosse trágico. Com um dedo dá pra fazer igual. Isso, inclusive, era um ponto que o Frusciante era muito criticado nessa turnê do Californication: ele ainda sentia as consequências de anos de abuso de drogas e falta de prática. Errava demais ao vivo, fazia solos infantis, mas foi importante pra ele recuperar a técnica. Fora esses solinhos bem simplórios, a música é boa. Mais pesada do que a abordagem normal do disco.

Savior - Talvez a música boa mais esquecida do disco. Isso porque ao vivo ela fica vazia, falta uma guitarra base. Assim, ela não é tocada ao vivo há mais de 10 anos. Não tenho muito o que dizer dela, ela foge um pouco da vibe do disco, mas isso é algo positivo, diferente de Porcelain, a infame oitava música.

Purple Stain - Com groove. O "duelinho" entre baixo e guitarra, que se estende por quase toda a música, é sensacional. No final, Chad dá uma esnobada afu. Não tenho muito o que dizer, só que é uma música boa.

This Is The Place, Midnight, Tear, Minor Thing e Venice Queen (2002 - By The Way)

Eu comecei realmente a acompanhar o RHCP por essa época. Lembro dos clipes de Can't Stop e The Zephyr Song passando na TV direto. Ainda assim, não é um disco que eu tenho facilidade pra gostar, como faz a maioria do pessoal. Como eu falei antes, prefiro o RHCP mais ousado do One Hot Minute. O que parece aqui é que nesse momento a banda realmente se acomodou com o sucesso e, como se diz no jargão futebolístico, resolveu "jogar com o regulamento debaixo do braço". Talvez fosse reflexo da segunda (e permanente até hoje) fase limpa de drogas do Anthony também.

Fizeram um disco com dois sucessos incontestáveis, presenças eternas nos shows, que são a faixa-título e Can't Stop, além de The Zephyr Song, que o pessoal pede muito até hoje. Além de Zephyr, outra que o pessoal anda pedindo é Dosed. Desde 2012 o Josh usa aquela pedaleira gigante pra gravar uma ou duas tracks das 3485734068073489 tracks de guitarra da versão de estúdio, bota pra rodar e dá uma palhinha dela durante os shows. Aqui no Brasil foi assim e o Anthony até cantou um pedacinho... será que não é meio que um teste?

Mas voltando ao que eu tava dizendo, o RHCP se acomodou aqui. Investiu nas baladas. Aliás, muito por causa do John. O Flea, inclusive, brigou com o John nessa época porque ele tava meio que mandando no processo criativo. E não dá pra condenar, porque de novo foi sucesso. Vendeu mais ou menos 16 milhões de cópias até hoje. E já que a proposta é mostrar as baladas, então vamos à elas.

This Is The Place - Não é exatamente uma balada, mas tu sente que não tem peso, ainda que a letra fale da relação de Anthony com as drogas. De qualquer jeito, é uma bela música. Uma boa linha de baixo do Flea (que foi chupinhada por ele mesmo em Annie Wants A Baby, do I'm With You). Talvez tenha sido ela quem deixou Rivers Of Avalon de fora do disco, por causa de uma semelhança entre as duas. Tudo isso eu já falei em uma postagem do começo do ano, só clicar aqui pra ver.

Midnight - Uma das várias músicas que nunca foi tocada ao vivo. Linda. É uma das melhores baladas da banda. Talvez fique um pouco chatinha no final, que eles repetem bastante o refrão. Mas a pegada é outra, nada daquelas baladas açucaradas, típicas desse disco. E o agudo que o AK alcança aqui, assim como em Dosed, é bem exigente pra técnica dele. A verdade é que com o tempo ele aprendeu a manha.

Tear - Outra bela balada. Outra música que nunca foi tocada ao vivo. Aqui, além do piano dando um plus, tem o trompete do Flea, mas sem ser algo funky.

Minor Thing - Aqui é um ponto importante. Ainda que o By The Way seja essa coisa meio sem atitude e tal, essa música é cativante. Merecia ser tocada até hoje, ao invés da saturada Throw Away Your Television e da chata Universally Speaking. Mas é a vida.

Venice Queen - O momento Paul McCartney solo do RHCP. Essa música é uma homenagem a Gloria Scott, terapeuta de Anthony na rehab. Ela morreu, em consequência de um câncer, logo depois de comprar uma casa em Venice Beach, para passar os últimos momentos. Mas a história do "momento Paul" é porque a música segue num padrão até mais ou menos 3 minutos. Depois disso, ela muda completamente.

Acho que eu já me estendi demais aqui. Por hoje eras isso. Semana que vem, a última parte. Amanhã vai ter postagem especial: No mesmo dia, With The Beatles completa 50 anos e o White Album, 45. A nossa colaboradora fã n°1 de Beatles vai escrever sobre isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário