sábado, 10 de setembro de 2016

On the Charts #29: Os 20 anos do Test for Echo

Sim, meus gamigos, depois de mais de um ano sem esse tradicional quadro, voltou o On the Charts. E voltou com esse disco, que é (o melhor do mundo e) um dos melhores do Rush, na minha humilde opinião. Não sei se já cheguei a falar sobre isso por aqui, mas um dos critérios para o disco ganhar um On the Charts, além de eu conhecê-lo bem, é ele completar, no mínimo, 20 anos. Entretanto, raros foram os discos que, com 20 anos de vida, ganharam On the Charts. Dois que posso me lembrar são o Nevermind, do Nirvana, e o Blood Sugar Sex Magik, dos Peppers (que na real ganhou mais foi uma nota, esses dois ainda merecem um On the Charts digno). Mas vamos ao que interessa
Serigrafia do CD remaster de 2007

Test for Echo é o décimo sexto disco de estúdio (da melhor coisa que o Canadá já nos ofereceu) do Rush. Lançado em 10 de setembro de 1996, apesar de ser um dos discos mais acessíveis do trio canadense, é também mais uma mudança no som da banda, além de, infelizmente, carregar o peso do trauma do baterista Neil Peart e ter sido absolutamente esquecido e ignorado nas últimas três turnês. E, para entender um pouco disso tudo, voltamos no tempo.

O Rush, que nunca foi uma banda de repetir o mesmo som por mais de dois ou três discos, lançou, em 1984, o Grace Under Pressure, que iniciou a fase da tecladeira. Fase essa que perdurou até 1987, impregnando o som de Power Windows, lançado em 1985, e de Hold Your Fire, de 1987. Quem viu o documentário Beyond the Lighted Stage (que pretendo falar sobre um dia também), sabe que isso, de certa forma, “incomodou” um pouco o guitarrista Alex Lifeson, já que o som da banda se tornou completamente dominado pelos teclados.

Serigrafia do CD original, de 1996
Então, em 1989, vem Presto, seguido por Roll the Bones em 1991, dois discos com sonoridade muito parecida. Aqui, mais do que nunca, o Rush passou a se tornar acessível. Músicas, em sua maioria, de 4 minutos, acordes abertos, refrões fortes, mas ainda faltava alguma coisa, tanto que a própria banda, a exemplo da crítica, considera o disco um tanto quanto vazio. Talvez seja a afinação da bateria e o timbre da guitarra, um tanto quanto oitentista, mas o que ocorreu foi que, mais uma vez, o Rush partiu pra outro som.

Em 1993, veio Counterparts. Muito mais pesado, com a volta de uma guitarra mais forte, foi muito aclamado pelos fãs. Mas, dessa vez, foi a vez de Neil Peart querer mudar. Segundo ele, o estilo de tocar bateria dele tava muito oitentista, onde ele era plenamente capaz de manter uma batida padrão, com perfeição no tempo e na execução, mas não tinha dinâmica.

Assim, ele tomou lições (sim, Neil Peart fazendo aulas de bateria) com o guru do jazz Freddy Gruber. Claramente a técnica dele mudou para esse disco, tanto que, além dele começar a usar mais seguidamente o prato de condução, no seu DVD A Work in Progress, onde ele regravou (ao vivasso) algumas das linhas das músicas do Test for Echo, a pegada que ele tava usando era a tradicional (e nos shows até mesmo da turnê do Vapor Trails, seis anos depois, nas músicas do T4E ele ainda usava traditional grip).
Sobre as músicas em si, abrimos o disco com a faixa título. Maior música do disco, tem tudo que eu citei antes, logo de cara. Neil Peart com muito prato de condução, um começo cativante, Alex Lifeson voltando à frente do som, e, algo que não citei antes, Geddy Lee mostrando que a experiência, além da idade, fizeram bem pra sua voz. A partir do Presto, o vocal dele passou a ser MUITO bom, adequado para as melodias das músicas, não mais aquela coisa de querer mostrar que sempre podia gritar mais agudo (não que não fosse legal, mas tinha passado o tempo).

Test for Echo é uma boa música porque, apesar de ter seções bem definidas, que se alternam durante seus quase seis minutos, essas seções são claramente baseadas no jogo de luz e sombra que só quem tem um grande feeling é capaz de fazer. Ahh, e o solo do Lifeson é curtinho, mas é tri. Sem falar na virada sensacional do Peart logo depois.

A segunda música é Driven. Uma das mais tocadas desse disco em shows (quem foi nos shows do Rush no Brasil teve a sorte de vê-la ao vivo), agita um pouco mais as coisas, com o riff de guitarra mais pesado e o andamento mais intrincado, típico do Rush, mas sem ignorar os momentos mais leves, como o pré refrão, algo a la Nobody’s Hero. Obviamente, aqui, o destaque absoluto é a performance de Geddy Lee, com direito a solo de baixo, que ele sempre improvisava ao vivo.

Half the World, a terceira música, apesar de ser bem comum, do ponto de vista do Rush, sempre foi uma das minhas preferidas do disco, porém, sou suspeito pra falar, era uma das que eu mais via o Neil Peart tocar no A Work in Progress, sei nota por nota na bateria. Mas, mesmo assim, fazendo uma análise imparcial, apesar de não ter nada muito absurdo de performance, é o tipo de música boa pro meio do disco. Relativamente curta (tem menos de quatro minutos), não deixa de ter uma virada aqui e ali, momentos de troca de tempo, mas mostra que a banda soube explorar o potencial e, ao mesmo tempo, provar que entende de pop, digamos assim. E, mais perto do final, tem um troço, meio mandolin, que o Lifeson toca na estrofe, que tem um som muito próximo do bouzouki, instrumento com o qual ele faz o solo de Workin’ Them Angels, do Snakes and Arrows.


Seguindo, temos The Color of Right. Com uma introdução poderosa, que é a mesma progressão do refrão, é outra música que me cativa, principalmente pela letra, uma das melhores do disco (e o truquezinho que o Peart faz pra virar a baqueta, quando para de conduzir no aro e volta pra caixa xD). Pra outros fãs de Rush, pode ser uma música comum, mas eu valorizo muito o refrão forte dessa música, e essa coisa da progressão do refrão ser mais sinistra enquanto a do pré refrão é reflexiva, mais um desabafo.

Se tem alguma música que lembra um pouco o Rush das antigas é Time and Motion. Confesso que não é das minhas preferidas, mas tem um instrumental beeeem sinistro e uma coisa meio circular, meio metida a progressivo, e a linha vocal do Geddy é sensacional. O interessante é que ela corta completamente o clima das primeiras quatro músicas, por ser mais pesada, mais sinistrona. Um destaque é a seção do meio, que mistura uma guitarra pesadíssima com uma outra com efeitos diferentes e calcada nas notas mais agudas, um jogo de pergunta e resposta sensacional.


A música seguinte é Totem, e bem diferente da sua antecessora, tem um clima de felicidade que perpassa por todos os seus quase cinco minutos. Não ouvia tanto ela, mas depois admiti que é um belo som, com outro bom refrão, e tem muito da pegada do Rush do Snakes and Arrows, na minha opinião. E posso afirmar que, apesar de novamente ser um solo curto, é um dos melhores do disco, além do pós solo, que Lifeson usa os harmônicos, dando aquela nostalgia (Red Barchetta, aquele abraço).

Dog Years, a sétima música, já foi mais agradável aos meus ouvidos. Gosto dela ainda, é claro, mas comparada às outras, acho que é uma das mais fracas, ou “menos fortes” do disco. Muita gente que curte Rush acha que essa letra é lamentável, comparada ao que o Peart já escreveu pra banda. Realmente, tem melhores, tanto de letra quanto da música em si, mas é uma música que dá pra ouvir bem de boas.

Mas, se tem um lado bom de Dog Years ser fraquinha, é que enaltece ainda mais Virtuality, a oitava música. Ao melhor estilo do Rush, com jogo de luz e sombra, um riff dos mais fortes do disco, a mescla com seções com uma pegada meio dance, uma letra decididamente mais interessante, sobre tecnologia e tals, e, pra mim, o maior destaque, a bateria genial do Peart, a melhor do disco. Vou inclusive deixar o vídeo abaixo, para que entendam do que estou falando.


E, como se já não fosse o bastante uma música mais pesada ser uma das melhores do disco, vem Resist, praticamente um poema que o Neil Peart. Definitivamente a melhor letra do disco, e uma das melhores do Rush, transformada em uma balada daquelas pras pedras chorarem. Com uma bateria simples, mas sem abrir mão de algumas características típicas do velho Neil, violão, piano, e, quando a guitarra entra pesada é pra contribuir com o clima da música. Perfeita, em todos os sentidos, principalmente no break, onde ficamos apenas com Geddy e alguns acordes de violão. E isso que essa é a versão de estúdio, ao vivo, na turnê do Vapor Trails, eles refizeram ela, uma versão apenas acústica, Geddy e Lifeson, dois violões e voz.


A penúltima música é Limbo, uma instrumental. Gosto bastante dela, principalmente porque Geddy, como de costume, espanca o baixo com maestria, mas acho que cinco minutos e meio foram um pouco de exagero deles. Se ela tivesse os quatro minutos de Leave That Thing Alone, seria mais apropriado. Perto do final, ela se torna muito repetitiva. Mas mesmo assim, é uma música interessante, com Geddy usando sua voz como um instrumento e a banda, como de costume, entregando um trabalho competente nos instrumentos. Peart, aliás, manda uma virada sensacional lá pelo meio da música, onde para tudo voltamos ao clima do início.

Sobre Carve Away the Stone, não tenho muito o que opinar. Nunca fui muito fã dela e até hoje continuo não sendo. Por mim, inclusive, o disco poderia terminar em Limbo, fechando 10 músicas. Talvez seja como Totem ou Time and Motion, que eu ainda não ouvi ou prestei atenção suficiente, mas acho que a banda poderia, se não tirá-la do disco, escolher uma música mais apropriada pro final. Apesar disso, não é uma música ruim, coisa que acredito não ter visto o Rush fazer ainda (se bem que tem Grand Designs e Madrigal).


        Por hoje é isso. Test for Echo, baita disco, complementado por uma bela capa e encarte, e mesmo pra quem torce o nariz um pouco pro que o Rush fez depois dos anos 80, duvido que com um pouco de paciência e boa vontade vocês não se rendam a esse disco e outros dos anos 90 e 2000. 

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