segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Café com Nata #3: Programado... para detonar

Ok, vou ser curto e grosso hoje. Já ficou bem claro que até o título da nova música do Metallica (com uma leve licença poética), lançada na última quinta feira, bem como a pegada do som, tem um marketing pesado por trás. Mas, sinceramente, eu acho louvável o que a banda se propôs a fazer. 

Pra começo de conversa, quem ainda não ouviu, que se habilite: 


Vejo que as opiniões tão bem divididas. Tem gente que achou a música uma bosta, bem como tem gente que achou que "estamos diante da melhor coisa que o Metallica fez em 25 anos". Eu, como ouvinte casual (mas nem tanto assim), mas ciente da história do Metallica, posso afirmar... MENOS, BEM MENOS. PROS DOIS CASOS. Hardwired é um belo som. Pesado, bem mixado (um há brasso pras latas de tinta do St. Anger, que NUNCA MAIS deram as caras), curto e agressivo. 

Muita gente tá metendo o pau porque é uma música que soa como mais do mesmo, picaretagem, esse tipo de coisa. Mas, sejamos justos, compará-la com coisas do Kill 'Em All e outros discos do início é sacanagem. Claro que, frente aos clássicos do início da banda, a música vai soar manjada, mais do mesmo, etc. Mas não soaria assim também se fossem aquelas composições de 8 minutos com uma seção lenta? E, sinceramente, eu acho MUITO pior a banda tentar soar épica e fazer uma música insuportável (alô, Death Magnetic, aquele abraço). No último disco, o Metallica colocou 10 músicas, mas a menor delas tinha 5 minutos. Na boa, a gente sabe que a banda meio que "perdeu a mão" nos últimos anos (e eu digo depois de 1997, porque gosto do Load e do Reload). 

Uma comparação que acho bem válida é com os Titãs. Os titânicos se perderam completamente após o bom (mas muito mais pesado que o usual) Titanomaquia. O Load é o Titanomaquia do Metallica. Depois a banda fez um disco meia boca, mas com algumas coisas boas (Domingo x Reload), um disco de covers (Garage Inc. x As Dez Mais), sofreu com uma perda (Newsted x Marcelo Fromer), fez um disco extremamente merda (Como Estão Vocês/Sacos Plásticos x St. Anger) e, aos pouquinhos, vem recuperando o respeito. 

Não coloco, nessa comparação, o Nheengatu no mesmo pé de Death Magnetic. Apesar de ser um disco cansativo, o Death Magnetic é razoável, trouxe um alívio depois da bomba que foi o St. Anger. O Nheengatu, por outro lado, mostrou uma banda bem calibrada, que acertou em cheio na volta dum som mais pesado, mas, ao mesmo tempo, mais enxuto, com uma banda menor. Nesse sentido, é cedo pra falar que o Hardwired... to Self Descruct vai ser tipo um Nheengatu pro Metallica? 

Com certeza. Só saiu uma música até agora, e que dividiu as opiniões de quem ouviu. Eu acho que tem tudo pra ser um disco mais forte que o seu antecessor, mas é cedo pra opinar. O que podemos falar é da música em si, o porquê de eu ter achado que o Metallica acertou em apostar num som curto e simples. 

Analisando objetivamente, o Metallica já é uma banda com bastante estrada, a energia dos caras não é a mesma e tals. Pra efeito da música, que tem uma batida bem acelerada, o único que sofre um pouco com essa parada da energia é o Lars. E, por incrível que pareça, gostei de ver o Lars nessa música. Vi muita gente criticando, que é uma batida simples, que a música é curta e o Lars não mostrou criatividade nenhuma. Assim... como posso explicar? 

DEIXA O LARS. Eu, como baterista, posso afirmar... Ele NÃO TEM CAPACIDADE de fazer algo diferente atualmente. Quando ele tenta inventar, como eu vi num comentário do youtube, sai alguma "merda aleatória", onde ele simplesmente tira a caixa do tempo certo e fode toda a música. Assim como foi no St. Anger. Então assim... vamos combinar que, pro efeito que a banda queria na música, a linha que o Lars criou funciona. Ele até acertou um bumbo duplo ali no final. 

Quando ao Rob não tem muito o que dizer, competente como sempre, fez uma bela linha. Kirk também não tem muito o que comentar, mas, ao contrário do Rob, de forma negativa. O solo ficou curto sim, e ele parou de solar no meio. Sei lá, o Kirk viaja às vezes. Nem vou entrar no mérito da qualidade do solo, sabemos que o forte do Kirk é o pé no Wah-Wah. 

Já Hetfield é o ponto forte da música. O riff provavelmente é dele, o que é muito bom. A letra eu achei meio simples demais, meio primitiva... pra quem está acostumado com as letras mais questionadoras e intimistas de James, soa meio tosco mesmo. Mas já que a música é simples e direta mesmo, vamos dar um desconto. Ainda mais que ele cantou muito bem, e isso temos que ressaltar... apesar da pior fase do Metallica ter sido durante o St. Anger, ao vivo a banda soou muito pior ali por 2009, 2010. Lars e Kirk estavam piores tecnicamente, James tinha perdido um pouco da potência da voz... lembro que ali o Metallica soava realmente ruim. 

O que me parece é que, atualmente, a banda se deu conta das suas limitações, seja pela idade ou pela pouca técnica. James recuperou a voz, ótimo, mas, com certeza, ele adquiriu alguma técnica ao longo dos últimos anos, para se poupar mais. Lars talvez finalmente tenha entendido que "menos é mais" (e isso se aplica MUITO no caso dele). Por esses motivos, acredito que sim, Hardwired... To Self Destruct tá, com o perdão do trocadilho, programado pra detonar.