segunda-feira, 11 de julho de 2016

Café com Nata #2: Epitáfio (ou Talvez o Pulso não Pulse mais)

Sérgio, Branco, Tony, Paulo, Charles, Nando, Marcelo, Arnaldo. 
Sérgio, Branco, Tony, Paulo, Charles, Nando, Marcelo.
Sérgio, Branco, Tony, Paulo, Charles, Nando.
Sérgio, Branco, Tony, Paulo, Charles.
Sérgio, Branco, Tony, Paulo.
Sérgio, Branco, Tony.

Parece até um poema concreto, algo do tipo, mas essas seis linhas representam, de forma bem simples e básica, a história dos Titãs até hoje. E, por mim, poderia ter terminado nessa quinta linha hoje, pois, de poema concreto, a história tá passando mais a um dadaísmo. Desconstrução. Destruição. 

Eu, bem como todo apreciador do trabalho dos titânicos (acredito), fui pego de surpresa com a notícia da saída de Paulo Miklos da banda. Justo o Miklos? O cara mais enérgico dos Titãs? Aquele cara que entregava performances sensacionais, dedicadas, de clássicos de 30 anos, como Bichos Escrotos e Diversão? Bem, ele mesmo. Acredito que pegou a todos de surpresa. Eu era um que achava que, a partir dessa última formação, a mais enxuta de todas (a da penúltima linha, mais o baterista, Mário Fabre), a banda não diminuiria mais, iria até o fim. Pensava que, dos oito iniciais, o que havia restado era a alma da banda.

Arnaldo, para mim, sempre se achou um pouco maior que a banda, mesmo que seja um grande compositor. Nando, talvez um pouco também, e talvez os anos, a maior maturidade tenham tornado ele mais "romântico" mesmo. Charles sempre foi o deslocado dos Titãs, apesar de fechar muito com o som da banda. Charles era o caretão, o "chato", o "foda-se". Saiu da banda porque disse que "era difícil envelhecer em uma banda de rock, e estava entrando em depressão". Logo após, formou o Panamericana, com relegados de outras gigantes do rock nacional, como Dé Palmeira, baixista do Barão Vermelho e Dado Villa-Lobos, guitarrista da Legião Urbana. Em outras palavras, Charles encheu o saco dos Titãs e quis sair. Não precisava dar o migué de envelhecer e tals, mas enfim.

Marcelo Fromer é a exceção. Marcelo era um cara muito fechado com a banda, muito brother mesmo. Se não tivesse morrido, eu tenho quase certeza que ele ainda estaria nos Titãs. E convenhamos, Marcelo na banda só teria o que acrescentar. Era um ótimo guitarrista, não tão exuberante e técnico, mas criativo. E a não-saída de Marcelo poderia ter impacto na permanência de Nando mais uns anos, enfim. Isso é papo para outra postagem. Vamos ao que interessa.

Desde 1982, quando os Titãs ainda eram Titãs do Iê-Iê e contavam não com Charles atrás do kit, mas sim André Jung, além de Ciro Pessoa nos vocais, já são 34 anos. É muito tempo. Desde 1985, ano da entrada de Charles, mais de 30 anos também. De lá pra cá, como vocês viram nas primeiras linhas da postagem, a banda não sofreu alterações na formação, apenas diminuiu de tamanho. Ok, numa banda com 8 integrantes, perder um dos TRÊS vocalistas (sem contar Nando e Sérgio, que também cantam), como foi com a saída de Arnaldo em 1992, não foi o fim do mundo. 

Já a morte de Marcelo em 2001 mexeu bastante com a estrutura da banda. Como disse, além dele ser o segundo membro a menos dos Titãs, praticamente levou junto Nando Reis, que, abalado com a morte do amigo e de Cássia Eller, amiga muito próxima, preferiu seguir seu caminho na carreira solo, saindo da banda no ano seguinte. Esses anos, de 2003 a 2009, foram bem nebulosos, digamos assim. A banda recorreu a músicos contratados, Emerson Villani e Lee Marcucci, continuou gravando discos fracos, o ritmo continuava dissonante. Se a saída de dois membros mexeu com a banda, essa mudança foi para pior. 

Até que, em 2009, os Titãs resolveram se livrar dos músicos contratados. Branco e Sérgio começaram a revezar as linhas de baixo, dependendo de quem canta a música, e Miklos assumiu a base nas seis cordas. Sacos Plásticos, do mesmo ano, foi um disco ridículo, ok, mas os shows começaram a ficar interessantes. A formação, mais enxuta, mais coesa, funcionou melhor ao vivo. Nem a saída de Charles, no início de 2010, abalou a banda. Logo após a entrada de Fabre, começou a turnê comemorativa de 25 anos do Cabeça Dinossauro, e muitas resenhas foram positivas a respeito. Pessoal realmente esperançoso que, após mais de 10 anos nebulosos, a banda poderia ter voltado nos trilhos. 

E Nheengatu só confirmou essa previsão. Pesado, visceral, com músicas curtas e diretas, foi um grande resgate de uma banda que, no final dos anos 80, foi certamente o maior expoente do rock nacional. Acho que isso, mais do que tudo, fere um pouco o fã da banda. Esperar que o pessoal abandone o barco na pior fase possível até faz sentido. Mas a banda lançar um grande material inédito, trazer uma grande turnê e, aí sim, uma das maiores referências dentro da banda sair, é triste. Com o agravante que foi o divisor de águas, em termos numéricos. 

Miklos foi a quinta saída dos Titãs. Nada contra Beto Lee, o músico contratado da vez, nem contra Mário Fabre, grande baterista (a Bruna até tem o par de baquetas do show de 2014), mas... agora eu acho que deu. Falo isso com dor no coração, Titãs é a minha banda nacional preferida. Só que dada a resistência da banda de admitir novas caras, não podemos dizer que menos da metade dos integrantes ainda é Titãs. Uma formação enxuta, com metade dos integrantes, cada um tocando um instrumento, tava show de bola. Foi uma das melhores fases. Já três integrantes é pouco. 

Esse tratamento que a banda dá a quem a acompanha na estrada é outro fator importante. Desde 1985, Titãs são aqueles oito e fim de papo. O que vier e dividir o palco com eles é agregado. E esse tipo de atitude não me agrada tanto. Esse é um dos motivos pelos quais apoio sempre o Deep Purple, contra as viúvas, mas acharia melhor o fim dos Titãs. No caso do Purple, a banda não teve NENHUM problema de dizer que Steve Morse, americano, 10 anos mais novo que os outros integrantes, É SIM um membro da banda, apesar de todo o peso de exercer a função que, outrora, foi de Ritchie Blackmore, uma das grandes lendas da guitarra, fundador do Purple. E o cara tá há 20 anos na banda, compõe, é amigo dos caras, é, de fato, parte da banda. 

Seria tão ridículo dizer que o Deep Purple, atualmente, é apenas Gillan, Paice e Glover quanto é os Stones "não terem baixista", pois Darryl Jones é apenas um músico contratado também, mesmo tendo 23 anos de casa. Além disso, o único integrante realmente FUNDADOR do Purple, atualmente, é Paice. Ou seja, os critérios seriam uns pra quem é mais antigo e outros pra quem é mais novo? Não, a banda está sendo coerente. 
Titãs de 2014: Bellotto, Branco, Sérgio e Miklos. Ao que parece, bateristas não são necessários...

Coerência que falta pros Titãs. Charles entrou lá no longínquo ano de 1985, consta como membro original. Fabre entrou em 2010. Diferente de Villani e Marcucci, ele É essencial para a banda, pois não sobrava gente para assumir as baquetas. Pois bem, Fabre já tem 6 anos de Titãs. Gravou disco de estúdio, gravou DVD de show. É tão membro quanto os outros para entrar na estética das máscaras do Nheengatu durante o show. Então por que ele não é um membro na hora de assinar um autógrafo? De constar, na formação, como um Titã? Se a banda acha que membro oficial é apenas quem tava lá desde 1985 (e é direito deles), eu, como fã, acredito que, tendo menos da metade dos membros, esse era o momento da banda optar pelo fim. Parar por cima. Não dar oportunidade de cair no ostracismo e nas críticas novamente. 

Certamente, se a banda tiver que se reunir de novo um dia, acontecerá. Seja pelos 35 anos do Cabeça Dinossauro, em 2021, pelos 40 anos de carreira, em 2022, qualquer coisa. Mas é preferível implodir agora, que está por cima, e se deixar ter a falta sentida, para poder voltar com tudo, com todos, com vontade de fazer música e de tocar junto, do que ir minguando desse jeito, morrendo aos poucos. Todos são competentíssimos. Branco gosta da área do cinema, Tony é um bom escritor, Sérgio tem uma carreira solo interessante, não sumiriam da mídia. Seria benéfico para eles experimentar a individualidade e deixar o coletivo, o titânico, para o momento adequado. 

De qualquer jeito, a obra, imortalizada, está aí, para todo fã. Não pretendo ir a um show da banda, pelo menos com essa formação. Se soubesse que o show do dia 1º, aqui em Porto Alegre, seria um dos últimos da banda com Miklos, teria ido, certamente. Mas já que a banda não vai optar por encerrar, pelo menos por enquanto, as atividades, desejo que tenham toda a força para superar esse momento e possam nos brindar com um material tão bom quanto foi Nheengatu. Juro que venho aqui me desculpar se isso acontecer. Acho que, parafraseando a banda, " não dá pra imaginar quando é cedo ou tarde demais pra dizer adeus". Nesse caso... 

VIDA LONGA AOS TITÃS!

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