quinta-feira, 29 de maio de 2014

sexta-feira, 23 de maio de 2014

On The Charts #7: Os 25 anos do The Miracle

E mais um grande disco (um dos meus preferidos também) fez um aniversário importante ontem. Confesso que desde o primeiro dia que eu criei essa seção de aniversários de disco, pensei quando o traria pro blog.

The Miracle, o penúltimo lançamento do Queen com Freddie Mercury em vida, e o antepenúltimo da banda, pura, limpa e sem misturas. O disco que retomou o respeito que a banda tinha (e que foi perdido após o Flash Gordon OST, Hot Space - embora eu não critique tanto esse disco, como podem ver aqui - e talvez possamos incluir The Works aqui. Mas por que o Miracle tem essa importância toda? Bom, vejamos a situação geral.

1986 foi o último ano que os fãs sortudos puderam ver o Queen ao vivo. A banda lançou o mediano A Kind Of Magic (sempre de cabeça nos sintetizadores e bateria eletrônica, como foi a tônica dos 80), e caiu na estrada. A Magic Tour foi a turnê mais "ostentação" do Queen. Uma porrada de equipamento, um palco gigante, só shows em estádios. 26 shows. De longe, não foram os melhores da carreira do Queen. Wembley, por exemplo, foi emblemático, mas Freddie, infelizmente, "matou" muitos agudos, cantando oitavas abaixo para sua cansada voz aguentar. A banda dava sinais de que deveria diminuir o ritmo, fazer os shows com maiores intervalos de tempo. Em vez disso, preferiram parar de vez.

Essa decisão fez com que todos duvidassem do futuro da banda, ainda mais depois dos boatos que já rolavam e que Freddie desmentia nos próprios shows. Somamos a isso as tragédias na vida de Brian May, Roger Taylor formando o The Cross, que tocou junto enquanto o Queen tirou essas "férias" e o diagnóstico de Freddie em 1987. Isso tudo teve uma influência muito grande no som do Queen nos anos posteriores, afinal, obviamente, a banda ia conseguir carta branca no estúdio de novo. Sem obrigações, sem turnês. Só ter a oportunidade de se manterem unidos e fazer música até Freddie partir. Mas chega de enrolação, vamos ao disco.

The Miracle começa com Party. Talvez a música mais fraca do disco, mas não porque ela é ruim. O disco em geral é muito bom, inclusive as músicas injustiçadas. Party tem um trabalho bem interessante de backing vocals. Freddie (e a banda) cantam aqui sobre uma puta festa que tava rolando. Sexo, guerra de comida e... é isso aí. Ao longo dos seus curtos dois minutos e vinte segundos de duração, May faz algumas poucas, mas precisas intervenções, e Deacon manda bem no baixo. E, quando parece que a tal festa vai acabar...

"Who said that my party was all over?" pergunta Freddie, emendando logo na segunda música, Khashoggi's Ship. Sonzaço. Primeira música mais pesada do disco, conta com um belo riff de Brian e a precisa batida de Roger. Na versão do Deep Cuts, adaptaram o início, colocando 4 voltas de bateria sozinha na introdução. No final, a música, que já era pesada, ganha velocidade, terminando de forma sensacional.

Após esse belo início, vem a sequência de clássicos do disco. Primeiro a faixa título, com sua esperançosa letra e instrumental matador. Como se não bastasse, a banda ainda adicionou duas seções distintas no final. O clipe dela é um dos melhores do Queen. Se bem que a maioria dos clipes do The Miracle estão bem afiados. Seguindo no disco, I Want It All. O grande clássico do disco. Uma das melhores e mais geniais músicas do Queen. Um riff fodástico de Brian, vocal sujo de Mercury e, no meio, muita velocidade, com May fritando como nunca. Uma curiosidade é que a única música na história do Queen que Roger usa pedal duplo no bumbo é essa.

Fechando o Lado A, The Invisible Man. Também é tida como uma das mais fracas do disco, mas eu discordo. Essa música tem um groove incrível. O baixo de Deacon está demais, o solo de May melhor ainda. Aliás, mais um solo muito rápido, pra quem acha que o Brian não era foda. Originalmente, o nome do disco era pra ser The Invisible Man mas, segundo Roger Taylor, três semanas antes do lançamento, mudaram pra The Miracle.

Abrindo o Lado B, Breakthru. Ainda que o baixo seja em sua maioria sintetizador, Deacon também tem seus momentos aqui. Apesar disso, quem brilha aqui é Mercury e May. Mais uma performance inspirada. O clipe dessa música também é muito legal. Interessante ressaltar que a introdução de Breakthru, feita com muito backing vocal, era outra música, A New Life Is Born. Se conhece mais ou menos um minuto e meio dessa demo.

Logo após, uma desconhecida, pra acalmar o coração. Rain Must Fall, uma música meio... estranha. A letra não é das mais inspiradas, a bateria eletrônica é quadrada demais.O baixo, porém é pulsante. Certamente colocaria uma das músicas que ficou de fora no disco, no lugar. Seguindo, Scandal. Outra ótima performance de Freddie e de Roger também. A banda soube explorar muito bem a equalização, sendo que boa parte do som da bateria é seu eco.

My Baby Does Me é a penúltima música do disco. É meio... muito estranha. Mas ela tem um feeling demais também. O baixo, os solinhos de Brian, a precisão entre guitarra e baixo. Só ouvindo pra entender. Aliás, falando em ouvindo pra entender...

Was It All Worth It. Sou suspeito pra falar, mas é uma música completa, é a melhor do disco, sem sombra de dúvidas. Começa de leve, e entra a porrada logo depois. No meio, uma seção de "bizarrices", quase música orquestrada, bom, sem palavras. Os fãs da banda me desculpem a ousadia... não, foda-se, sou muito fã deles também, posso falar tranquilamente. É a Bohemian Rhapsody da banda nos anos 80, guardadas as proporções, claro. Pra fechar o disco e, como era a probabilidade à época, a carreira do Queen com chave de ouro. Isso porque, se analisarmos sua letra, ela já tem um tom de despedida. Nada tão triste como The Show Must Go On, mas impactante também. Isso tudo porque a previsão era que Freddie não passaria do Natal de 1989. Incrivelmente, ele viveu até Novembro de 1991. E sim, Freddie, valeu a pena. Não tenha dúvidas disso.

The Miracle poderia ter sido um disco duplo. Pra quem não sabe, tem boas músicas que ficaram de fora. Outras demos, igualmente boas, sequer ganharam uma versão final. Confiram aqui.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

On The Charts #6: Os 45 anos do Everybody Knows This is Nowhere


Exatamente semana passada, 14 de maio, completaram-se 45 anos de um dos maiores clássicos de Neil Young. Everybody Knows This Is Nowhere, apesar de ser o segundo disco do compositor canadense, foi o primeiro a contar com a Crazy Horse, fiel escudeira até os dias de hoje. Com certeza isso fez o disco ter mais cara de "disco do Neil Young". Mais pesado que seu Debut, conta com uma qualidade de gravação superior também. Temos aqui um belo resumo do que Young viria a fazer nos 45 anos seguintes: hard rock, country elétrico e acústico e duas músicas com cerca de 10 minutos, abrindo espaço para longos improvisos.

Contra capa do disco
O disco começa com um dos maiores clássicos de sua carreira: Cinnamon Girl, pesada na medida, contando com belos riffs de guitarra. Sua letra romântica agrada em especial as meninas, acreditem. O final é simplesmente sensacional, com a guitarra, repetindo um riff e entrando em fade out. Seguindo, temos a faixa título, um country elétrico de fácil assimilação, contando com um trabalho bem forte de backing vocals. É uma música muito simples, inclusive em sua letra. Young fala sobre voltar pra casa, uma temática clássica do country, diga-se de passagem.

Round & Round (It Won't Be Long) inicia a sequência de músicas mais longas do disco. Apesar de não ser uma das músicas mais longas do disco, tem quase 6 minutos. 6 minutos de um country acústico, triste e claro como se Young cantasse ele na sua janela de casa. Impressionante a qualidade de gravação dessa música. Quem canta o backing vocal é Robin Lane. Pra fechar o Lado A, a primeira música de quase 10 minutos: a CLÁSSICA Down By The River. Um belo riff de guitarra, baixo pulsante, muitos solos. Só acho que o bateria podia investir numas viradas de vez em quando, mas não é muito a dele. Bom, é isso... solos. Pra quem curte um improviso, é um prato cheio. É tipo a versão de I Heard It Through the Grapevine do Creedence.

Abrindo o Lado B, The Losing End (When You're On), uma música que nos leva pro country. O tremolo dá um toque sensacional pra guitarra. Apesar de não ser tão lembrada, é uma bela música. Boa de ouvir, também é de fácil assimilação. Neil mostra todo seu feeling aqui, com um solo muito afudê. Já Running Dry (Rquiem for the Rockets) vai um pouco pelo caminho oposto. Um pouco triste, tanto na letra quanto no instrumental, conta com um também triste violino ao longo de seus 5 minutos e meio. A linha vocal de Young, no início das estrofes, me lembrou vagamente o "my girl, my girl" de Where Did You Sleep Last Night?. Seus últimos dois minutos são de um solo de violino e guitarra, com um feeling incrível. Talvez seja a música mais "experimental" do disco, brincando com diversos efeitos de guitarra. Provavelmente por isso seja a menos lembrada.

Pra fechar o disco com chave de ouro, a maior música do disco, Cowgirl In The Sand. Young começa palhetando algumas cordas sozinho, parecendo que nos daria mais uma música leve. Eis que entra bateria e baixo, e a música ganha velocidade (e mais um enfurecido solo de Young). Neil começa a cantar e a banda, consequentemente, segura um pouco a onda. Depois de uma estrofe, o peso pega de novo e temos mais um longo improviso. E como quase todas as músicas do disco, sua simplicidade é cativante. Logo após o solo, voltamos para mais uma estrofe, outro longo solo, outra estrofe e o último solo, encerrando o disco.

Everybody Knows é Neil Young "at best". Nada de músicas chatas, complicadas ou pesadas demais, com aqueles solos de parkinson de uma nota só. É feeling puro, é country, é hard rock. Pra agradar gregos e troianos. A questão importante do disco é essa. Não tem música ruim. O disco pode não agradar por completo alguém que goste de Neil Young, mas alguma música do disco vai cativar a pessoa.

Bom, era isso. Parabéns pelos 45 anos desse discaço. Amanhã, outro bom disco completa 25 anos. Sabem qual é?

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Especial Titãs #8 - Quinta Underground #23: Titãs (2ª Parte)

Prometi que não faria mais isso de postar um Quinta Underground na sexta, mas sempre tem que ter um bug, puta que pariu também. Troço chato.

Bom, continuando... essa é a última postagem do especial dos Titãs, que fez bastante sucesso até, especialmente a primeira postagem e a resenha do Nheengatu, que já são as duas mais vistas de Maio. E, na real, era pra resenha ser a última postagem do especial, mas não consegui fazer todo o Quinta Underground semana passada. Mas chega de enrolação e vamos terminar logo o especial.

O Fácil É o Certo, Filantrópico, Cabeça, Eu Vezes Eu, Flat-Cemitério-Apartamento, Não é Por Não Falar e Se Você Está Aqui (1991 - Tudo Ao Mesmo Tempo Agora)

Saia de Mim foi o único sucesso. Já Obrigado e Clitóris, as únicas que foram tocadas posteriormente. Eu Não Sei Fazer Música, foi recuperada muitos anos depois e voltou pros setlists. Agora, cantada por Miklos, ganhou até mesmo um cover de Maria Bethânia. Somamos a elas a fraca Uma Coisa de Cada Vez e a terrível Isso Para Mim É Perfume, temos as músicas que não fazem parte das "injustiçadas".
Fora a mixagem irregular e a simplicidade exagerada de algumas músicas (a contribuição das dorgas pro disco), Tudo Ao Mesmo Tempo Agora tem músicas boas, mas foi ofuscado pela crítica, que só olhou pras letras mais "podres" do disco.



O Fácil É o Certo - Como disse na postagem sobre a carreira deles, Sérgio, que nesse disco fez as melhores letras, retirou esse provérbio dos ensinamentos de Chung Tsu, pensador chinês do Século III a.C. Aposto que se fosse o Renato Russo fazendo essa citação, pagariam o maior pau, mas a música é dos Titãs.

Filantrópico - Uma boa oportunidade de conferir o vocal do Branco antes que a falta de fôlego pegasse ele. A letra é sobre as obrigações éticas e morais do ser humano de ser generoso e altruísta com os outros, em detrimento de sua própria paz de espírito. Como diz ele na música, "acumulando raiva e rancor".

Cabeça - Um bom instrumental, com um show à parte de Charles na batera, e na letra resta a dúvida... de qual cabeça Miklos está falando? Depois de analisar melhor a letra, concluí que pode não ser a de baixo, como se pensa.

Eu Vezes Eu - Um instrumental pesado, mas mais limpo que os outros do disco. Mais uma letra de Sérgio, um pouco mais reflexiva e filosófica.

Flat-Cemitério-Apartamento - Mais uma das tantas brincadeiras de Branco com as contradições.

Não É Por Não Falar - Apesar do teclado bem estranho, é uma boa música. A letra aqui soa mais como um jogo de palavras do que qualquer outra coisa.

Se Você Está Aqui - Sinceramente, Nando não fez uma letra que prestasse nesse disco. Mas o instrumental dela é um dos melhores do disco. Acho que só perde pra Saia de Mim.

Disneylândia, Estados Alterados da Mente, Agonizando, Fazer O Quê?, Tempo Pra Gastar, Dissertação do Papa Sobre O Crime Seguida de Orgia.

Titanomaquia tem muitas músicas boas e pesadas. Difícil escolher as que se destacam, porque o disco tem uma unidade muito grande. Só o que sei é que as que foram tocadas recentemente não entram, porque não são injustiçadas.

Disneylândia - Titãs falando de globalização antes de aparecer em qualquer sitezinho por aí. Caiu no ENEM do ano passado, e é uma das preferidas dos professores de Sociologia para debater o tema da globalização.

Estados Alterados da Mente - Coisas do Branco. Mas o instrumental é muito foda.

Agonizando - A música mais metal dos Titãs. Nunca mais eles vão fazer algo tão pesado quanto isso. Beira o grindcore.

Fazer O Quê? - Depois de uma introdução que parece mais uma sonoplastia, daquelas cenas dramáticas de filme, tipo a Marcha Imperial, mais peso.

Tempo Pra Gastar - Apesar de pesada, ela soa até um pouco funkeada, mais leve que as outras do disco.

Dissertação do Papa Sobre O Crime Seguida de Orgia -  Ao melhor estilo Disneylândia, Violência, entre outras, Branco narra aqui várias situações de crime, assassinato, violência, etc.

Tudo em Dia, Eu Não Vou Dizer Nada (Além do Que Estou Dizendo), O Caroço da Cabeça, Qualquer Negócio

É muito difícil encontrar músicas realmente injustiçadas no Domingo. Fora os sucessos, o disco é composto em sua maioria por músicas medianas. Bem medianas, por sinal. Esse disco me soa como um Chinese Democracy dos Titãs. Faltou criatividade, sobrou produção e o resultado não foi nem perto do que foi o Titanomaquia. Ainda assim, temos umas joias no meio.

Tudo Em Dia - Contribuição de Arnaldo. Não poderia deixar de ser uma música foda.

Eu Não Vou Dizer Nada (Além do Que Estou Dizendo) - A leveza que faltou nos discos anteriores. Mesmo o disco todo sendo uma porrada, falta uma musiquinha no meio, que seja um pouco mais funkeada, pra dar um tempo na loucura. Tipo Canalha, no Nheengatu.

O Caroço Da Cabeça - Cantada por Nando, tem o toque Paralamas do Sucesso que veio junto com a participação de Herbert Vianna na música.

Qualquer Negócio - Formada por conhecidas frases do comércio e da vida em geral, como "o que os olhos não veem, o coração não sente". É uma reflexão interessante. Ahh, Branco, como sempre, entra no meio e narra umas bostas. Branco também cita algumas frases da música no início do clipe de Isso.

Bônus - Vamos Ao Trabalho e Cuidado Com Você

Sinceramente, os discos que vieram depois são tão fracos que vale a pena somente separar as músicas que prestam e colocar como um bônus. E esses são os únicos dois lampejos de "Titãs das antigas" que vi no A Melhor Banda de Todos Os Tempos da Última Semana. Aliás, Vamos Ao Trabalho é um baita bote, porque o disco começa com ela, e quando parece que a coisa vai pegar preço, vem a faixa título, que é boa, mas muuuuito popzinha. E aí só vai ladeira abaixo. E pra fechar o disco, Cuidado Com Você ainda dá uma levantada na coisa, talvez até dando uma esperança pro próximo disco. E aí vem o Como Estão Vocês?, pra enterrar de vez as esperanças. Ainda bem que com o Nheengatu, a banda vai recuperar seu respeito perdido na estrada.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Especial Titãs #7 - Resenha #9: Titãs - Nheengatu

Depois de muita espera, saiu o disco novo dos Titãs. E com ele, voltou o respeito pela banda. Como dito exaustivamente nas últimas seis postagens, a banda estava em um período coxinha de sua história desde o Acústico MTV até o lançamento do Sacos Plásticos. Após isso, a saída de Charles da banda e, segundo eles, "a experiência de tocar o Cabeça Dinossauro na íntegra ao vivo" deram uma balançada nas coisas, e a banda enveredou pelo lado mais pesado novamente.

Nheengatu soa quase como um disco conceitual. Muitas letras de teor pesado, críticas, ácidas, que variam desde a chegada dos portugueses do Brasil até os dias atuais, protestos e abuso de poder das forças policiais. Aliás, tema muito bem retratado na música que abre o disco, Fardado. Pesada, com uma estrutura semelhante com Será que É Isso que Eu Necessito? (em relação a estrofes e refrões), faixa de abertura do Titanomaquia, de 1993. Fardado também é cantada por Sérgio Britto, que predomina nos vocais durante do disco. São seis músicas cantadas por ele, contra quatro de Miklos e quatro de Branco. Além da faixa de abertura, outras três não foram tocadas durante a turnê do Titãs Inédito: Cadáver Sobre Cadáver, Pedofilia e o belo cover da banda para Canalha, de Walter Franco.

Versão picareta especial de Nheengatu
Seguindo no disco, temos Mensageiro da Desgraça. Não me cativou como as outras, mas é uma boa música. Um pouco mais difícil de assimilar, assim como as outras músicas cantadas pelo Miklos. As letras dele, em geral, são mais metafóricas e reflexivas, diferente das do Sérgio, que são mais "dedo na cara" e as do Branco, que brincam sempre com contradição e descrição. República dos Bananas, terceira música do disco, é um bom exemplo. Ao longo da letra, Branco nos relata situações cotidianas das pessoas que compõem as "bundas e caras da República dos Bananas". Um ska, mais pesado que um ska comum, mas mais leve do que as duas primeiras músicas.

A quarta música do disco é uma velha conhecida dos frequentadores dos shows da banda. Fala, Renata, com uma letra incrivelmente simples, pode ser interpretada como uma crítica à futilidade das conversas das pessoas. Pesada em sua essência, tem uma seção no meio de um solinho de teclado onde a levada lembra até um, sei lá, forró. Não é das minhas preferidas, mas é legalzinha até.

Após Fala, Renata, temos a sequência de músicas que eram desconhecidas do público. Cadáver Sobre Cadáver apresenta uma parceria de Miklos com... Arnaldo Antunes na composição. Sim, até hoje a banda visita Arnaldo pra fazer umas músicas junto com ele. E se pararmos pra pensar, é a música que tem a cara dele mesmo. A letra é cheia de jogos de palavras. Confesso que não gostei muito na primeira audição, e é uma das mais "estranhas" pro meu ouvido, porque ela é bem engessada, sempre com o mesmo andamento, parecendo mais um cântico de protesto. Mas é inegável o valor crítico de sua letra.

Diferentemente das músicas do Miklos, as do Branco estão sensacionais. Retas, fáceis de assimilar, confesso que me surpreenderam. Canalha, apesar de ser apenas um cover de Walter Franco, ficou muito boa. Pesada, dá um tempo na loucura do começo do disco, por ser mais arrastada. Além disso, o teclado do Britto ficou com um quê de No Quarter, dando um toque muito afudê pra música. Forte candidata a uma das melhores do disco. E ainda bem que ela está ali, sexta música, porque logo depois vem Pedofilia.

Pedofilia tem uma pegada ao melhor estilo Tudo Ao Mesmo Tempo Agora. Suja, agressiva, talvez a letra mais pesada do disco, mostrando a visão "da criança" (claro, com a interpretação do adulto sobre o depois da situação). Sem falar na ponte no meio, só baixo e o tecladinho sinistro. Logo após, temos Chegada ao Brasil (Terra à Vista). Pra quem foi no show, era só Terra à Vista. Fiel ao arranjo original, também é uma das melhores do disco. Reta, pesada e com um trava língua no refrão, que inclusive o Branco errava às vezes nos shows.

Eu Me Sinto Bem é a nona música do disco. Música que abriu os shows do Titãs Inédito, é um ska mais leve também, apesar de bem acelerado. Aqui, Sérgio critica, talvez, a comodidade das pessoas, de simplesmente se sentirem bem em não ter nada para fazer. Seguindo, Flores Pra Ela. Me lembro que quando Miklos anunciou ela no show aqui em Porto Alegre, o pessoal vibrou, achando que era Flores, e era bote. Flores Pra Ela também tem um teor bem ácido na letra. Começa levezinha no instrumental, e depois o pau come solto. E mostra uma relação patriarcal, onde ele manda e desmanda nela e ela aceita. Uma crítica ao machismo? Provavelmente. O solo do Bellotto tá bem legal nessa.

Entrando na reta final do disco, Não Pode. Sérgio, direto como sempre, criticando as supostas "regras de comportamento" na sociedade. O instrumental é muito bom, um dos melhores do disco. Senhor, que vem logo depois, critica a igreja. Tem gente que acha que a música lembra Igreja, do clássico Cabeça Dinossauro. Não vejo por esse lado. A letra é bem mais leve, encarando o lado dos medos que colocam em nossas cabeças, diferente de Nando, que já manda direto um "eu não gosto de madre/não gosto de padre/não gosto de frei". Parece uma crítica melhor construída. Baião de Dois é a penúltima música. Não gostei dela no show e continuo sem gostar muito no disco, ainda que tenham dado uma melhorada no arranjo dela. Sei lá, ela me soa meio vazia ainda. Talvez eu acabe me acostumando.

Pra fechar, Quem São os Animais?, uma música que até parece mais leve que as outras 13, mas a letra mostra um tema atual como nunca. Racismo, homofobia, preconceitos em geral, proferidos pelos ditos seres "racionais"... no fim a gente para e pensa, quem são os animais? Uma das melhores do disco também, e não lembrava que o instrumental dela era bom assim.

Fazendo um apanhado geral, Nheengatu tá mais pra um Titanomaquia com Domingo do que pra Cabeça Dinossauro com Õ Blésq Blom, como a banda disse. De Blésq esse disco não tem nada, é porrada o tempo todo. Aliás, qual não foi minha satisfação quando o Sérgio respondeu isso pra uma mina no Twitter dele. Ela perguntou se teria algo mais suave e intimista no disco e ele "não, só tem porrada".
Nheengatu é isso, é porrada, letras pra fazer a gente pensar. Digo que ele tem uma mescla de Domingo na receita porque, obviamente, algumas músicas são inferiores e talvez caiam no esquecimento, mas no geral, Titãs como não se via há muito tempo. Mesmo com metade do time, mostraram que o pulso ainda pulsa.


terça-feira, 13 de maio de 2014

Especial Titãs #6: Os integrantes (Parte 2)

Hoje, como prometido, a antepenúltima postagem do especial, trazendo os membros que tocam até hoje na banda.
Esse cara abala as ppks, de tanta beleza -sqn
Paulo Miklos - O "multifacetário". Conhecido por suas caretas no palco, Miklos nasceu em 21 de Janeiro de 1959, São Paulo, capital. É o membro mais velho dos Titãs. Mais feio também. Quiçá da música brasileira em geral. Não, talvez o Milton Nascimento ganhe. Enfim.
Antes de entrar pros Titãs, Miklos também fez parte da Sossega Leão, banda que Nando Reis era percussionista. Tem dois discos solo, um homônimo, lançado em 1994, e Vou Ser Feliz e Já Volto, lançado em 2001. Além disso, já fez diversas participações como ator em novelas e filmes, e apresentava o Paulo Miklos Show entre 2012 e 2013 (inclusive se auto entrevistou, junto com os outros 3 titãs remanescentes, sobre os 25 anos do Cabeça Dinossauro). 
Miklos já tocou baixo (quando revezava com Nando as 4 cordas), sax e teclado (na época da formação clássica) e atualmente é guitarrista base. Assina na composição de alguns sucessos da banda, como Pavimentação, Miséria, Flores, entre outros. 

Assim como o Nando, foi osso achar uma foto decente
do Branco. Ele tem que parar de fazer preenchimento, na boa.
Ele tá ficando com cara de velha vesga.
Branco Mello - O "mais titã dos Titãs". Nasceu em 16 de Março de 1962, São Paulo, capital. Na formação atual da banda, é o caçula. Antigamente era o mais inútil só vocalista, mas atualmente é o baixista da banda. Conhecido por seu cabelo de urso do cabelo duro e sua voz limpa (atualmente, porque não tem mais fôlego) com sotaque forte de paulista, Branco é o cinegrafista da banda. Sempre metido na dobradinha música/filme, Branco registra momentos dos Titãs desde 1986. São mais de 100 fitas, que terminaram virando o documentário A Vida Até Parece Uma Festa. Inclusive, ele aparece filmando Bellotto durante algumas músicas no MTV Ao Vivo. 
Branco assina alguns sucessos como Sonífera Ilha, Cabeça Dinossauro, 32 Dentes, Nem Sempre se Pode Ser Deus, Tudo o Que Você Quiser, Turnê e outros. Ahh, ele também aSSAssina alguns outros sucessos de outros vocalistas atualmente, tipo Lugar Nenhum e Marvin. Mas assassina valendo.

Tony Bellotto - O "marido da Malu Mader". Ok, o apelido foi só uma zoera. Nasceu em 30 de Junho de 1960, São Paulo, capital. Antes dos Titãs, tocou com Branco e Fromer no Trio Mamão e as Mamonetes. Tony sempre foi o guitarrista solo e, junto com Fromer, formava uma dupla muito forte na composição das harmonias. Não é de se admirar que o instrumental da banda não seja tão bom hoje em dia. 
Alguns exemplos de músicas que levam seu crédito são Sonífera Ilha, Televisão, Pra Dizer Adeus, Polícia (composta inteiramente por ele), Família, Lugar Nenhum, Flores, O Pulso, Domingo, Isso, entre outras. 
Além disso, já publicou alguns livros, que foram adaptados para filmes. 

Sérgio Britto - O "bad boy". Não que os outros Titãs não quisessem parecer bad boys também, mas Sérgio era mais loco que o bátima, pelo menos no começo dos 90. Nasceu em 18 de Setembro de 1959, Rio de Janeiro, capital. É o único titã carioca. Conhecido por seu vocal gritado e agressivo, Sérgio é também o tecladista, baixista (quando Branco canta algumas músicas) e o baladeiro, afinal, Epitáfio e Enquanto Houver Sol são crias dele. Ainda assim, nem esses escorregões tiram seu mérito na banda. A maioria dos sucessos dos Titãs passam por sua mão, tipo o que o Arnaldo fazia. Go Back, Insensível, AA UU, Porrada, Bichos Escrotos,  Homem Primata, Comida, Diversão, Desordem, Lugar Nenhum, Miséria, Flores, 32 Dentes, Será que É Isso que eu Necessito?, Nem Sempre Se Pode Ser Deus, Domingo, Tudo o Que Você Quiser, Turnê, entre outros. Pode escolher.
Além disso, Sérgio tem alguns discos solo. A Minha Cara, lançado em 2000, Eu Sou 300, lançado em 2006, SP55, lançado em 2010, e Purabossanova, lançado em 2013. 

Bom, galera, por hoje era isso. Amanhã sai a resenha do belo novo disco, Nheengatu, e Quinta, a última parte do Quinta Underground, fechando o nosso especial titânico. Valeu!

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Especial Titãs #5: Os integrantes (Parte 1)

Bom, depois de 3 dias sem postagem, voltei pra terminar o especial. Ainda teremos mais uma, sobre o novo disco, a segunda parte dessa aqui e o Quinta Underground, parte 2. Hoje é só uma passada rápida na carreira dos integrantes. No caso dessa postagem, os quatro que saíram. Os quatro atuais ficam pra próxima.

Arnaldo perdeu o espírito dos Titãs quando começou
a pentear o cabelo.
Arnaldo Antunes - O "louco". Criativo e irreverente, nasceu em 2 de Setembro de 1960, São Paulo, capital. Em 1978 ingressou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, largando, posteriormente, pelos Titãs (provavelmente isso influenciou muito em suas letras). Esteve na banda no período de 1982 a 1992, contribuindo em todos os lançamentos da banda nesse período.
Alguns dos maiores sucessos da banda, apesar de não serem cantados por Arnaldo, levam seu crédito na composição. Peças como Família, Bichos Escrotos, Cabeça Dinossauro, Miséria, entre outras, até mesmo quando já não estava mais na banda, como Disneylândia, do Titanomaquia. Após 1992, voltou-se para carreira solo. Participou da turnê do Acústico com os Titãs, e até hoje participa de alguns shows. Sua saída da banda foi amigável.
Lançou em 2002, junto com Marisa Monte e Carlinhos Brown o Tribalistas, trabalho do grupo homônimo, e tem diversos livros publicados, além de já ter sido VJ.

Esclarecidas as dúvidas sobre o
guitarrista gourmet?
Marcelo Fromer - O "quieto"/o "guitarrista gourmet". Nasceu em 3 de Dezembro de 1961, São Paulo, capital. Antes de entrar nos Titãs. foi integrante do Trio Mamão e as Mamonetes, onde tocava junto com Tony Bellotto e Branco Mello. Apesar de ser o menos lembrado do grupo, Fromer tinha um papel essencial. Não só por ser o guitarrista base, mas também por ser um dos grandes responsáveis da parte da harmonia. Muitas canções de sucesso da banda levam seu crédito. Sonífera Ilha, Televisão, AA UU, Homem Primata, Comida, Desordem, Lugar Nenhum, O Pulso, entre outras que não foram sucessos. Provavelmente nunca estava lá pelas letras, mas sim pelo instrumental, que também é uma parte importantíssima da banda.
Esteve nos Titãs no período entre 1982 a 2001. Além disso, era colunista da Folha de S. Paulo junto com Nando Reis, outro são-paulino fanático, e em 1999 lançou seu livro gastronômico Você Tem Fome de Quê?. Teve sua vida abreviada após ser atropelado por um motoqueiro enquanto praticava cooper.

Foi osso achar uma foto decente do Nando.
Nando Reis - O "ruivo". Nasceu em 12 de Janeiro de 1963, São Paulo, capital. Caçula dos Titãs, era originalmente vocalista e, quando Miklos cantava, baixista. Prova disso é que só umas 4 músicas tinham o baixo tocado por ele no debut. Esse número aumentou para 8 no Televisão e, a partir do Cabeça Dinossauro, Nando virou o baixista oficial. Seu timbre característico, agudo, obriga os companheiros de banda a cantarem suas músicas, como Família e Marvin, alguns tons abaixo. Infelizmente, seu comprometimento com a banda a partir de 1992 foi muito pequeno, comparado com a carreira solo. Isso porque, diferentemente de Arnaldo, que anunciou logo quando quis sair, Nando permaneceu na banda como uma carta fora do baralho desde o Titanomaquia, de 1993, até sua saída oficial, em 2002.
A prova disso é que poucas canções (ou quase nenhuma) suas foram sucesso nos discos seguintes, diferente de Igreja, Homem Primata (que leva sua assinatura na composição), Diversão (mesmo caso de Homem Primata), entre outras. Talvez Turnê, que leva sua assinatura, e O Mundo É Bão, Sebastião! (e isso porque essa última é tocada até hoje em seus shows).
Enfim, no meio da turnê do A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana, Nando largou da banda, deixando seus colegas meio putos com essa situação. Tanto é verdade, que até hoje sua relação com a banda não é tão amigável quanto a de Charles ou Arnaldo. Charles, estando 4 anos fora dos Titãs, já participou de dois shows. Nando, só de um. E isso, porque tinha show solo e não quis adiar. Atualmente, segue sua bem sucedida carreira solo com sua banda, Os Infernais, cantando suas canções extremamente românticas. Beeem parecidinho com o mesmo cara que falava "amor, quero te ver cagar" nos Titãs, não?

Policial aposentado... aushuahsuhauha
Charles Gavin - O "motor". Nasceu em 9 de Julho de 1960, São Paulo, capital. Foi o único membro dos Titãs que entrou depois do lançamento do primeiro disco. Antes, havia tocado com Ira! e RPM. Ira!, aliás, foi o destino de André Jung, o fraco batera que tocou nos Titãs entre 1982 a 1984. Charles ficou na banda de 1985 a 2010. Saiu porque já se sentia deprimido com essa rotina de discos e turnês (segundo ele, "é muito difícil envelhecer numa banda de rock"). Na real, acho que ele tava deprimido com os discos merda que a banda lançou em 2003 e 2009, porque seguiu carreira na música sem problemas.
Apesar de (como, injustamente, a maioria dos bateristas) não ser muito lembrado, Charles tinha seu estilo próprio, com rapidez, destreza e, quando necessário, sobriedade. Aliás, falando em sobriedade, ele era o caretão dos Titãs nos anos 80 e 90. Ele mesmo fala no documentário da banda "meu primeiro drink, minha primeira vodka foi com 31 anos. Antes disso era só suco de laranja". Branco respondeu "é, não sei como ele entrou na banda". xD
Além disso, Charles também era importante nas composições. Acredito que poucos sabem, mas ele compôs SOZINHO Estado Violência. Uma das melhores músicas da banda. Além disso, outros sucessos como Desordem, Lugar Nenhum, Flores, Tudo o Que Você Quiser e Turnê levam sua assinatura na composição.
Atualmente, Charles toca com o Panamericana, um supergrupo nacional que também conta com Dé Palmeira, antigo baixista do Barão Vermelho, e Dado Villa-Lobos, antigo guitarrista da Legião Urbana. Tão pra lançar um disco esse ano, com versões em português de clássicos argentinos e uruguaios. Além disso, apresenta o Som do Vinil no Canal Brasil, com discos clássicos da música nacional.

Bom, acho que era isso. Amanhã, um perfil dos membros remanescentes da banda. Além disso, ainda vai ter a segunda parte do Quinta Underground e, pra fechar o especial, resenha do disco novo. Não esqueçam de curtir a página do blog no facebook. Valeu!


quinta-feira, 8 de maio de 2014

Especial Titãs #4 - Quinta Underground #22: Titãs (1ª Parte)

E o nosso especial segue, agora com um velho conhecido do blog, que anda adormecido. Como todas as bandas, o Titãs também é uma banda que tem ótimas músicas pouco lembradas. Como a história da carreira completa da banda vocês podem encontrar nas três postagens anteriores, vou direto ao ponto.

Babi Índio e Balada Para John e Yoko (1984 - Titãs)

Confesso que escolher músicas boas desconhecidas do debut da banda não é tarefa fácil. Nem o arranjo das conhecidas era decente. Todos sabem que as versões de sucesso de Marvin, Sonífera Ilha, Go Back, Toda Cor e Querem Meu Sangue são as que vieram depois, com um maior amadurecimento musical da banda. Mas tem duas músicas que até podem soar bobas, mas são legaizinhas.

Babí Índio - Mais ou menos grudenta. Além disso, Branco manda bem aqui.

Balada Para John e Yoko - A letra é uma bosta, mas vale pelo instrumental, bem fiel à original.

Pavimentação, Tudo Vai Passar, O Homem Cinza e Autonomia (1985 - Televisão)

Já aqui é mais fácil de falar alguma coisa. A banda mostrou uma bela evolução no seu segundo disco, ainda que não tivesse atingido um ponto máximo (e que pra mim também não aconteceu no Cabeça Dinossauro. A banda só ficou craque mesmo nos arranjos a partir do Jesus Não Tem Dentes). Além disso, muitas músicas desse disco ficaram paradas no tempo, ou foram tocadas até poucos anos depois do lançamento e esquecidas.

Pavimentação - Um bom exemplo do que eu disse antes. Não foi lançada em single, mas foi tocada até início dos anos 90. Hoje em dia, ninguém lembra dela. Injustiça. Já a TERRÍVEL Dona Nenê eles andaram tocando até ano passado.

Tudo Vai Passar - Pela letra, uma baladinha. Pelo instrumental, um rockzinho. Bem legalzinho.

O Homem Cinza - Uma das melhores músicas dos Titãs. Queria que o Nando tivesse tocado ela no show que ele fez aqui em Porto Alegre. Acredito que sequer tenha sido tocada ao vivo, o que é um crime. Tem uma divertida letra e um arranjo sensacional.

Autonomia - Um riff decididamente punk. A letra, sobre o dilema entre jovens, pais e a autonomia. E, de brinde, um Miklos com voz de Sérgio Britto, o que acontece às vezes em estúdio, de ambos os lados.

A Face do Destruidor, Tô Cansado e Dívidas (1986 - Cabeça Dinossauro)

É realmente difícil encontrar músicas desconhecidas num disco tocado à exaustão, por isso peguei as que foram menos tocadas até hoje ao vivo.

A Face do Destruidor - Mais como uma brincadeira mesmo, onde experimentaram uns efeitos de reverter a track instrumental e etc. Até era tocada nos anos 90 com um arranjo mais "normal", mas na turnê de 25 anos do Cabeça, eles tocaram ela como tem que ser.

Tô Cansado - Uma das três músicas do Branco no disco. Duas estão aqui, e a outra é a faixa título. Difícil entender porque não gosto tanto assim dele?

Dívidas - Pelos dados no setlist.fm, muito provavelmente ela foi pouco tocada na época do lançamento do disco e foi mais lembrada agora, quando eles tocaram o disco na íntegra. É uma boa música, é meio que um ska. Tipicamente paulista, falando de economia :D

Corações e Mentes, Infelizmente, Mentiras e Armas Pra Lutar (1987 - Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas)

Tão difícil quanto escolher as do Cabeça é escolher as desse disco. Fora os quatro hits, o resto do disco se divide em músicas que soam mais como vinhetas quase sem letra (pra quem não é fã soa como uma encheção de linguiça do caralho), e outras mais, digamos, "normais".

Corações e Mentes - Uma música que já existia antes do disco ser lançado. Era tocada na turnê do Cabeça Dinossauro e, inexplicavelmente, saiu do setlist depois do lançamento do Jesus. Com um ótimo andamento, cheia de efeitos eletrônicos, mas soando natural. Seria épico ver ela ao vivo hoje em dia.

Infelizmente - Aqui temos um exemplo das "músicas vinheta". Nando reis segura praticamente duas notas em toda a música, que dura apenas um minuto e meio. A história que Sérgio canta durante ela, porém, é interessante.

Mentiras - Cantada por Sérgio, e não por Miklos, como pensava antigamente, curta, mas pesada.

Armas Pra Lutar - Branco quase cuspindo os pulmões pra fora nessa música. Nem fudendo que eles tocam ela hoje em dia, ele não tem mais fôlego pra cantar assim.

Miséria, Racio Símio, O Camelo e o Dromedário, Palavras, Medo, Faculdade e Deus e o Diabo (1989 - Õ Blésq Blom)

Esse disco sofre do caso muito comum de uma ou duas músicas serem hits tão grandes que o resto fica ofuscado. Eu até não ia incluir Miséria aqui, por ter sido single e estar em evidência na época do acústico, mas aí eu parei pra pensar e... bom, já faz tempo pra cacete desde o acústico. Já 32 Dentes eu deixei de fora porque eles andaram tocando ela na turnê do Inédito.

Miséria - Uma Diversão aprimorada. Com letra forte, o jogo de "ping-pong" dos sintetizadores de bateria entre os lados do falante são cativantes. Os teclados, idem. Acredito que esse seja o disco mais inteligente dos Titãs em relação a letra. A parceria definitiva entre Titãs e Liminha.

Racio Símio - Cantada por Nando Reis, mostra divertidas afirmações do dia-a-dia, como "é dos carecas que elas gostam mais", "a soma do quadrado dos catetos é o quadrado da hipotenusa" e "quem come prego sabe o cu que tem".

O Camelo e o Dromedário - Uma das músicas mais zuadas da banda. Cantada por Miklos. O baixo do Nando tá sensacional aqui.

Palavras - Um jogo de palavras sobre... palavras. Coisas do Sérgio.

Medo - Reta, rápida e berrada por Arnaldo. Dá uma sensação de velocidade e claustrofobia.

Faculdade - A outra música do disco cantada por Nando. Faz um divertido jogo de palavras com vocábulos tipo o do título da música.

Deus e o Diabo - Mais uma das "maluquices eletrônicas" da banda. O solo parece uma metralhadora espacial ou algo do tipo. Mas é muito foda.

Bom, era isso. Aliás, por hoje era isso. Prometi 4 e entreguei 3. É a vida :P mas não estaria certo se o Quinta Underground saísse na sexta mais uma vez.

Especial Titãs #3: A banda (Parte 3)

Como eu disse antes, agora a coisa começa a desandar. Depois de quase 15 anos tocando, fazendo sucesso, suportando a saída de um dos principais compositores e membros da banda sem perder o prestígio, eis que os Titãs têm a ideia "genial" de fazer um acústico.

UM ACÚSTICO. O símbolo da modinha, do "se vendeu" e otras cositas más. E o Titãs vestiu a camiseta como nenhuma outra banda. Por que isso?

Simplesmente porque todas as bandas que fazem essa palhaçada esse tipo de show, vão lá, fazem o show e era isso. Charlie Brown Jr, as bandas gaúchas, o Engenheiros do Hawaii, todos eles. Menos os Titãs. A ÚNICA banda que eu conheço que fez uma "Turnê Acústico MTV" foram os Titãs. Durante final de 1996, 1997 e um pedaço de 1998, quem queria ver a banda, aquela mesma, dona de hits como Polícia, Lugar Nenhum, Bichos Escrotos, ia se decepcionar profundamente.

E uma das coisas que mais dá raiva da banda é isso. A maneira que eles trataram o Acústico. Como se não bastasse, um ano depois, em 1998, lançaram o Volume Dois, adivinhem só? Uma coletânea de regravações de hits anteriores. Apesar de conter uma versão interessante de domingo (preguiçosa como o próprio) e o já citado (na primeira postagem) rearranjo de Sonífera Ilha, é um disco dispensável. Ainda por cima, veio nesse disco o cover de É Preciso Saber Viver, que dá uma mostra de como a banda está acomodada e satisfeita com a situação, afinal, a grana segue entrando.

Titãs sem Nando: um quinteto
E é bem como diz na página da banda na wikipédia. "Novos fãs, novas críticas". Enquanto as donas de casa e mulheres em geral, atraídas por esse lado baladinha da banda, viraram fãs deles, os seus verdadeiros fãs, que queriam ver as porradas de sempre no palco, simplesmente pegaram nojo dessa fase da banda. Comigo não é diferente. Pra mim, a ordem cronológica dos discos de estúdio da banda vai até o Domingo e dali pula direto pro A Melhor Banda de Todos Os Tempos da Última Semana. Mas continuando na década de 90, como se não bastassem todas essas cagadas, a banda grava o As Dez Mais, que, até a época, era o pior disco da banda, disparado. Só o cover de Aluga-se se salva.

Seguem-se mais shows entre 1999, 2000 e 2001. Eis que a banda para pra gravar o novo disco e, durante os últimos ensaios antes de entrar em estúdio pra gravar, Marcelo Fromer é atropelado por um motoqueiro e morre dois dias depois. As imagens de Marcelo no seu último ensaio com a banda, acertando as guitarras em O Mundo é Bão, Sebastião!, estão inclusive no documentário A Vida Até Parece Uma Festa.

Não é preciso ser um gênio pra imaginar que a perda de Marcelo fez muita falta pros Titãs. Primeiro, porque ele era o responsável pelas harmonias, junto com Bellotto. Segundo, porque era um irmão deles que tinha partido. É como Bellotto diz no documentário: "a gente, quando cria uma banda, tem aquela coisa do sonho juvenil, e que não envelhece nunca. Aí, quando você vê, o cara morreu, não tem mais volta.". Terceiro, a banda ficaria sem guitarrista base. E o quarto e último motivo é que a morte de Fromer, juntamente com a de Cássia Eller, alguns meses depois, seriam o "estopim", o motivo que faltava, pro Nando sair da banda, o que ocorreu em 2002, no meio da turnê do disco.

Isso representou o fim dos Titãs, como eles eram antigamente. A não ser que um dia eles voltem a tocar juntos, todos os 7 (e ainda assim com Miklos tendo que assumir uma das guitarras), aquele Titãs do octeto, com três vocalistas, enchendo o palco, não existe mais. Tudo isso por causa da morte de Fromer. Se ele estivesse vivo, muito provavelmente o Nando ainda ficaria na banda mais uns anos e talvez o Charles não tivesse saído. Na pior das hipóteses, seria um sexteto sem músicos contratados.

Mas como a vida segue, saiu em 2001 o A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana. E é com profunda infelicidade que eu digo que o único sucesso do disco foi Epitáfio, e um pequeno destaque para a faixa título e Isso. A música que fez os Titãs virarem escravos dos seus fãs, pelo menos até mais ou menos 2010. Epitáfio teve um efeito tão devastador que é mais conhecida que os clássicos do Cabeça Dinossauro. E não é por ser a música que é. Com certeza é uma das letras mais bonitas sobre a vida e a banda a gravou por estar abalada com a morte do Marcelo. Só que... não é o Titãs que todos se acostumaram. Além disso, é um disco mais fraco porque deveria ter, no máximo 12 músicas. O fato de ter 16 fez entrar músicas ruins.
Pior capa da história da banda:
sim ou claro?
Em 2003 veio o Como Estão Vocês?. Sem comentários. Mais uma vez, outra baladinha foi sucesso. O "Epitáfio" da vez foi Enquanto Houver Sol, que até tema de novela foi. O resto do disco é fraco, e olha que contou com a produção do Liminha. Nem isso melhorou o disco. Dois anos depois, saiu o Ao Vivo MTV, elétrico, bem gravado, redondinho, com belos solos... porque contou com Emerson Villani na guitarra e Lee Marcucci no baixo. Aí veio mais uma turnê gigante, que já emendou numa turnê com os Paralamas e, quando se pensava que não podia piorar, sai o Sacos Plásticos, disco mais fraco da banda até hoje, e sai o Charles da banda também.

Aí veio um ponto de virada importante na história da banda. Na minha opinião, é um somatório de fatores. Primeiro que a "água bateu na bunda" quando eles viram que até o Charles saiu. Segundo que, logo depois, em 2011, o Cabeça Dinossauro completou 25 anos e ganhou aquela turnê onde foi tocado na íntegra junto com uma maioria de clássicos antigos. Ali a banda percebeu que é isso que o pessoal quer. Titãs das antigas. Parece que tudo isso fez a banda voltar pros eixos.

E a tendência do novo disco, Nheengatu, é exatamente essa. Porrada em cima de porrada e era isso. Todos esperamos que seja assim. Agora é esperar pelo disco e ver qual é.
A banda atualmente


Especial Titãs #2: A banda (Parte 2)

Paramos mais ou menos em 1989. A banda, que recém tinha lançado o novo Õ Blésq Blom, estava no auge. Sucesso, shows lotados, convites para tocar em festivais, premiações (ok, é Troféu Imprensa mas conta :D) dentre outras coisas. Aqui embaixo temos um show da banda no Estúdio Transamérica, antes do lançamento do disco, para a divulgação de algumas músicas. Clássico.


Eis que então, sem razão aparente, os Titãs rompem a parceria com Liminha. Nada com inimizade ou algo assim, eles simplesmente quiseram produzir o próprio disco. Ousado? Com certeza. Uma boa ideia? Nem tanto. Temos que considerar todo o cenário por trás disso. Assim como era o auge da banda nos palcos, também o era nas drogas. Além disso, o mercado fonográfico daqui (que manda e desmanda no sucesso do momento - nos anos 80 foi o rock, nos 90 o sertanejo e nos 2000 o pop sem graça de cantoras como Kelly Key e etc.; atualmente, a Globo o mercado força a barra pro lado da Anitta) já tava enveredando pro lado do sertanejo, como dito antes.

E, assim, enquanto todo mundo esperava por mais um trabalho da banda na linha dos três anteriores, vem o Tudo Ao Mesmo Tempo Agora. O disco mais sujo, agressivo, polêmico E CRITICADO da banda. Afinal, como diria um ditado por aí "o crítico é aquele cara que é broxa e que também tenta broxar os outros. Se não o consegue, ao menos impede que o outro tenha orgasmos". Assim como Legião Urbana, Barão Vermelho e Paralamas do Sucesso simplesmente SUMIRAM na década de 90, os Titãs não estavam exatamente em evidência e, se estavam, não era por boas palavras da crítica.

Bom, a Legião nem tanto, mas foi bem criticada com o seu O Descobrimento do Brasil. Já o Paralamas e o Barão, sem dúvida alguma, morreram abraçados no tipo de música que faziam nos anos 80 - que, naquela década, fazia sucesso. E TODO mundo sabe que a crítica ADORA destruir uma banda. Olha o que eles fizeram com o Rush e Queen no início da carreira. Até mesmo o Led Zeppelin no seu primeiro disco.

Mas, e o motivo desse "ódio" todo pelo Tudo Ao Mesmo Tempo Agora? Acho que nem mesmo a banda se abalou com isso, pois o disco aparece pra vender até hoje em lojas. Eu mesmo comprei uma cópia, e estou com ela aqui na mão. Posso dizer, basicamente, que por causa de TRÊS (talvez quatro ou cinco) das quinze músicas do disco, que são realmente escrachadas e escatológicas nas letras, o disco foi completamente detonado. Clitóris, Isso Para Mim É Perfume e Saia de Mim. Talvez também possamos incluir Cabeça.

Coincidência ou não, Clitóris foi a música mais tocada do disco durante os shows da banda. Até 1996 ela ainda aparecia no setlist. Já Saia de Mim é o verdadeiro clássico do disco. Pesada, com um belo riff de guitarra, baixo e bateria afiadíssimos, e Arnaldo cuspindo a letra nos microfones. Com certeza, até mesmo uma das melhores músicas da banda. Pros detratores do disco, só lhes digo uma coisa: ouçam todo o disco. Claro que tem algumas músicas que são realmente ruins, não estou aqui para dizer que é o melhor disco da carreira da banda. Com certeza, dentre os 3 anteriores, esse e o Titanomaquia, seu sucessor, ele é o mais fraco. Mas, além de tudo, é um Titãs que nunca mais veríamos. Pelo menos até agora. E pra quem acha que o disco só tem letra ruim, primeiro analise a fundo Saia de Mim. A música é simplesmente mais do que uma coisa física, dá pra entender nas entrelinhas que Arnaldo quer dizer outra coisa. Sem falar que é querida pelos fãs até hoje. No show de 2012, dos 30 anos da banda, que participaram Charles, Arnaldo e Nando, os fãs pediram essa música pra ele.

Sem falar nas demais músicas do disco. Estou com o encarte dele aqui na mão, olha o que diz embaixo da letra de O Fácil É o Certo: "a frase "O Fácil É o Certo" é atribuída a Chung Tsu, pensador chinês do Século III A.C.". E aí? Será que o disco é só falta de criatividade e por isso as letras são todas ruins? Só mais um exemplo. Agora, que tem uma letra muito interessante, recebeu cover de Maria Bethânia. Já na parte instrumental, fora a mixagem, por conta da banda, e que não ficou "grandes coisa", temos aqui alguns dos melhores trabalhos, principalmente de Charles e Nando. Se Você Está Aqui, as já citadas Clitóris, Saia de Mim, O Fácil é o Certo e Cabeça. Enfim, apesar de ser tido como fracasso, o disco vendeu 150 mil cópias e ao vivo, a banda atingia o seu auge, com um show só com porradas. A única exceção era Família e Marvin.

A banda pós 1992, sem Arnaldo
Falando em shows, a apresentação da banda no Hollywood Rock em 1992 foi sensacional. Uma das últimas com Arnaldo, que saiu em Dezembro. Segundo a banda, no documentário, eles já estavam ensaiando pra gravar o Titanomaquia, e Arnaldo parecia meio perdido. Perguntaram pra ele o que era e ele achava que tava na hora de sair da banda e tal. Eles discutiram se era realmente o que o Arnaldo queria, se já tava bem pensado. Quem sabe ele voltava no outro dia com a ideia mais decidida. Pois então, ele voltou e realmente disse que era o que ele queria. Ele também diz no documentário que não tinha nada a ver com o disco anterior, que ele tava dentro da proposta do peso e tal, mas que não tinha mais a disponibilidade pra fazer tudo que ele queria e, se algo tinha que sair da equação, seria os Titãs. E tanto é verdade isso que até hoje Arnaldo ainda aparece em alguns shows da banda pra dar uma canja. Disparadamente ele é o que mais aparece nos shows, comparado com Nando. Não podemos ter uma ideia boa sobre o Charles porque temos só 4 anos de sua saída.

Eis que chega 1993 e, com ele, Titanomaquia. O disco mais pesado da banda, beirando, às vezes, Heavy Metal e Grindcore. Apesar de continuar, pelo menos, despercebido pela crítica e mercado, pois não era o que eles queriam promover, o disco fez mais sucesso, talvez por terem pegado um pouco mais leve nas letras. Mas só um pouco mesmo. Com produção a cargo de Jack Endino (sim, aquele mesmo que produziu o Nirvana no início da carreira), o som ficou polido e bem resolvido. O disco teve dois sucessos grandes, com Será que É Isso que Eu Necessito?, uma porrada cantada por Sérgio, e Nem Sempre se Pode Ser Deus, cantada por Branco (quando ele ainda tinha fôlego pra gritar). Se essas músicas tem alguma relação com as críticas do trabalho anterior? Provavelmente.

Ainda temos três músicas compostas em parceria com Arnaldo, quando ele ainda estava na banda: Disneylândia, que trata sobre globalização (e apareceu no ENEM 2013), Hereditário, como sempre, o ponto fraco do disco, composta também pelo Nando, que já se mostrava fora dos Titãs desde essa época (e só não foi macho o suficiente pra sair quando quis, ficando mais uns 10 anos na banda, e aí sim, saindo no meio de uma turnê, o que causou um desgaste entre ele e o resto da banda) e Taxidermia, uma outra boa música, mas que não fez tanto sucesso. Aqui, o show registrado no Olympia em 1993 (eu ainda torço pra que deem um tratamento decente pra esses shows e lancem eles direito).

Depois disso, mais uma turnê, outra apresentação no Hollywood Rock, agora o de 1994, umas férias no fim do ano e, em 1995, outro disco. Menos pesado, menos sujo e agressivo, menos cativante, menos tudo: Domingo. Apesar de conter o último grande clássico da banda, a faixa título, é um disco bem inferior ao Titanomaquia. Outros sucessos foram Eu Não Aguento, Turnê e Tudo o Que Você Quiser. Isso tudo não é à toa. Ainda que a banda soubesse fazer boas músicas e fizesse relativo sucesso, o entrosamento, de longe, não era mais o mesmo dos bons tempos. Não tinham mais Arnaldo, e praticamente não tinham mais Nando, que estava em "uma amizade colorida com a MPB". Isso fez com que ele se afastasse muito da banda, muitas vezes tendo contato apenas com Marcelo Fromer. Suas composições, a partir daí, começaram a ser apenas suas, sem a parceria dos outros membros, como era o normal. Aí a coisa começou a desandar.

Mas vamos deixar isso pra próxima postagem, sobre os tempos difíceis da banda.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Especial Titãs #1: A banda (Parte 1)

Agora que meu computador voltou, posso postar tranquilamente com a frequência de antes. E diferentemente do show do Sabbath, que o especial ficou incompleto, e do show do Titãs ano passado, que não teve especial, só um show histórico em homenagem, a chegada do disco novo da banda, Nheengatu, vai ter uma cobertura especial aqui no Nata. Nessa semana que antecede o lançamento do disco, marcado pro dia 12, vou fazer um apanhado geral sobre esses 32 anos de carreira.

O Titãs surgiu em São Paulo, em 1982. A maioria de seus integrantes já se conhecia no Colégio Equipe, no final da década de 70. Desde alguns anos antes da formação, algumas figuras ali já tinham algumas bandas, como o Trio Mamão e as Mamonetes, formado por Marcelo Fromer, Tony Bellotto e Branco Mello; Arnaldo Antunes e Paulo Miklos eram integrantes da banda Performática; Nando Reis era percussionista da Sossega Leão; Sérgio Britto e Marcelo Fromer também se apresentaram como calouros no Chacrinha.

Antes de gravar o primeiro disco, a banda tinha nove integrantes (não se perca nas contas): Arnaldo Antunes, André Jung, Paulo Miklos, Marcelo Fromer, Tony Bellotto, Nando Reis, Branco Mello, Sérgio Britto e Ciro Pessoa. Seis eram vocalistas. Destes, Arnaldo, Ciro e Branco eram apenas vocalistas. Britto cantava e, quando não cantava, tocava teclado (até hoje é assim). Tony Bellotto e Marcelo Fromer eram os guitarristas. André Jung, o baterista. Pro baixo, Miklos e Nando revezavam: enquanto um cantava, o outro pegava o baixo. O primeiro show dos Titãs do Iê-Iê (posteriormente o nome mudaria apenas pra Titãs) foi no dia 28 de Setembro de 1982, no SESC Pompeia.

Nessa primeira fase da banda, o visual era um ponto forte (até porque musicalmente eles estavam longe ainda de serem uma boa banda. Nando ainda não sabia se o negócio dele era ou não o baixo, os arranjos eram muito simplórios e o baterista, André Jung, era especialmente fraco), contando com, por exemplo, ternos coloridos (uma cor pra cada integrante), ou roupas praticamente iguais. Exemplos disso são as apresentações da banda no programa do Chacrinha e da Hebe, respectivamente. A música? Sonífera Ilha, um dos primeiros sucessos da banda.

Depois de algumas apresentações, Ciro Pessoa deixou a banda. Segundo os próprios Titãs, justo quando estavam começando a fazer sucesso. Então, agora como um octeto, a banda entrou em estúdio para gravar seu Debut, lançado em agosto de 1984. Apesar de ter três clássicos da banda - Go Back, Marvin e Sonífera Ilha - o disco não fez tanto sucesso. Marvin e Go Back foram rearranjadas no disco Go Back, registro do show da banda no Festival de Montreux de 1988, numa versão muito melhor trabalhada. Sonífera ilha receberia o mesmo tratamento no Volume Dois, de 1998. Outras músicas também fizeram algum sucesso, como Toda Cor e Querem Meu Sangue. Interessante ressaltar que muitas músicas do disco são versões "cover" da banda para outras músicas de fora (mesmo que a letra seja original, é notória a semelhança): Marvin veio de Patches, Querem Meu Sangue veio de The Harder They Come, e Balada para John e Yoko... bem, acho que não preciso esclarecer. Interessante ressaltar que aqui, diferente de todos os outros discos da banda, as músicas com o vocal do Arnaldo são as mais fracas e não tem um maior destaque.

Depois do debut, veio praticamente uma troca de bateristas entre Titãs e Ira!: sai André Jung e entra Charles Gavin. Apesar da banda dizer no seu documentário, A Vida Até Parece uma Festa, que não foi nada pessoal e esse tipo de coisa, Jung era ruim pra cacete. Com Charles, veio Televisão, segundo disco. Vou deixar pra falar melhor sobre esse disco num Quinta Underground deles, mas a real é que tem músicas muito boas que não foram sucesso. E falando em sucesso, aqui Arnaldo já mostra uma maior maturidade nas músicas que ele canta e nas composições em geral. A faixa título, maior sucesso, é dele. Outra que fez sucesso (mas ficou melhor depois de ser rearranjada também) foi Pavimentação.

Temos, em Televisão, uma bela evolução. Apesar de não soar como a banda queria, e muito disso por causa da produção de Lulu Santos, a evolução nos arranjos é perceptível. Nando aqui toca baixo em 8 músicas das 11. E a última música, Massacre, em estúdio é meio tosca até, mas dá uma bela mostra do que o Titãs viria a fazer nos anos seguintes. Soma-se a isso o fracasso das vendas, pelo maior interesse da gravadora em promover o Debut do Ultraje a Rigor, Nós Vamos Invadir sua Praia, uma prisão de Tony e Arnaldo por porte e porte e tráfico de heroína, respectivamente (que certamente inspirou Tony a compor Polícia) e a consequente falta de oportunidade de shows, por essa "perda de inocência".

O filho disso tudo foi o Cabeça Dinossauro, clássico absoluto e sinônimo de "Titãs" até hoje. Primeira cria da parceria entre Titãs e Liminha, mostrou do que a banda era capaz.  Toda a raiva, indignação e protesto geraram críticas às mais conhecidas instituições da sociedade: Igreja, Estado (Violência), Polícia, Família (olhando a letra, apesar do reggaezinho, temos uma bela sátira, um estereótipo de família). E, além disso, outros grandes sucessos como AA UU, Bichos Escrotos (tocada nos shows da banda desde 1982, mas que só foi gravada no Cabeça por causa da censura. Falando em censura, a faixa fez tanto sucesso que as rádios até mesmo pagavam a multa para executá-la na versão original, com o verso "vão se fuder"). Porrada também fez bastante sucesso, assim como O Quê. Apesar de ser uma faixa de quase seis minutos, em sua maioria com uma pegada eletrônica, e com uma letra onde se usa, no máximo, umas seis palavras diferentes, ela é muito querida pelos fãs. O groove dela é sensacional.


Ahh, interessante ressaltar que Tony apostou uma garrafa de vinho com Branco que o disco não ia fazer sucesso. Felizmente, ele estava errado e Branco ganhou a aposta. Outra curiosidade é que Cabeça Dinossauro foi o primeiro disco que não contou com foto dos integrantes na capa. Essa tendência o Titãs segue até hoje. Desde esse disco, todos os lançamentos de estúdio que vieram depois não contam com foto dos integrantes, e Nheengatu não será diferente. Aliás, eles também falam sobre isso no documentário do Cabeça, como eles meio que forçaram a barra e se tornaram pioneiros nesse tipo de capa no Brasil.

E assim como foi com Massacre e o Cabeça Dinossauro, O Quê deu uma mostra do que a banda lançaria em 1987. Agora tidos como um dos melhores grupos nacionais, lançaram, novamente em parceria com Liminha, Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas. Com um lado A (ou melhor, Lado J - estratégia da banda para não mostrar em que lado estavam os hits do disco) bem eletrônico e um lado B (ou lado T) nos moldes do Cabeça Dinossauro, vieram mais sucessos: as clássicas Comida e Lugar Nenhum, ambas cantadas por Arnaldo, Diversão, cantada por Miklos e Desordem (que voltou a ser tocada pela banda recentemente), cantada por Sérgio. Outras músicas como a faixa título e Nome Aos Bois (uma espécie de protótipo de O Pulso), ambas cantadas por Nando Reis, foram bem tocadas à época, mas se perderam no tempo.


Após o Jesus, mais uma grande turnê, com direito a shows internacionais e o supracitado show no Montreux Jazz Festival de 1988, que rendeu Go Back. Outro disco que vendeu muito bem, trouxe, como dito antes, versões rearranjadas de Marvin, Go Back, Pavimentação e Massacre. Em 1989 chegou, no final do ano, Õ Blésq Blom, último disco da parceria entre Titãs e Liminha. Para uns, o último sopro de criatividade da banda. Para outros, o momento onde a banda encontrou sua identidade, diferente do Cabeça Dinossauro, que tem uma pegada muito inspirada no Clash e cia.


E, para mais alguns, como o meu caso, mais um ótimo disco, afinal, outros que vieram depois também são bons. O que sabemos é que Õ Blésq Blom rendeu mais alguns clássicos incontestáveis ao setlist da banda ao vivo, como Flores e O Pulso. Ainda temos Miséria e 32 Dentes como clássicos que ficaram mais pra trás. 32 Dentes até voltou pro setlist da banda tempos atrás. Com todo o sucesso dessa trilogia irretocável da banda, o seu sucesso não teria como ser diferente. Em 1991, apresentação no Rock In Rio e mais portas sendo abertas, como Hollywood Rock e etc. Mas isso é papo para outra postagem. Por hoje, vamos parar na crista da onda.