terça-feira, 31 de maio de 2016

Café com Nata #1: The Getaway vai fazer sucesso. Mas não vai agradar muito.


Quase deixei maio em branco, mas, em algum momento, tinha que voltar. E, sinceramente, acho que a pior coisa que tem é falhar um mês inteiro num blog. Pelo menos uma postagem tinha que ter, então, vamos à ela. Esse temático novo que estreia hoje é um esquema que pretendo fazer quinzenal, talvez semanal. De preferência nas segundas feiras, que é um dia chato, pra não deixar o começo da semana passar em branco. Basicamente, a ideia é uma coluna, estilo jornal, sobre o assunto que me der na telha. Sobre alguma atualidade no rock, sobre algum motivo de discussão entre fãs (coisa nova ou antiga), enfim. Vai ser bem variado. E, como primeiro tema, aproveitei o lançamento de duas novas músicas do novo disco do Red Hot Chili Peppers, The Getaway, para falar um pouco sobre ele. Sendo assim, vamos lá.

Já vou avisando que não estou nem um pouco satisfeito com o que ouvi até agora. Preocupação seria uma palavra mais adequada, e, definitivamente, não é por intolerância, ou porque "sou viúva do Frusciante" ou "poser que curte o Californication". Os Peppers tem uma discografia riquíssima. Tenho comigo, em CD, TODOS os discos lançados após o Blood Sugar Sex Magik, e não tenho os anteriores porque nunca encontrei pra comprar. 

Mas com isso, afirmo que não tenho restrições à discografia da banda, exceto uma ou outra música em alguns discos. Mas no geral, não importa a fase, o guitarrista, a banda sempre teve um som de qualidade, com a sua pegada mais funk e sua energia característica. One Hot Minute? Baita disco. Freaky Styley? Um dos meus preferidos. Mother's Milk? Ótimo, mais pesado que o usual. Até o I'm With You teve bons momentos, apesar de algumas das B-sides terem se mostrado melhores do que músicas que entraram no disco. 

Mas o que todo mundo esperava era uma evolução natural do Josh como guitarrista da banda. Logicamente, assim como foi com o Frusciante, do cara se soltar mais no segundo disco com a banda, depois de adquirir alguma experiência liderando as seis cordas da banda. E, como o I'm With You foi um disco aceitável, e as B-sides mostraram que Josh tinha potencial, já tava todo mundo na expectativa pro novo disco. Mas até o momento, Josh decepcionou. E não está sozinho. Mais decepcionante que o Josh, nessas primeiras duas músicas, só o Chad. Logo vocês entenderão o porquê. 

Comecemos com Dark Necessities, a primeira música que foi lançada no último dia 5. No geral, foi uma música que agradou, e não achei ruim. A ideia da música é boa, Flea FINALMENTE mandou uns slaps, e é a parte mais simples da música no baixo, por incrível que pareça. Anthony tá fazendo a dele, cantando com competência, criando uma boa linha melódica no vocal, apesar de não ser um grande vocalista. Além disso, sinto uma leve influência de músicas como Venice Queen, algo a ver com o andamento, é uma música mais introspectiva, não sei. Mas me lembra algo dos idos de 2002. 

Só que param aqui os elogios. Por outro lado, acho que Flea exagerou no piano, pra mais, e Josh na guitarra, pra menos. Apesar de ser um som mais introspectivo, melódico e tals, não precisava ter tão pouca guitarra. O sentimento é que falta alguma coisa, que o som tá incompleto. E, acima da guitarra, do funk, falta energia, falta vida nesse som. É uma boa ideia, mas a bateria eletrônica do Chad CAGOU a música. E, na real, ele fez uma mistura de bateria eletrônica com acústica. Desnecessário... lembro dos momentos mais acomodados de Roger Taylor no Queen quando penso nessa mistura. Chad é um grande baterista, tem um feeling sensacional. Com certeza apenas uma linha de bateria acústica, com mais prato de condução (e mais volume durante o refrão), seria mais do que o suficiente para enriquecer a música. Infelizmente, a bateria eletrônica mecanizou o som. 



Mas, sinceramente, perto da faixa título, The Getaway, Dark Necessities parece uma Under the Bridge, algo do tipo. The Getaway é RIDÍCULA. Se antes falávamos de uma música que, apesar de ser bem construída, sofreu com alguns erros, agora falamos de uma música que mais parece uma demo (inclusive perguntaram isso no youtube da banda). Aqui, Flea toca com feeling, mas é um baixo simples, Anthony faz o arroz com feijão também e Josh até faz um trabalho interessante, apesar dos muitos efeitos. Até poderia virar uma daquelas músicas que eventualmente entram no setlist, que são legais de ouvir às vezes, sem prestar muita atenção. 

Mas aí chegou o Chad, DE NOVO, e dessa vez simplesmente enfiou uma linha feita com drum machine na música. Não, não tem linha acústica, não tem trabalho braçal, humano. Tem um drum machine. Essa música me lembrou dos momentos mais constrangedores do U2, com o fraquíssimo Pop, e os momentos menos inspirados do Queen, com discos como The Works e A Kind of Magic. Drum machine, no rock, no século 21, NÃO DÁ. Simples. A música parece que não vai a lugar nenhum. São 4 minutos nos quais tu simplesmente não te empolga, em momento algum. A música não muda, não cresce, não joga com luz e sombra. No final, a banda até entra meio que numa outro, com uma melodia diferente. MAS O MALDITO DO DRUM MACHINE SEGUE IGUAL. E essa música me preocupou bastante. Pelo menos quem é realmente viúva do Frusciante deve ter curtido, afinal, é exatamente esse som que ele anda fazendo nos discos do Trickfinger.



Espero profundamente que, como de costume, esses singles sejam o pastiche mais comercial e pop do disco, e que possamos encontrar, pelo menos, algumas pérolas escondidas no disco. Mas não sei se foi a troca de produtor (e o Danger Mouse, produtor que assina o disco com a banda, é notadamente mais novo e voltado para um som mais pop), a preguiça, sei lá, mas o Chad tá preocupante nesse disco. E, se esperávamos por um disco um pouco mais pesado, mais solto, acredito que já podemos pagar a aposta, pois parece que perdemos. 

A amostragem, até agora, foi muito ruim (talvez medíocre defina melhor, considerando que Dark Necessities ainda tem alguma virtude). Mas a esperança é a última que morre. Assim, a minha palavra definitiva sobre o disco só vai surgir depois do dia 17 de junho, data que o disco será lançado. Ahh, pelo menos a capa tá bem maneira, a mais criativa desde o By The Way, no mínimo.