quinta-feira, 7 de abril de 2016

Quando palavras não são necessárias... 29

Já era pra ter passado do 30, mas a preguiça foi tão grande nesses primeiros meses que até essa série, que é uma das mais de boa, foi deixada de lado. Mas agora acabou a preguiça, bora trabalhar e botar as postagens em dia. Mesmo que a época seja de foco nos estudos, porque tá rolando prova.

Opa... eu disse foco? Hum...



Aliás, com certeza vocês podem esperar por mais aparições do Focus por aqui. O som dos caras é sensacional e música instrumental é a especialidade deles. 

segunda-feira, 4 de abril de 2016

On the Charts #28: Os 45 anos de Aqualung


























Sim, desde o último On the Charts já são mais de 8 meses. O grande problema é que, quando crio o planejamento, aparecem muitos discos dignos de entrar nessa seção do blog. Acabo ficando indeciso sobre quais farei ou não e acabo não fazendo nenhum. O que estou pensando em fazer pra mudar é, não importando a data do disco, toda sexta-feira trazer o (ou um dos) disco(s) aniversariante(s) da semana. Assim eu não falto com esse temático, que é um dos maiores sucessos do blog, e não falta material. Lá em 2021, quando eu ainda espero ter o blog, é claro, terei material para fazer On the Charts. Aliás, como estava pensando nesse formato novo, esse On the Charts vai pro blog logo quando ficar pronto. 

Mas chega de papo, vamos ao aniversariante. Aqualung é o quarto disco de estúdio da vasta - e riquíssima - discografia do Jethro Tull. Lançado em 19 de março de 1971, é o disco que, além de garantir um maior sucesso para o grupo liderado por Ian Anderson, começou a moldar um pouco mais precisamente o estilo da banda, que vinha de um muito mais bluesy This Was, disco de estreia, lançado três anos antes, e os bons Stand Up e Benefit, de 1969 e 1970, respectivamente, que ainda tinham como características mais marcantes músicas curtas e Ian Anderson colocando flauta em TUDO que podia.

Encarte do disco
A partir de Aqualung, vemos uma sensível mudança, com a banda usando mais para os solos o diferencial que a flauta traz em seu som, deixando as harmonias a cargo de baixo, guitarra e piano, além de investir fortemente em músicas mais longas, permeadas por trocas de tempo e jogos de luz e sombra, com momentos acústicos e momentos mais pesados. Tanto que em Thick as a Brick, disco seguinte, a banda mostra ao máximo essa faceta um tanto quanto progressiva (além das pitadas de som "medieval", característica da banda em meados dos anos 70). Mas isso é assunto para outra postagem.

Aqualung inicia com a faixa título. Tida por muitos como o maior clássico da banda (inclua eu nesses "muitos"), cria-se toda uma atmosfera de tensão com o vocal (e a letra também, descrevendo o velho e maltrapilho Aqualung como um nojento, pedófilo, ranhento, etc) de Anderson, o riff pesado de Martin Barre e John Evan, trazendo esse som "estranho", misturado, a bateria, muito marcada nos tambores, de Clive Bunker. Até que, após um minuto desse trem desgovernado, ficamos apenas com Anderson e seu violão, cantando também o fato de Aqualung, por outro lado, ser um pobre mendigo que sofreu na vida. Procurando restos de comida no chão, andando por aí, solitário. Nesse momento, quem se destaca é o baixista, Glenn Cornick, com sua linha cativante.

Logo após, mais uma troca de tempo, e aí temos velocidade, um piano sensacional, Anderson cantando novamente sobre a triste realidade de Aqualung, repetindo a letra da parte anterior. Eis que, após algumas voltas, Martin Barre entra com seu clássico solo, que quase foi estragado por Jimmy Page (segundo o próprio Barre, pois ele estava lá, gravando o solo, e Page apareceu do lado de fora da sala, acenando para Martin, e, provavelmente, esperando que recebesse um aceno também). Imagina que chato isso, né? Estar gravando o solo de um dos maiores clássicos da história do rock e Jimmy Page aparecer e quase estragar tudo xD

Mas voltemos à música. Após o solo, temos mais um breve momento mais calmo, e, após mais ou menos um minuto, Martin puxa o riff inicial novamente e a tensão volta, para nos acompanhar até o final da música. Simplesmente sensacional. Aqualung é uma das músicas mais bem construídas da história do rock. Seus seis minutos e meio parecem três, de tão forte que é a imersão quando ouvimos ela, cheia de trocas de tempo e seções rítmicas diferentes. E, o mais curioso de tudo é que é uma das poucas músicas da carreira do Tull que a flauta não aparece em momento algum.

Já em Cross-Eyed Mary, se tem uma coisa que aparece é a flauta. Já começamos com ela, com Anderson repetindo algumas vezes um riff, bem marcante, diga-se de passagem, e, após mais ou menos um minuto, entra toda a banda, pesando a mão, mas com menos tensão que na faixa título. Ao longo da música, Anderson conta a história da protagonista, uma estudante dos últimos anos da escola, provavelmente, que anda com homens ricos, "roubando-os", uma espécie de "Robin Hood de Highgate", como é descrita na letra.

Parte de trás
Interessante é que Aqualung é citado nessa música também, dando a entender que ele observa Mary dos arredores da escola. Além disso, outro ponto a se destacar, como de costume, é a riqueza do instrumental da banda, com uma linha de guitarra (e, consequentemente, de baixo) sensacional, além das viradas ao fim de cada estrote. Outro clássico, que, aliás, senti falta no show de Ian Anderson aqui em Porto Alegre (aliás, quem não sabe sobre o show, só clicar aqui).

A terceira música é Cheap Day Return. Na real, não é tanto assim uma música, Com 1:20, é mais como uma vinheta, uma passagem do disco. Uma vinheta com um violão simplesmente sensacional e uma pequena letra. Um momento um pouco mais tranquilo no disco, mais "pastoral". Acredito que, se Anderson tivesse investido mais, poderia ter virado uma bela música, mas sabe-se lá por que ele manteve ela curtinha assim.

Já Mother Goose, com seus quase 4 minutos, começa bem camponesa também, com a banda entrando mais no seu estilo famoso, de uma música mais medieval. Muito violão, muita flauta, uma percussão ao fundo, e a letra zueira de Ian Anderson. Mais perto do final, Martin Barre entra com uma guitarra, com uma leve distorção. É uma fórmula mais explorada pela banda mais pra frente, em músicas como Jack-in-the-Green. E dá certo, é o estilo mais característico do Tull.

Após Mother Goose, temos Wond'ring Aloud. Estilo Cheap Day Return, é meio como uma vinheta, mas um pouco mais longa, com quase 2 minutos, além da letra ser maior também. Aqui temos uma coisa um pouco mais romântica, uma letra mais cotidiana, sobre, como o título diz, os pensamentos altos do protagonista, sobre ele, sua mulher, o futuro deles. Acompanhado de um instrumental riquíssimo, um dos melhores do disco. Apesar de não ter bateria, temos até alguns violinos ao fundo.

Up to Me é a última música do lado A. Começa meio sinistra, com as risadas de Anderson e um riff de guitarra acompanhado pela flauta, nota por nota, até cair em mais uma levada de violão e o vocal entrar. Apesar disso, essa música lembra mais as primeiras que as últimas duas ou três, pois mescla acústico e elétrico, com um riff de guitarra bem definido. Ainda assim, se fosse apontar uma característica marcante da música é esse meio non sense que ela causa, por causa do seu andamento bem marcado pela guitarra e a flauta, além dessas risadas durante a música.




Começamos o lado B com My God. Música mais longa do disco, com mais de 7 minutos, inicia bem de leve, com o violão fazendo um belo solo, que vai ficando cada vez com um ar mais sinistro, até que Anderson entra, junto com Evan, dando uma atmosfera tensa para a música. Esse clima se mantém até uns dois minutos, quando entra a guitarra de Barre, distorcida, junto da bateria. É uma das músicas mais fortes do disco, bem construída, com um belo solo de flauta, a banda muito bem azeitada. A passagem logo antes do solo de Anderson é sensacional, cheia de paradinhas executadas à perfeição. Passagem essa que se repete durante o solo de flauta, até que tudo para e Anderson resolve humilhar no solo de flauta. Acelera, atrasa, seguido pelo coro (que acredito se tratar com esse tema "religioso" da música), a banda volta, quebrando tudo, nossa. Tive sorte de poder ver ela ao vivo no show, mas acho que, infelizmente, os problemas que Anderson tem pra cantar ao vivo comprometem a experiência. Tanto que, na resenha do show, exaltei muito mais o fato de valer a pena ver Anderson ao vivo pelo fato do cara ser um MESTRE no instrumental.

Seguimos o baile com Hymn 43. Soa como uma crítica mais ácida sobre o mesmo tema de My God - religião. Enquanto a anterior tem esse ar mais profético, sinistro, sua sucessora tem um ar mais escarnecedor, lembra muito as críticas atuais às religiões, sobre a hipocrisia de uma interpretação literal de livros sagrados, ou, ainda mais especificamente, sobre a hipocrisia das pessoas, que não medem esforços para terem um caráter um tanto quanto duvidoso, mas, aos domingos, estão lá, sentadas no primeiro banco da igreja. Um tema que, como disse antes, continua muito atual, mesmo 45 anos depois da música ser lançada. Uma pena que não seja tocada frequentemente.

Outra parte do encarte
Seguindo, temos Slipstream, quase uma "Wond'ring Aloud 2". Pouco mais de um minuto, um estilo bem parecido, com arranjos de cordas, violão e voz, a terceira - e última - das "vinhetas" do disco. O final, meio sem sentido, até que serve como uma boa introdução para Locomotive Breath, penúltima música do disco. Esta, aliás, que começa com um puta solo de piano no início, mostrando toda a técnica de John Evan, acompanhado, a partir dos 40 segundos, por Martin Barre. Segue o solo até mais ou menos um minuto e meio e a banda entra. Na minha opinião, Locomotive Breath é o que temos de mais parecido com a faixa título no resto todo do disco. A batida é bem marcada, a música em si é mais pesada, mas sem perder sua classe. Ainda assim, é apenas uma lembrança de Aqualung, afinal, durante o disco, a grande virtude que a banda mostra é a versatilidade. E porque essa música tem solo de flauta também.

Fechando esse grande disco, temos Wind Up. Se nunca tivesse ouvido ela antes e fosse chutar de que disco ela pertence, diria Stand Up ou Benefit, pois ela me lembra mais os trabalhos anteriores da banda. Boa música, ela começa um pouco mais "triste" do que o resto do disco, mas logo com uns 2 minutos o peso já entra, e a música ganha aquela riqueza instrumental padrão da banda. E aqui, a exemplo da faixa título, Ian Anderson dá uma aula de como até mesmo a entonação da mesma parte da letra em duas seções diferentes da música pode mudar a nossa interpretação. Ahh, não esqueçamos de Martin Barre, fiel escudeiro de Anderson nesses mais de 40 anos de Tull. Aqui, mais uma vez, temos um solo sensacional, cortesia desse grande guitarrista, subestimado, ofuscado pela liderança de Anderson na banda.

E assim termina Aqualung. 43:30 de muita versatilidade, belos solos, ótimas letras, clássicos incontestáveis, grandes passagens de todos os instrumentistas da banda. Quem não conhece Jethro Tull, recomendo fortemente, apesar de apreciar muito o This Was, mais que a maioria dos fãs. O problema é que o debut é muito mais blues, passando mais longe do que a banda viria a ser no auge. Mas enfim, sobe o som, que agora é só curtir esse clássico do Rock. Parabéns pelos 45 anos.


Agora que eu voltei, vou tentar trazer mais duas postagens até sexta. Uma da nossa boa e velha série de instrumentais, que falhou em março, e outra com mais um On the Charts, agora seguindo esse esquema novo. Valeu!!!