quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Aconteceu em Porto Alegre #12: Black Sabbath no Estacionamento da FIERGS (Parte 2)

Depois  do showzaço do Rival Sons, aquele break, pros roadies prepararem o palco pra última atração da noite, nossos queridos maloqueiros de Birmingham, que subiriam naquele palco pela última vez como Black Sabbath, na nossa cidade. 

Esse era um daqueles casos em que o break só tinha lados bons. Normalmente estamos ansiosos para ver uma banda desse calibre, mas, considerando que seria a derradeira, era daqueles casos em que queríamos passar aquele momento o mais devagar possível. Não tinha problema a banda se enrolar um pouquinho, e, se quisessem fazer um show de três horas e nós só sairmos de lá 01:00, não tinha problema algum. 

Mas eis que, 21:30, iniciou-se a despedida do Sabbath em Porto Alegre. Dessa vez, diferentemente da turnê do 13, em 2013, que a banda entrou até um pouco antes do horário no palco e simplesmente saiu mandando uma pedrada atrás da outra, fomos saudados por um pequeno vídeo no telão, duma situação meio apocalíptica, uma cidade em chamas, e, numa parte subterrânea dum prédio, uma espécie de ovo, praticamente saído dum dos jogos da série de Resident Evil. Desse ovo nasce um filhotinho de demonho, que termina de tocar fogo na cidade e, após isso, o logo da banda (aquele mesmo da capa do Master of Reality) aparece no telão, em chamas. Entrada grandiosa, digna do tamanho dessa gigantesca banda.


Em meio aos gritos de "Sabbath! Sabbath!" e o sino, nosso conhecido do início da música que carrega o nome do disco de estreia - e da banda -, Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler, acompanhados de Tommy Cluefetos novamente, entraram no palco. E foi justamente essa pedrada, a primeira música do primeiro disco, onde tudo começou, que deu início ao show. 

Cabe ressaltar que, normalmente, quando uma banda desce a afinação de alguma música do show em meio tom, um tom, etc, nosso primeiro impulso é julgar, falar que "eles fazem isso porque o vocalista não dá conta mais" (ou de repente nunca deu conta, fora a versão de estúdio, né pessoal do Offspring?). Mesma coisa quando a banda decide executar algumas músicas de forma um pouco mais lenta do que a versão de estúdio, dizemos que é a idade, que eles não conseguem mais.

Com o Sabbath, curiosamente, em um show onde eles tocam TODAS as músicas em tons mais baixos que o original, muito por causa do Ozzy, e também tocam de forma ainda mais arrastada as músicas, o efeito é de deixar a música ainda mais pesada e sinistra, mesmo que não intencionalmente. No fim das contas, ponto pros caras.

Falando em ponto pros caras, logo após Black Sabbath, os caras resolvem mandar Fairies Wear Boots, uma das minhas preferidas, por abusar de trocas de tempo, seções diferentes e ser, resumidamente, uma sequência de riffs fodas do Iommi (coisa que várias músicas do Sabbath são, aliás, um desfile de riffs durante uns 5 minutos). Destaque para, além da execução da banda, perfeita como de costume, fora o Ozzy que sempre parece um pouquinho fora do tom (e a gritaria da mina do vídeo), os efeitos psicodélicos no telão.

Depois desse começo sensacional, a banda deu uma passada pelo Master of Reality: a clássica Into the Void foi a terceira música da noite, seguida por After Forever, a novidade do setlist. Apesar de eu não ser tão ligado assim no Master of Reality, sei que ele é uma fábrica de clássicos e qualquer coisa que eles resolvessem tocar no show, inclusive Solitude, seria foda.

Falando em foda, esse é o adjetivo que descreve Snowblind. Uma das melhores músicas da banda, é daquelas em que Ozzy rege a plateia, e nós, como bons súditos do Príncipe das Trevas, atendemos, cantando junto e movendo os braços como se fôssemos um só. Simplesmente sensacional.

E, depois de Snowblind, veio AQUELE desfile de clássicos. Começando com War Pigs, onde tudo é simplesmente perfeito, bateria, baixo e guitarra se combinam e mostram tudo que sabem em quase oito minutos de uma das melhores músicas da história. Logo após essa pedrada, tivemos a dobradinha Behind the Wall of Sleep/N.I.B., onde, mais uma vez, tudo aquilo que faz o Sabbath ser o que é se mostra presente: Iommi esmirilhando a guitarra pra tirar todos aqueles riffs (os quais a plateia CANTA junto, tamanha a facilidade que o homem tem pra tirar esses riffs absolutamente grudentos), uma bateria poderosa (a qual eu gostaria muito de ter visto representada pelo monstro Bill Ward, mas infelizmente não rolou), o Ozzy - seja isso bom ou ruim, mas é característico -, e muito, mas MUITO espancamento de baixo. E se há um momento verdadeiramente esperado no show é justamente a transição, a "barra" de Behind The Wall of Sleep/N.I.B., pois é ali que Geezer mostra o que sabe.

Pena que, pelo fato do setlist ser bem mais curto do que em 2013, já estávamos mais perto do fim do que do começo do show. Mesmo assim, ainda tivemos a oportunidade de ver Rat Salad, com direito ao solo de bateria de Cluefetos, que faz a diminuta versão de estúdio, que tem 2:30, se transformar em NOVE minutos de muito espancamento de peles e pratos.

Logo após, a minha, a sua, a nossa Iron Man. A Smoke On the Water do Sabbath, aquela música que todo mundo conhece o riff, aquela que, junto com Smoke e Stairway to Heaven, o pessoal das lojas de instrumento tá de saco cheio de ouvir os piá aspirantes a guitarristas tentarem reproduzir o riff (e falharem miseravalmente na maioria das vezes). Mas... E DAÍ? Mesmo tendo ouvido ela 2308578943659783497 vezes na minha vida, eu (e provavelmente todo mundo no estacionamento da FIERGS) ouviria ela mais uma, duas, até três vezes se eles tivessem dispostos a tocar.

Seguindo, tivemos Dirty Women. E, não me levem a mal, mas de novo ficou a mesma sensação de 2013... pra que botar Snowblind e War Pigs no começo do show e espremer essa música (que, apesar de ser a melhor do Technical Ecstasy, de longe, não tá no mesmo patamar das clássicas dos outros discos) entre tanta música foda no final? Apesar de bem executada e tudo mais, dá aquela esfriada no pessoal. E sem falar que não teve o vídeo com muitos nudes no telão que nem em 2013. xD

Pra finalizar o show, Children of the Grave. E o que seria dum show do Black Sabbath sem ela, não é mesmo? Além disso, o que seria dum show do Sabbath sem o Ozzy fazer uma cagadinha também? Legal que ele foi dar aquela derrapada na penúltima música do show. A banda tava na intro ainda, fazendo a segunda volta do riff principal, e o Ozzy já saiu mandando aquele "REVOLUTION IN THEIR... OOPS, SORRY!!". Obviamente nós rimos, assim como o Iommi. E né, estávamos todos ali pra nos divertir, um errinho, além de mostrar que os caras são humanos, aumenta a diversão.

Depois de Children of the Grave, a banda saiu do palco e realizou aquele protocolo padrão do bis... esperaram uns minutos, enquanto o pessoal gritava por eles, voltaram, receberam o aplauso esmagador da plateia, e o Ozzy falou que "como nós estávamos ultrafuckingSHAROOONcrazy, eles tocariam mais uma música pra nós.

E foi AQUELA uma. Pra encerrar a passagem, colocar um ponto final muito digno em tudo. Paranoid. Não poderia ser outra, senão uma daquelas músicas que embala os ensaios de tantas bandas de garagem (inclusive a minha e do Leão). E, depois de assistir a tudo isso de novo, só posso dizer obrigado. Obrigado, Sabbath, por existirem, por terem sido uma das maiores influências no rock e no metal que já pisaram nesse planeta. Obrigado por terem vindo DUAS vezes pra cá e me dado a oportunidade de vê-los ao vivo. Vocês vão fazer muita falta.