sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Talento, apelo e injustiça

Essa postagem era pra ter saído há umas duas semanas, mas eu ando meio envolvido nessa loucura que é o Enem (inclusive a frequência das postagens caiu bastante). Provavelmente ali nos últimos dias de Outubro e início de Novembro, a frequência vai voltar ao normal.

O que eu queria falar naquele dia foi algo que me deixou, entre outros motivos, triste. Chateado. De verdade. E parece uma bobagem, algo muito banal, mas achei realmente relevante e resolvi trazer aqui pro blog.

A situação é a seguinte: Era mais ou menos umas duas horas da tarde. Estava indo para o centro aqui de Porto Alegre, pra ver uns amigos e tal. Depois que eu desci do ônibus, no Mercado Público, percebi que havia uma intensa movimentação ali, tinha trio elétrico ali perto, parecia que ia ter um showzinho e tal. Fui em direção à Andradas, onde é a casa desse pessoal. Ali sempre tem um pessoal hippie que vende seu peixe: desde camisetas de bandas a vinis decorativos, passando por bijuterias (daquelas bem de hippie mesmo e tal), vinis de verdade e esse tipo de coisa. Ali também ficam os artistas de rua. Lá estava um deles. Um cara normal, como um de nós, fazendo seu som bem tranquilo. Um blues e, na real, o cara tem talento. Além de violão e voz, ele tinha uma harmônica, estilo daquelas do Neil Young, que tu não precisa pegar com as mãos. Quando eu passei por ali, ainda pensei "legal, o cara tem talento, tri o som dele".

Eis que eram 17:50 e eu tava voltando pro Mercado Público, onde eu ia pegar o ônibus de volta pra casa. Lá estava o cara ainda, mandando um blues há pelo menos três horas. Dessa vez, inclusive, reconheci a música: era Sweet Home Chicago, clássico do Robert Johnson, que foi regravada inclusive pelo Clapton. Saí dali "cantando" a letra, na cabeça. Quando chego ao Mercado, percebo toda essa chateação que é tema da minha postagem.Toda a parafernália que estavam montando lá perto, do trio elétrico e tal, era da Marcha pra Jesus. Quero deixar bem claro aqui que NÃO SOU ATEU nem nada do tipo e, mesmo que fosse, tenho noção e educação suficientes pra respeitar a religião dos outros. E sim, não sou católico nem evangélico, então isso se aplica. Trocando em miúdos, não é a Marcha em si que eu quero chamar a atenção, acho que todos tem sua liberdade pra fazer e acreditar no que quiser. O que eu critico é todo esse apelo em cima da "música". Quem tava ali, não tava pra ver o show da banda que estava se apresentando no palco, mas sim (espero que) por Jesus, afinal, a marcha foi feita pra ele. A banda é só um artifício pra entreter o pessoal e não é nada demais, musicalmente falando.

Não estou defendendo que "ahh não, culto não pode ter música". CLARO que pode, todo mundo é livre pra fazer o que quiser, pra chamar a atenção das pessoas. O que eu não consigo entender é um músico de talento, que nem o nosso amigo esquecido, estar tocando ali na rua, na altura de qualquer transeunte, uma tarde inteira, pra descolar uns trocados, provavelmente pra comer alguma coisa. Será que só com um trio elétrico ou palco, equipamento de qualidade e uma banda de apoio ele ia ser notado?

Isso sim que eu quero que você, que está lendo isso, pense. Quantos talentos por aí nós vemos na rua e simplesmente IGNORAMOS? Passamos por eles como se fossem simplesmente a sonoplastia urbana do nosso dia a dia? Não falo dos indiozinhos da redenção porque eles, obviamente, não tem talento algum, pelo menos no violão. Geralmente eles não sabem fazer nenhum acorde, e cantam o que dá na telha, só pelos trocados. Mas se dar ao trabalho de conseguir cifras, aprender as músicas, as letras, fazer tudo certinho pra ser simplesmente ignorado na rua? Eu acho isso muita maldade.

Falando desse tema, trago pra vocês um vídeo interessantíssimo. Foi uma campanha do Itaú na época do Rock In Rio, visando incentivar esse tipo de talento. Não vou contar mais nada pra não estragar a surpresa, quem quiser descobrir clique no vídeo abaixo.


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