quinta-feira, 8 de maio de 2014

Especial Titãs #2: A banda (Parte 2)

Paramos mais ou menos em 1989. A banda, que recém tinha lançado o novo Õ Blésq Blom, estava no auge. Sucesso, shows lotados, convites para tocar em festivais, premiações (ok, é Troféu Imprensa mas conta :D) dentre outras coisas. Aqui embaixo temos um show da banda no Estúdio Transamérica, antes do lançamento do disco, para a divulgação de algumas músicas. Clássico.


Eis que então, sem razão aparente, os Titãs rompem a parceria com Liminha. Nada com inimizade ou algo assim, eles simplesmente quiseram produzir o próprio disco. Ousado? Com certeza. Uma boa ideia? Nem tanto. Temos que considerar todo o cenário por trás disso. Assim como era o auge da banda nos palcos, também o era nas drogas. Além disso, o mercado fonográfico daqui (que manda e desmanda no sucesso do momento - nos anos 80 foi o rock, nos 90 o sertanejo e nos 2000 o pop sem graça de cantoras como Kelly Key e etc.; atualmente, a Globo o mercado força a barra pro lado da Anitta) já tava enveredando pro lado do sertanejo, como dito antes.

E, assim, enquanto todo mundo esperava por mais um trabalho da banda na linha dos três anteriores, vem o Tudo Ao Mesmo Tempo Agora. O disco mais sujo, agressivo, polêmico E CRITICADO da banda. Afinal, como diria um ditado por aí "o crítico é aquele cara que é broxa e que também tenta broxar os outros. Se não o consegue, ao menos impede que o outro tenha orgasmos". Assim como Legião Urbana, Barão Vermelho e Paralamas do Sucesso simplesmente SUMIRAM na década de 90, os Titãs não estavam exatamente em evidência e, se estavam, não era por boas palavras da crítica.

Bom, a Legião nem tanto, mas foi bem criticada com o seu O Descobrimento do Brasil. Já o Paralamas e o Barão, sem dúvida alguma, morreram abraçados no tipo de música que faziam nos anos 80 - que, naquela década, fazia sucesso. E TODO mundo sabe que a crítica ADORA destruir uma banda. Olha o que eles fizeram com o Rush e Queen no início da carreira. Até mesmo o Led Zeppelin no seu primeiro disco.

Mas, e o motivo desse "ódio" todo pelo Tudo Ao Mesmo Tempo Agora? Acho que nem mesmo a banda se abalou com isso, pois o disco aparece pra vender até hoje em lojas. Eu mesmo comprei uma cópia, e estou com ela aqui na mão. Posso dizer, basicamente, que por causa de TRÊS (talvez quatro ou cinco) das quinze músicas do disco, que são realmente escrachadas e escatológicas nas letras, o disco foi completamente detonado. Clitóris, Isso Para Mim É Perfume e Saia de Mim. Talvez também possamos incluir Cabeça.

Coincidência ou não, Clitóris foi a música mais tocada do disco durante os shows da banda. Até 1996 ela ainda aparecia no setlist. Já Saia de Mim é o verdadeiro clássico do disco. Pesada, com um belo riff de guitarra, baixo e bateria afiadíssimos, e Arnaldo cuspindo a letra nos microfones. Com certeza, até mesmo uma das melhores músicas da banda. Pros detratores do disco, só lhes digo uma coisa: ouçam todo o disco. Claro que tem algumas músicas que são realmente ruins, não estou aqui para dizer que é o melhor disco da carreira da banda. Com certeza, dentre os 3 anteriores, esse e o Titanomaquia, seu sucessor, ele é o mais fraco. Mas, além de tudo, é um Titãs que nunca mais veríamos. Pelo menos até agora. E pra quem acha que o disco só tem letra ruim, primeiro analise a fundo Saia de Mim. A música é simplesmente mais do que uma coisa física, dá pra entender nas entrelinhas que Arnaldo quer dizer outra coisa. Sem falar que é querida pelos fãs até hoje. No show de 2012, dos 30 anos da banda, que participaram Charles, Arnaldo e Nando, os fãs pediram essa música pra ele.

Sem falar nas demais músicas do disco. Estou com o encarte dele aqui na mão, olha o que diz embaixo da letra de O Fácil É o Certo: "a frase "O Fácil É o Certo" é atribuída a Chung Tsu, pensador chinês do Século III A.C.". E aí? Será que o disco é só falta de criatividade e por isso as letras são todas ruins? Só mais um exemplo. Agora, que tem uma letra muito interessante, recebeu cover de Maria Bethânia. Já na parte instrumental, fora a mixagem, por conta da banda, e que não ficou "grandes coisa", temos aqui alguns dos melhores trabalhos, principalmente de Charles e Nando. Se Você Está Aqui, as já citadas Clitóris, Saia de Mim, O Fácil é o Certo e Cabeça. Enfim, apesar de ser tido como fracasso, o disco vendeu 150 mil cópias e ao vivo, a banda atingia o seu auge, com um show só com porradas. A única exceção era Família e Marvin.

A banda pós 1992, sem Arnaldo
Falando em shows, a apresentação da banda no Hollywood Rock em 1992 foi sensacional. Uma das últimas com Arnaldo, que saiu em Dezembro. Segundo a banda, no documentário, eles já estavam ensaiando pra gravar o Titanomaquia, e Arnaldo parecia meio perdido. Perguntaram pra ele o que era e ele achava que tava na hora de sair da banda e tal. Eles discutiram se era realmente o que o Arnaldo queria, se já tava bem pensado. Quem sabe ele voltava no outro dia com a ideia mais decidida. Pois então, ele voltou e realmente disse que era o que ele queria. Ele também diz no documentário que não tinha nada a ver com o disco anterior, que ele tava dentro da proposta do peso e tal, mas que não tinha mais a disponibilidade pra fazer tudo que ele queria e, se algo tinha que sair da equação, seria os Titãs. E tanto é verdade isso que até hoje Arnaldo ainda aparece em alguns shows da banda pra dar uma canja. Disparadamente ele é o que mais aparece nos shows, comparado com Nando. Não podemos ter uma ideia boa sobre o Charles porque temos só 4 anos de sua saída.

Eis que chega 1993 e, com ele, Titanomaquia. O disco mais pesado da banda, beirando, às vezes, Heavy Metal e Grindcore. Apesar de continuar, pelo menos, despercebido pela crítica e mercado, pois não era o que eles queriam promover, o disco fez mais sucesso, talvez por terem pegado um pouco mais leve nas letras. Mas só um pouco mesmo. Com produção a cargo de Jack Endino (sim, aquele mesmo que produziu o Nirvana no início da carreira), o som ficou polido e bem resolvido. O disco teve dois sucessos grandes, com Será que É Isso que Eu Necessito?, uma porrada cantada por Sérgio, e Nem Sempre se Pode Ser Deus, cantada por Branco (quando ele ainda tinha fôlego pra gritar). Se essas músicas tem alguma relação com as críticas do trabalho anterior? Provavelmente.

Ainda temos três músicas compostas em parceria com Arnaldo, quando ele ainda estava na banda: Disneylândia, que trata sobre globalização (e apareceu no ENEM 2013), Hereditário, como sempre, o ponto fraco do disco, composta também pelo Nando, que já se mostrava fora dos Titãs desde essa época (e só não foi macho o suficiente pra sair quando quis, ficando mais uns 10 anos na banda, e aí sim, saindo no meio de uma turnê, o que causou um desgaste entre ele e o resto da banda) e Taxidermia, uma outra boa música, mas que não fez tanto sucesso. Aqui, o show registrado no Olympia em 1993 (eu ainda torço pra que deem um tratamento decente pra esses shows e lancem eles direito).

Depois disso, mais uma turnê, outra apresentação no Hollywood Rock, agora o de 1994, umas férias no fim do ano e, em 1995, outro disco. Menos pesado, menos sujo e agressivo, menos cativante, menos tudo: Domingo. Apesar de conter o último grande clássico da banda, a faixa título, é um disco bem inferior ao Titanomaquia. Outros sucessos foram Eu Não Aguento, Turnê e Tudo o Que Você Quiser. Isso tudo não é à toa. Ainda que a banda soubesse fazer boas músicas e fizesse relativo sucesso, o entrosamento, de longe, não era mais o mesmo dos bons tempos. Não tinham mais Arnaldo, e praticamente não tinham mais Nando, que estava em "uma amizade colorida com a MPB". Isso fez com que ele se afastasse muito da banda, muitas vezes tendo contato apenas com Marcelo Fromer. Suas composições, a partir daí, começaram a ser apenas suas, sem a parceria dos outros membros, como era o normal. Aí a coisa começou a desandar.

Mas vamos deixar isso pra próxima postagem, sobre os tempos difíceis da banda.

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