quarta-feira, 7 de maio de 2014

Especial Titãs #1: A banda (Parte 1)

Agora que meu computador voltou, posso postar tranquilamente com a frequência de antes. E diferentemente do show do Sabbath, que o especial ficou incompleto, e do show do Titãs ano passado, que não teve especial, só um show histórico em homenagem, a chegada do disco novo da banda, Nheengatu, vai ter uma cobertura especial aqui no Nata. Nessa semana que antecede o lançamento do disco, marcado pro dia 12, vou fazer um apanhado geral sobre esses 32 anos de carreira.

O Titãs surgiu em São Paulo, em 1982. A maioria de seus integrantes já se conhecia no Colégio Equipe, no final da década de 70. Desde alguns anos antes da formação, algumas figuras ali já tinham algumas bandas, como o Trio Mamão e as Mamonetes, formado por Marcelo Fromer, Tony Bellotto e Branco Mello; Arnaldo Antunes e Paulo Miklos eram integrantes da banda Performática; Nando Reis era percussionista da Sossega Leão; Sérgio Britto e Marcelo Fromer também se apresentaram como calouros no Chacrinha.

Antes de gravar o primeiro disco, a banda tinha nove integrantes (não se perca nas contas): Arnaldo Antunes, André Jung, Paulo Miklos, Marcelo Fromer, Tony Bellotto, Nando Reis, Branco Mello, Sérgio Britto e Ciro Pessoa. Seis eram vocalistas. Destes, Arnaldo, Ciro e Branco eram apenas vocalistas. Britto cantava e, quando não cantava, tocava teclado (até hoje é assim). Tony Bellotto e Marcelo Fromer eram os guitarristas. André Jung, o baterista. Pro baixo, Miklos e Nando revezavam: enquanto um cantava, o outro pegava o baixo. O primeiro show dos Titãs do Iê-Iê (posteriormente o nome mudaria apenas pra Titãs) foi no dia 28 de Setembro de 1982, no SESC Pompeia.

Nessa primeira fase da banda, o visual era um ponto forte (até porque musicalmente eles estavam longe ainda de serem uma boa banda. Nando ainda não sabia se o negócio dele era ou não o baixo, os arranjos eram muito simplórios e o baterista, André Jung, era especialmente fraco), contando com, por exemplo, ternos coloridos (uma cor pra cada integrante), ou roupas praticamente iguais. Exemplos disso são as apresentações da banda no programa do Chacrinha e da Hebe, respectivamente. A música? Sonífera Ilha, um dos primeiros sucessos da banda.

Depois de algumas apresentações, Ciro Pessoa deixou a banda. Segundo os próprios Titãs, justo quando estavam começando a fazer sucesso. Então, agora como um octeto, a banda entrou em estúdio para gravar seu Debut, lançado em agosto de 1984. Apesar de ter três clássicos da banda - Go Back, Marvin e Sonífera Ilha - o disco não fez tanto sucesso. Marvin e Go Back foram rearranjadas no disco Go Back, registro do show da banda no Festival de Montreux de 1988, numa versão muito melhor trabalhada. Sonífera ilha receberia o mesmo tratamento no Volume Dois, de 1998. Outras músicas também fizeram algum sucesso, como Toda Cor e Querem Meu Sangue. Interessante ressaltar que muitas músicas do disco são versões "cover" da banda para outras músicas de fora (mesmo que a letra seja original, é notória a semelhança): Marvin veio de Patches, Querem Meu Sangue veio de The Harder They Come, e Balada para John e Yoko... bem, acho que não preciso esclarecer. Interessante ressaltar que aqui, diferente de todos os outros discos da banda, as músicas com o vocal do Arnaldo são as mais fracas e não tem um maior destaque.

Depois do debut, veio praticamente uma troca de bateristas entre Titãs e Ira!: sai André Jung e entra Charles Gavin. Apesar da banda dizer no seu documentário, A Vida Até Parece uma Festa, que não foi nada pessoal e esse tipo de coisa, Jung era ruim pra cacete. Com Charles, veio Televisão, segundo disco. Vou deixar pra falar melhor sobre esse disco num Quinta Underground deles, mas a real é que tem músicas muito boas que não foram sucesso. E falando em sucesso, aqui Arnaldo já mostra uma maior maturidade nas músicas que ele canta e nas composições em geral. A faixa título, maior sucesso, é dele. Outra que fez sucesso (mas ficou melhor depois de ser rearranjada também) foi Pavimentação.

Temos, em Televisão, uma bela evolução. Apesar de não soar como a banda queria, e muito disso por causa da produção de Lulu Santos, a evolução nos arranjos é perceptível. Nando aqui toca baixo em 8 músicas das 11. E a última música, Massacre, em estúdio é meio tosca até, mas dá uma bela mostra do que o Titãs viria a fazer nos anos seguintes. Soma-se a isso o fracasso das vendas, pelo maior interesse da gravadora em promover o Debut do Ultraje a Rigor, Nós Vamos Invadir sua Praia, uma prisão de Tony e Arnaldo por porte e porte e tráfico de heroína, respectivamente (que certamente inspirou Tony a compor Polícia) e a consequente falta de oportunidade de shows, por essa "perda de inocência".

O filho disso tudo foi o Cabeça Dinossauro, clássico absoluto e sinônimo de "Titãs" até hoje. Primeira cria da parceria entre Titãs e Liminha, mostrou do que a banda era capaz.  Toda a raiva, indignação e protesto geraram críticas às mais conhecidas instituições da sociedade: Igreja, Estado (Violência), Polícia, Família (olhando a letra, apesar do reggaezinho, temos uma bela sátira, um estereótipo de família). E, além disso, outros grandes sucessos como AA UU, Bichos Escrotos (tocada nos shows da banda desde 1982, mas que só foi gravada no Cabeça por causa da censura. Falando em censura, a faixa fez tanto sucesso que as rádios até mesmo pagavam a multa para executá-la na versão original, com o verso "vão se fuder"). Porrada também fez bastante sucesso, assim como O Quê. Apesar de ser uma faixa de quase seis minutos, em sua maioria com uma pegada eletrônica, e com uma letra onde se usa, no máximo, umas seis palavras diferentes, ela é muito querida pelos fãs. O groove dela é sensacional.


Ahh, interessante ressaltar que Tony apostou uma garrafa de vinho com Branco que o disco não ia fazer sucesso. Felizmente, ele estava errado e Branco ganhou a aposta. Outra curiosidade é que Cabeça Dinossauro foi o primeiro disco que não contou com foto dos integrantes na capa. Essa tendência o Titãs segue até hoje. Desde esse disco, todos os lançamentos de estúdio que vieram depois não contam com foto dos integrantes, e Nheengatu não será diferente. Aliás, eles também falam sobre isso no documentário do Cabeça, como eles meio que forçaram a barra e se tornaram pioneiros nesse tipo de capa no Brasil.

E assim como foi com Massacre e o Cabeça Dinossauro, O Quê deu uma mostra do que a banda lançaria em 1987. Agora tidos como um dos melhores grupos nacionais, lançaram, novamente em parceria com Liminha, Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas. Com um lado A (ou melhor, Lado J - estratégia da banda para não mostrar em que lado estavam os hits do disco) bem eletrônico e um lado B (ou lado T) nos moldes do Cabeça Dinossauro, vieram mais sucessos: as clássicas Comida e Lugar Nenhum, ambas cantadas por Arnaldo, Diversão, cantada por Miklos e Desordem (que voltou a ser tocada pela banda recentemente), cantada por Sérgio. Outras músicas como a faixa título e Nome Aos Bois (uma espécie de protótipo de O Pulso), ambas cantadas por Nando Reis, foram bem tocadas à época, mas se perderam no tempo.


Após o Jesus, mais uma grande turnê, com direito a shows internacionais e o supracitado show no Montreux Jazz Festival de 1988, que rendeu Go Back. Outro disco que vendeu muito bem, trouxe, como dito antes, versões rearranjadas de Marvin, Go Back, Pavimentação e Massacre. Em 1989 chegou, no final do ano, Õ Blésq Blom, último disco da parceria entre Titãs e Liminha. Para uns, o último sopro de criatividade da banda. Para outros, o momento onde a banda encontrou sua identidade, diferente do Cabeça Dinossauro, que tem uma pegada muito inspirada no Clash e cia.


E, para mais alguns, como o meu caso, mais um ótimo disco, afinal, outros que vieram depois também são bons. O que sabemos é que Õ Blésq Blom rendeu mais alguns clássicos incontestáveis ao setlist da banda ao vivo, como Flores e O Pulso. Ainda temos Miséria e 32 Dentes como clássicos que ficaram mais pra trás. 32 Dentes até voltou pro setlist da banda tempos atrás. Com todo o sucesso dessa trilogia irretocável da banda, o seu sucesso não teria como ser diferente. Em 1991, apresentação no Rock In Rio e mais portas sendo abertas, como Hollywood Rock e etc. Mas isso é papo para outra postagem. Por hoje, vamos parar na crista da onda.

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