sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

On the Charts #31: Os 45 anos do Animals


Bom, cá estou eu aqui, novamente, para falar de mais um clássico aniversariando nesse mês de janeiro. E, convenhamos, este aqui também é daqueles de sentar, colocar no toca discos e apreciar. Para essa jornada, peço que me acompanhem mais uma vez. 

Pra quem não sabe, na última sexta-feira, dia 21 de janeiro, Animals, do Pink Floyd, completou 45 anos de lançamento. E, justiça seja feita, se alguns dos trabalhos do Floyd mostravam uma força criativa mais pronunciada de David Gilmour, esse disco é muito mais a cara de Roger Waters (aqui, inclusive, começou um certo "desconforto" dos outros membros da banda com a "ditadura" de Waters quanto ao processo criativo da banda. Entretanto, pelo menos em relação a esta bolacha e seu sucessor, The Wall - na minha opinião, em menor escala, musicalmente, mas em maior escala artisticamente). 

Fábrica que estampa a capa do disco
Animals possui uma estrutura interessante. Sendo uma releitura do clássico livro A Revolução dos Bichos, de George Orwell, lançado em 1945, Waters faz uma crítica ao capitalismo e, através das três músicas principais do disco, realiza uma separação de classes: os cães, predadores, os porcos, despóticos, e as ovelhas, que obedecem a tudo sem questionar. As três possuem mais de 10 minutos de duração, com elaboradas e diferentes introduções, passagens, solos e etc. Completam o disco Pigs on the Wing, partes 1 e 2, pequenas seções contendo apenas violão e voz, com pouco mais de um minuto de duração, que abrem e fecham o disco. Abordaremos mais detalhadamente tudo isso enquanto colocamos a agulha na bolacha e iniciamos nossa audição, então bora. 

Começamos a nossa jornada por Pigs On the Wing 1. Apesar de extremamente simples, com pouco mais de um minuto de duração, a fórmula de violão e voz, com um manso vocal de Waters, convence. Não há muita coisa a enaltecer musicalmente, pelo fato de ser uma canção realmente simples, mas sabemos que menos é mais. Interessante ressaltar, entretanto, que a fórmula utilizada seria repetida e aprimorada em Mother, um dos destaques do disco seguinte, The Wall. O tempo é parecido, bem como a progressão de acordes. Vejo muito desta música (e de sua segunda parte, ao final do disco) em Mother. Em outras músicas da banda, também, mas mais pronunciadamente em Mother.

Na sequência, temos Dogs, 17 minutos de uma das melhores músicas do Floyd, ocupando todo o restante do lado A do disco. Dentre os muitos épicos do Pink Floyd, vejo uma estrutura mais bem definida nesta aqui, diferente de outros clássicos, como Echoes e Shine on you Crazy Diamond. Amo essas outras músicas, bem como praticamente todas as músicas longas da banda, mas sinto que havia mais improvisação, esticando um pouco mais as músicas. Echoes, por exemplo, possui uma versão editada na qual 7 minutos foram cortados, sem alterar muita coisa em sua estrutura. Em Dogs isso é impossível. Há muitos solos e seções instrumentais, mas enxergo nela um trabalho mais bem amarrado, tal qual o Rush fazia em suas músicas épicas, como Cygnus Book-II: Hemispheres, por exemplo. São 18 minutos que não sentimos passar, tamanha a naturalidade com a qual a banda alonga a faixa. 

Dogs possivelmente se diferencia um pouco das duas músicas seguintes também por ser uma ideia mais antiga. Ainda em 1974 a banda já tocava ao vivo uma primeira versão do que viria a ser este clássico, chamada You've Got to Be Crazy. Provavelmente, pela época e tudo mais, o clima na banda ainda era mais amistoso e Waters e Gilmour conseguiam compor e inserir suas ideias numa boa (ou algo próximo a isso, pelo menos).

Sobre os aspectos musicais, iniciamos Dogs com violão e os "desesperados" vocais de David Gilmour. Aliás, sobre isso, Dogs é a única música do disco em que Gilmour contribuiu com a composição e vocais. Coincidência ou não, é a melhor música dentre as cinco da bolacha. Após alguns versos nessa temática mais agitada, mais desesperada, a banda entra em uma ponte para a seção do primeiro solo, que inicia após pouco mais de 3:30. Com guitarras dobradas e tudo que temos direito no melhor estilo Gilmouriano, o solo é simplesmente memorável. Construído (e muito bem construído, diga-se de passagem), mas, ao mesmo tempo, sem ocupar todo o espaço, assim permitindo que toda a banda se destaque, Gilmour desenha um solo de um pouco mais do que um minuto, no qual a temática meio desesperada pode ser sentida através das notas de sua guitarra. 

Eis que, após esse primeiro solo, temos uma pequena seção na qual a música altera um pouco o feeling, tornando-se mais "relaxada", um pouco mais Floydiana, por assim dizer. Aquela levada típica de Nick Mason, o baixo de Waters trabalhando muito bem com as pausas, Wright afiadíssimo nos teclados, como de costume, e Gilmour volta para um segundo solo, agora um pouco mais voltado para esse feeling diferente no qual a banda entrou. Após mais um belo solo, temos mais alguns versos e entramos na seção mais "improvisada", por assim dizer. 

Após Gilmour cantar "Dragged down by Stone", a última palavra fica repetindo incessantemente (e, a cada repetição, os efeitos aumentam, cada vez mais aproximando a palavra de um latido), enquanto a banda entra em uma seção que inicia praticamente sem bateria, com Mason apenas marcando o tempo no prato de condução. Aqui, meus amigos, eu recomendo fortemente o fone de ouvido. Apesar da banda estar jogando muito com a sombra, num primeiro momento, são muitas nuances. Todos os instrumentos estão fazendo algo interessante aqui, seja a levada um pouco diferente que Mason nos apresenta, seja Wright solando nas teclas, enfim. Aqui, apesar de ser uma seção de 4 minutos, eu acho bem na medida, sem ficar enjoativa. A banda utiliza, aqui, a mesma progressão de acordes do início da música. 

Não à toa, é claro. Ao final desta parte, o violão entra novamente e a música praticamente recomeça, desta vez com Waters nos vocais. Neste momento, já estamos viajando há 12 minutos junto com a banda, e simplesmente não sentimos passar. Waters canta sua estrofe, a banda repete a estrutura daquele primeiro solo e, quando iríamos entrar novamente naquela seção um pouco mais calma, a banda vem com tudo para finalizar este clássico, com uma seção ainda mais "desesperada" (coisa que Waters sabe fazer com maestria). Até pensava em dedicar uma postagem inteira de épicos para Dogs, mas eu me empolguei tanto aqui que acho que não precisa. Clássico absoluto. 


Encarte do disco
Iniciando o lado B, temos Pigs (Three Different Ones). Confesso que esta aqui também me pega bastante, é MUITO boa. Se Dogs tinha uma assinatura forte de Gilmour, Pigs é TOTALMENTE Waters. Um pouco mais curta ("só" 11 minutos), inicia c
om um belíssimo trabalho de Wright no teclado (o que só evidencia a falta que esse monstro faz), com Waters acompanhando em um pequeno "solo" de baixo. Pigs é um dos melhores trabalhos de Waters nas quatro cordas. Além disso, o vocal é gritado, raivoso, wateriano. Do jeito que ele gosta de fazer. A letra transmite uma raiva, uma forma de protesto contra o capitalismo, utilizando-se da metáfora orwelliana dos porcos, que são os comantantes da revolução dos bichos e que, após a revolução, se tornam o novo inimigo, pegando para si muitos dos privilégios. Como falam no livro, alguns animais são mais iguais que os outros. 

Enfim, aqui tudo se desenvolve um pouco mais rápido. Waters canta algumas estrofes e, antes dos quatro minutos, já estamos em uma riquíssima seção instrumental, na qual o grande destaque é Wright, que faz um trabalho sensacional não só utilizando seu instrumento da forma convencional, mas também emulando efeitos que lembram o som emitido pelos porcos, intencionalmente distorcido e de forma a causar o "desconforto" no ouvinte. É uma ambientação perfeita, muito bem construída. Após esse solo (de uns três minutos), a música também praticamente reinicia, de sua introdução, com o teclado e o baixo, para mais uma última estrofe e refrão, e sua finalização, desta vez com Gilmour solando de forma feroz, com uma guitarra bem distorcida, até o final da música, em fade out. É outro puta som, sem sombra de dúvidas. 


Finalizando a trinca de épicos, temos Sheep. Apesar de sempre ter considerado ela como a mais fraca das três, também é uma música com bastante pegada. Ela inicia leve, com o teclado de Wright fazendo um pequeno solo, mas quando entra a banda toda, o som é forte. A levada de Mason aqui é pra frene, lembra um pouco o seu trabalho em One of These Days, do Meddle. Basicamente, não é uma música ruim, longe disso. Mas, das três, ela é a menos impactante, talvez por vir na esteira de duas músicas MUITO boas anteriormente. Sinto que ela é a mais "sem rumo" na sua seção instrumental no meio, por assim dizer. Não que não seja relativamente bem estruturada, mas não impacta como Dogs e Pigs (coincidentemente, as ovelhas, no livro, são os animais com menos personalidade... não sei se foi intencional, mas vai saber). 

Falando em coincidência, os últimos dois minutos da música são de destaque. Coincidentemente onde a guitarra de Gilmour está em evidência em uma espécie de riff criado para esse final, acompanhado de algumas viradas de Mason, que, apesar de simples, sempre são um destaque, considerando que Mason é um adepto quase extremo do "menos é mais". 

Por fim, após esses quase 40 minutos de intensidade, muita música boa e alguns clássicos, chegamos em Pigs on the Wing 2. Instrumentalmente, ela é praticamente igual à primeira, mas possui uma letra diferente. Não há muito o que dizer, ficam as palavras da primeira parte. Gosto de ressaltar que, após essa atmosfera mais pesada das músicas centrais, e suas letras, é interessante a ideia da banda de finalizar com um pouco mais de leveza. É um final muito bom para um disco quase perfeito. 

Uma coisa que lamento até hoje é o fato da banda não ter feito uma versão de Animals para aquela coleção Immersion, que foi lançada em 2011. Lembro que, à época, teci uma espécie de crítica, como se fosse um caça níquel e etc. E talvez seja, ok. Mas o capricho com o qual o Floyd trata sua obra é digno de aplauso, e, considerando a sequência de seus quatro clássicos absolutos (Dark Side of the Moon, Wish You Were Here, Animals e The Wall) e o relançamento de três deles nessa coleção, me pergunto por que não pensaram em fazer o mesmo para o Animals, ainda mais considerando que é um disco de forte apelo conceitual e visual (eles poderiam incluir um porquinho inflável no boxset 😂). Mas acabou passando, infelizmente. Fazer o quê?

Enfim, por hoje era isso, pessoal. Apesar de ter começado com dois On the Charts mais típicos do Nata, de bandas consagradas do rock e tudo mais, teremos um próximo que vai explodir a cabeça de vocês 😵). Vocês não perdem por esperar. Até lá! 


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