domingo, 22 de março de 2015

On the Charts #20: Os 40 anos do Fly By Night
























Pois é, ainda estamos tirando os atrasos do início do ano. Depois de cobrir os discos de 2014 e de janeiro desse ano, chegamos em fevereiro. Além desse, nos próximos dias vai sair um On the Charts do Physical Graffiti, do Led Zeppelin, que também foi lançado em fevereiro. Mas o dia de hoje é, de novo, do Rush, então vamos lá. 

Fly By Night é o segundo disco de estúdio do Rush. Lançado em 15 de fevereiro de 1975, é a primeira guinada do Rush em direção à sonoridade que o consagraria, ainda que a mudança seja sutil. Vários são os fatores para isso. Primeiro, a mudança na formação. Sai John Rutsey, entra Neil Peart. E, convenhamos, não foi só pela questão da saúde de Rutsey. John era realmente limitado, e o som da banda acabava ficando aquém do que poderia ser. Claro que o debut da banda é simplesmente genial (o On the Charts dele ficou por conta do Leão, quem quiser dar uma conferida, só clicar aqui), afinal, ser definido como "um novo Zeppelin" não é pouca merda, e, duvido que com Peart atrás do kit, a banda pudesse fazer algo tão cru e "simples" como In the Mood ou até mesmo Working Man. Tudo na história do Rush tem uma razão, e ser privado de um debut como esse seria algo, no mínimo, broxante. 

Segundo, o próprio amadurecimento musical de Lee e Lifeson. Os dois já mostravam grande potencial e técnica no primeiro disco, mas, com a chegada de Peart, a compatibilidade da banda ficou muito mais apurada. Assim, a dupla sabia que podia contar com um baterista extremamente sólido e preciso atrás do kit, podendo exagerar o quanto quisesse nas trocas de tempo e complexidades em geral. Por isso, Fly By Night soa híbrido. Em alguns momentos, parece que estamos ouvindo uma versão mais sólida do debut. Em outros, uma versão simplificada de Caress of Steel ou 2112. Logicamente, isso só foi possível porque a entrada de Peart se deu duas semanas depois do início da turnê em 1974, ou seja, o tempo para a formação nova se entrosar foi mais que suficiente. 

Isso fica evidente logo no começo do disco. Anthem, a música mais megaputaqueparivelmente impossível de se reproduzir na bateria. 30 segundos ouvindo o novo disco e já dava pra notar que Peart veio para elevar a coisa a outro nível. Somemos isso ao baixo de Lee, sempre marcante, além de seus altíssimos agudos, tão memoráveis quanto irritantes (em alguns momentos), e Lifeson com seu clássico estilo de "riff de acordes". Música que nasceu clássica, teve um bom pedaço reproduzido na R30 Overture, da turnê de 2004. Uma abertura de 10 minutos, onde músicas dos primeiros 6 discos montaram uma medley simplesmente sensacional. E a banda não decepcionou, mesmo com 30 anos a mais nas costas. Interessante ressaltar o solo de Lifeson, bem mais rock'n roll do que o normal. Uma herança do primeiro disco, certamente. 

Se Anthem começa assim, complexa, Best I Can, segunda música, vem pra dar uma lembrada no disco anterior. Nada fora do esperado, afinal, é uma música da época de Rutsey (foi até tocada ao vivo com a primeira formação, aqui, por exemplo). Uma das melhores da bolacha, sem dúvida. Riff marcante, extremamente simples, um rockzão mais simples mesmo. Seguindo, temos Beneath, Between and Behind. Um andamento mais intrincado, uma letra reflexiva, como de costume, e uma linha vocal que segue a guitarra e bateria, no refrão, algo raro nas músicas do Rush. Como se não bastasse tudo isso (em pouco mais de 2 minutos), no final temos uma passagem mais funky, trabalho sensacional de abertura de hihat, cortesia de Mr. Peart. 

Eis que chegamos a By-Tor and the Snow Dog, pra fechar o lado A. Bem, fora o fato de falar que a letra fala sobre uma "batalha" entre as duas figuras que nomeiam a música, a letra em si que se foda. O que interessa é justamente essa batalha, protagonizada pelos instrumentos. Temos aqui a primeira evidência fortíssima do que o Rush estava virando. Uma música que, depois de suas duas primeiras estrofes, deixa o pau comer solto durante vários minutos, para retomar a letra lá no final. E como isso acontece? Bem, logo após os primeiros 2 minutos, temos o solo de Lifeson, onde ele faz um uso grande de "guinchos" em sua guitarra, simulando essa batalha. Após um tempo na mesma, entra um riff de guitarra repetido algumas vezes por Lifeson, seguido por Lee e Peart algumas vezes também. Depois disso, entramos em uma sequência de duelos entre guitarra/baixo e bateria, até chegarmos àquela regressão clássica nos compassos. Primeiro, seis marcações. Depois cinco, quatro, três, duas, até finalmente chegarmos em um longo acorde. 

Nesse momento, já estamos em cinco minutos de música, e, depois daquele grande jogo de luz e "barulho" de antes, um pouco de sombra. Teclado, efeitos de guitarra, batidas mais despretensiosas de Peart na caixa. Eis que um longo rufo, seguido de uma virada, puxa a próxima seção da música: um solo de Lifeson, com uma influência bem grande, eu diria, no blues. Aqui, Lee e Peart fazem apenas uma marcação simples e quem realmente brilha é Alex. Isso até que, depois de algumas voltas de solo, os três se sincronizam novamente em uma sequência de notas que puxa, novamente, o andamento do começo, onde Lee narra sobre o fim da luta, onde Snow Dog venceu. Na real, os vencedores são os ouvintes, presenteados com oito minutos e meio de pura genialidade. 

Depois desse momento mindblowing, a faixa título vem pra abrir o Lado B e acalmar um pouco as coisas. Sempre foi uma das minhas preferidas. Simples, mas cativante, com sua belíssima letra sobre mudanças, novos ares, a guitarra de Lifeson mais limpa do que nas músicas anteriores, fazendo um trabalho muito mais calcado na base. É mais uma daquelas músicas que nos lembra do primeiro disco, principalmente pelo solo de Alex. 

Mantendo esse ambiente mais "balada" do lado B, temos Making Memories. Confesso que sempre achei ela e Rivendell, a música seguinte, meio inertes ao disco, não fedem nem cheiram e tal. Mas elas têm o seu valor. Em Making Memories, o violão de Lifeson, o slide, o vocal mais contido de Geddy, a própria bateria mais contida de Peart, tudo isso contribui para presenciarmos uma atmosfera meio rara em uma música do Rush. E essa tendência se mantém em Rivendell. Ao som de voz e violão, apenas, Lee e Lifeson despejam nas caixas de som uma das melodias mais bonitas que eu já ouvi. Sem falar na contribuição de Peart para a música (para todo o disco, na real), com sua letra. 

Para encerrar essa obra prima, In the End. Mais uma música que começa com violão, voz e, aqui, com a adição de baixo e leves intervenções de Peart, nos pratos. Mas apenas até os dois minutos, depois disso Lifeson liga a distorção da guitarra e a música, que já tava bem encaminhada, vira uma power ballad. In the End era tida como única na discografia da banda, singular e tal. 38 anos depois, The Garden, a música que fecha Clockwork Angels, o trabalho mais recente do trio, é lembrada por ter uma ligação com In the End. Nada relacionado com letra ou algo similar, apenas o estilo da composição mesmo. E posso afirmar que as duas são fechamentos digníssimos dos dois discos. 





Bom, acho que eras isso por hoje. Espero realmente que o Leão poste nos próximos dias sobre os 40 anos do Physical Graffiti, porque, se cair na minha mão, vai rolar MUITA zueira por causa dos plágios, podem ter certeza disso. Só pra ele ficar putinho e parar de preguiça. E, mais uma vez, me desculpem por parecer político fazendo promessa. A partir de abril teremos um planejamento mais rigoroso pro mês, sem esse negócio de postar o que dá na telha. Vou trabalhar duro para ver o blog crescer mais, afinal, não podemos ficar estagnados. A próxima postagem vai ser sobre isso, fiquem ligados. Valeu! 

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