terça-feira, 3 de março de 2015

On the Charts #19: Os 35 anos do Permanent Waves


Mais um que vai sair atrasado, mas o motivo é outro. Diferentemente do Sheer Heart Attack, que demorou por preguiça minha, esse aqui, por fazer aniversário no dia 1° de janeiro, emendou com vestibular, festa, saídas, ensaio, praia, enfim. Outras postagens, é claro, passaram à frente na prioridade. Mas estou aqui pra corrigir isso, então vamos lá. 

Permanent Waves é o sétimo disco de estúdio do Rush, lançado em 1° de janeiro de 1980. Considero esse disco um dos melhores da carreira do Rush, principalmente por ser um dos lançamentos da fase mais inspirada da banda, que se estende, na minha opinião, do Rush, de 1974, ao Clockwork Angels, de 2012. Não, brincadeira. Pra mim, a fase mais "apurada" do som do Rush, em todos os termos (porque sim, uma música, mesmo que longa, pode ser cativante - ponto no qual o Caress of Steel peca um pouco), vai do 2112 ao Signals. E, já que citei o Caress, é sempre importante ressaltar que, não fosse ele, não teríamos um 2112. E essa fase do Rush mostra muito bem esse "padrão". O disco seguinte, A Farewell to Kings, direcionou o som da banda pro que viria a ser o Hemispheres. Pode-se tranquilamente dizer que os dois discos têm um parentesco. 

Pois bem. Seguindo essa lógica, não fosse o Permanent Waves, não teríamos o Moving Pictures. E bem, acho que esses dois discos dispensam maiores explicações. São as duas maiores provas de que, mesmo simplificando seu som, o Rush conseguia se manter incrivelmente complexo e com um padrão de qualidade altíssimo. Isso sem falar em uma espécie de "sucesso comercial". Afinal, não é todo dia que uma banda faz duas músicas que, apesar de complexas, não passam de 5 minutos e são extremamente populares. Tom Sawyer e The Spirit of Radio só perdem pras duas primeiras partes de 2112 e Closer to the Heart no ranking das músicas mais tocadas em shows do Rush. E, muito provavelmente, porque essas duas/três que estão à frente são 4, 5 anos mais antigas. Mas chega de enrolação e estatística. Vamos ao que interessa. 

Imagine o impacto de quem ouviu, pela primeira vez, lá em 1980, Spirit of Radio. Não só de quem comprou originalmente o disco. Eu fiquei impressionado quando ouvi, o Leão provavelmente ficou. Na boa, eu, nesse momento, depois de ter ouvido ela 308478327503488067834 vezes, estou arrepiado, escrevendo a postagem, enquanto canto e batuco na mesa do pc feito um retardado. É uma música simplesmente apaixonante, inclusive pelo prazer que dá tocar ela na bateria. Neil Peart, como sempre, faz um trabalho de excelência aqui, mesmo que seja uma de suas linhas mais simples. Junte isso ao Lifeson mandando uma sucessão de riffs sensacionais, todos os momentos de luz e sombra da música, Geddy destruindo no baixo e cantando melhor que no começo da carreira e temos essa obra prima. 

E, emendando logo de cara, sem deixar o ouvinte parar pra pensar no que passou nesses últimos 5 minutos, Freewill. Outro riff matador de Lifeson, letra sensacional de Peart. Mas, logicamente, o grande destaque dessa música é o final, a partir do solo (importante ressaltar, quando tu ouve, parece que TODOS estão solando, tamanha a complexidade dessa seção da música) e, bem, o que vem depois dele. Leia-se Geddy Lee gritando que nem um doente, cantando num tom absurdamente alto. Bom, outra música do calibre de Spirit of Radio, mesmo que não tão lembrada nos setlists (não quer dizer que não foi tocada inúmeras vezes).

Poster da turnê, incrivelmente original -sqn
Depois desses primeiros dez minutos estonteantes, entramos em Jacob's Ladder, pra fechar o lado A. Confesso que raramente ouço ela, nunca me chamou a atenção. E, realmente, competindo com "concorrentes" como as anteriores, fica difícil se destacar mesmo. Basicamente, é uma música de uma atmosfera muito mais sinistra do que qualquer outra coisa. Lifeson faz um belo solo nela, seguido por Geddy, que abusa do moog em seu solo. Além disso, é interessante ressaltar que, apesar de seus 7:30 de duração, é a menor letra do disco, com a estrofe do início e mais algumas linhas. Duas cantadas por Geddy durante o solo de moog (seguindo a progressão do solo) e duas no final. Acredito que justamente seu caráter de "improviso" (beeeem entre aspas) faça ela soar estranha aos meus ouvidos, afinal, ela está entre outras músicas bem amarradinhas, que não abrem mão de uma teórica "face mais comercial", mas têm a cara do Rush, lógico. 

Abrindo o lado B, temos mais uma dessas citadas acima. Entre Nous foi uma música extremamente injustiçada. Nunca havia sido tocada, até 2007. Ela estreou ao vivo na turnê do Snakes & Arrows. Pra mim, é a música mais fácil de assimilar do disco inteiro. Simples, mas que não abre mão da qualidade. Quem se destaca aqui é Peart e seu trabalho sensacional de hihat, principalmente antes do refrão, antes do solo e em alguns momentos que ele faz um double time misturando com um trabalho de abertura. Lifeson sempre fazendo um trabalho sólido nas estrofes e, no refrão, se utilizando do violão de forma genial. 

Falando em violão, posso estar enganado, mas ouço um 12 cordas soando em Different Strings. Aliás, é uma música tão "diferente" que Geddy toca piano nela (claro que é o teclado, mas com som de piano mesmo). Apesar de todo esse zelo, ela também soa um pouco deslocada, se comparada às outras músicas do disco. Acredito que isso ocorre por ela também ter uma atmosfera diferente da "alegria" de músicas como Free Will e Spirit of Radio. Mesmo assim, sendo mais fraca que as quatro principais, ela ainda está um patamar acima de Jacob's Ladder, essa sim a mais fraca do disco. 

Eis que chegamos ao final. Mas calma que ainda tem muita água pra rolar, afinal, estamos falando de Natural Science e seus incríveis 9 minutos. Ao estilo de uma "viagem espacial", começamos devagar, calmamente, como se esperássemos pelo lançamento do foguete. Lifeson, com o violão (acredito que é o de 12 cordas, mais uma vez), e Lee, despejando uma filosófica letra (mais uma das obras de Peart), dão o tom dos primeiros dois minutos. Eis que Lifeson puxa o riff que mudará a música (e vai voltar algumas vezes durante os minutos restantes). 

Depois disso, chegamos na segunda parte, onde a música muda completamente. Peart entra pra valer na música, Lifeson mostra uma outra linha de guitarra, mais sombria, e Lee grita a letra, num tom mais alto e "sofrido" que antes. Depois de uns dois ou três minutos, volta o riff principal, e, lá pelos 5 minutos, a progressão que sempre antecede os versos na última parte. Essa progressão, a letra e o riff ficam se alternando, em um "duelo" sensacional, elevando a música a seu clímax. Bem, não é à toa que essa música era a última do primeiro set na turnê do Vapor Trails (a turnê que originou o Rush in Rio). 

E assim terminamos Permanent Waves. Um disco que, apesar de mostrar que a banda havia abandonado aquele estilo épico setentista que originou 2112 e Hemispheres (e que nunca mais voltaria a fazer algo nesse estilo), serviu pra mostrar também que o Rush não se limitava a um estilo de som - o que ficou muito claro ao longo dos oitenta - e que, mesmo sendo mais "simples" (sempre entre aspas), é um dos melhores discos do trio, must have e tals. 


Bem, não sei o que vou postar amanhã, não sei nem SE vou postar amanhã, mas né, sempre surge uma ideia boa no meio do caminho. Fiquem tranquilos que aqui sempre estarão em boas mãos. Seis, no nosso caso. Valeu!

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