terça-feira, 21 de outubro de 2014

On the Charts #16: Os 45 anos do Hot Rats

Acho que a eleição tá me influenciando bastante, porque eu prometi essa postagem algumas vezes na página do facebook. Desculpem a demora, é que toda vez que eu pensava em parar pra fazer ela, tinha outra coisa mais importante ou eu achava que ia ficar uma bosta. Hoje, porém, senti que o bagulho ia fluir, então vamos lá.

Hot Rats é o segundo álbum solo de Frank Zappa (os anteriores todos foram lançados sob o nome de sua banda, The Mothers of Invention, e seu primeiro álbum solo é Lumpy Gravy, de 1967), gravado em uma mesa de 16 canais (tecnologia revolucionária para a época), entre 18 de julho e 30 de agosto de 1969, em três estúdios diferentes: o TTG e o Sunset, ambos de Los Angeles, e o Whitney, de Glendale. Foi lançado em 10 de outubro de 1969 e dedicado a Dweezil Zappa, seu primeiro filho (homem, porque Moon Zappa, mais velha da prole de Frank, nasceu em 1967).

Hot Rats não é para quem é iniciante na música do Zappa. Uma inadvertida primeira audição pode ser traumática, a pessoa pode pensar que é música pra louco - não que não seja, de certa forma. Como eu sou meio louco, já saí ouvindo ele de cara, por meio do coluna MTV (única vez na vida que a MTV fez algo que preste pra minha vida). Quem nunca ouviu Frank Zappa na vida, sugiro músicas mais palatáveis de início, como Watermelon in Easter Hay, San Ber'dino e Bobby Brown. Depois, o Hot Rats é sim uma boa pedida, pois é um dos discos mais consistentes da carreira de Frank. Extremamente calcado no jazz, Hot Rats é composto de muitos solos, músicas instrumentais (é, basicamente, um disco instrumental, fora um trecho de dois minutos em Willie the Pimp, que conta com vocais de Capitain Beefhart) e longos improvisos. Considerando que as bases foram gravadas em três dias, o resultado não poderia ser melhor. Como o próprio Zappa definiria Hot Rats, é "música para os ouvidos".

Começamos nossa aventura por Peaches en Regalia. Talvez o maior clássico de Zappa. Seu "cartão de visitas". Realmente, se tem uma música que define o que é Frank Zappa, é ela. Estava vendo a versão que Dweezil, sem dúvidas o filho mais fiel de Frank, fez no Zappa Plays Zappa, e é inacreditável. Bem que os instrumentos soam meio indefinidos, os solos nunca são de um instrumento só. É xilofone com guitarra, teclado com xilofone, teclado com guitarra, sax com xilofone e guitarra, enfim. Inúmeras misturas, que geram um clássico incontestável.

Willie the Pimp, segunda música, já é um pouco diferente. De cara, temos a presença de violino, tocado por Ian Underwood, depois entra baixo e guitarra. Por fim, Beefhart começa a cuspir a letra, com seu vocal rasgado. Depois, entra um monte de percussões aleatórias, fazendo um belo jogo de lados do aparelho de som. Tudo isso nos primeiros quarenta segundos. Lá pelos dois minutos, Beefhart nos deixa, assim como a percussão. O que fica é Zappa DEBULHANDO a guitarra por sete incríveis minutos, até repetir o riff lá pelo nono minuto e encerrar a música. Destaco aqui o trecho entre 3:40 a 5:40. Na real, seria uma música normal, com início, vocal, solo e fim, se não fosse Zappa.

Son of Mr. Green Genes fecha o lado A. Tem uma estrutura similar à Willie the Pimp. Fora o fato de não ter vocal, tem duas "estrofes de riff" e depois segue por um longo solo de 7 a 8 minutos, até repetir o riff do início e finalizar. Apesar disso, não é tão roqueira quanto a anterior, algo um pouco mais, digamos, marcial. Também é um dos destaques do disco, que começa a decair um pouco a partir daqui. Apesar disso, de maneira alguma ele fica ruim.

Little Umbrellas abre o lado B. Outra música curta, a exemplo de Peaches en Regalia. É legal, tem um baixo bem marcado e um solo de sax que é sensacional. Falando em sax, The Gumbo Variations, música seguinte, é a grande megalomania do disco. Com seus quase 17 minutos, ela tem de tudo. Nos primeiros 7, é o sax que domina, com MUITO improviso. A partir dos 7:30, entra a guitarra e dá uma equilibrada. Como podem perceber, ela tem de tudo mesmo, solo de sax, guitarra, baixo e bateria, que ficam sozinhos no final, "duelando". Só o final dela consome uns 2 minutos. Enfim, só ouvindo pra entender. Mas alerto vocês, vai ser uma das mais difíceis de digerir. E, sinceramente, por mim o disco terminaria em The Gumbo Variations. Não gosto de It Must Be A Camel, só estou citando-a aqui para não fazer uma desfeita ao disco. Ela tem um solinho de bateria, de marcante, e... só. Não chama a atenção por mais nada, sendo, disparadamente, a mais fraca do disco. Dispensável, eu diria.



Bom, galera, eras isso. Deixem o tio Zappa entrar em vossos corações, não vão se arrepender. São 45 minutos bem gastos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário