segunda-feira, 8 de junho de 2015

On the Charts #26: Os 45 anos do In Rock

Os clássicos não param. Mesmo negligenciando alguns discos aniversariantes, a quantidade de disco bom que vai aparecer no On the Charts esse ano é absurda. E cá estamos com mais um desses (hoje que a internet permitiu isso), então vamos lá. In Rock é o quarto disco de estúdio do Deep Purple, lançado em 3 de junho de 1970. Produzido pelo próprio grupo (aliás, que grande diferença, comparado com os trabalhos medíocres das bandas atuais, que contam com o melhor equipamento e se cercam de vários produtores), foi gravado entre outubro de 1969 e abril de 1970, em estúdios de nome na Inglaterra, como o De Lane Lea e o Abbey Road.

Primeiro disco que conta com Ian Gillan no vocal e Roger Glover no baixo, a clássica Mk II, é parada obrigatória para todo apreciador do som da banda. Posso afirmar, sem medo algum, que a grande mudança do som do Purple começa aqui. Sai aquele rock mais sessentista, moldado para o vocal de Rod Evans, e entra o hard, o peso, os agudos, velocidade, todas as características que marcam o som mais conhecido do Purple. Ainda não é a obra acabada, pelo menos na minha opinião. Aqui sobra virtuosismo, temos cinco ótimos músicos que, praticamente o tempo todo ficam demonstrando sua habilidade, fruto de uma maturidade ainda não totalmente desenvolvida. Pra mim, esse ápice de maturidade se deu com o Machine Head, dois anos depois, onde a banda, além de mais entrosada, já tinha uma maior experiência musical, sabendo melhor em que terreno pisar. Mas o Machine Head é outra história (quem quiser conhecê-la, só clicar aqui). Hoje o disco é outro, e vamos logo a ele. 

Começamos com um Big Beginning. Um acorde, a banda toda fazendo bagunça, o negócio já começa barulhento, e se estende até uns 50 segundos assim, até que ficamos apenas com Lord fazendo uma pequena melodia, dando uma acalmada nos ânimos e... "GOOD GOLLY, SAID LITTLE MISS MOLLY!", Gillan entra mostrando por que estava no lugar que outrora fora de Rod Evans. Speed King é rápida, gritada, técnica. A letra, com apenas duas estrofes, conta com várias referências ao velho rock'n roll,  sensacional. Ela é separada ao meio por um belo solo, como sempre os duelos entre Lord e Blackmore. Speed King, ao vivo, era famosa por ganhar versões quilométricas, beirando os 15 minutos. Bom, quando eu falo que a tônica da banda era essa, de optar mais pela virtuose, é aí que eu me refiro. Os shows da turnê do In Rock, não raro, tinham seis ou sete músicas no setlist. E shows de uma hora e meia, claro.

Seguindo, temos Bloodsucker. Tenho que admitir que foi muita coragem do Gillan regravar ela lá em 1998, no Abandon. Outra música sensacional, completamente negligenciada na época do Blackmore, assim como muitas músicas dos quatro discos clássicos da Mk II. Músicas como Rat Bat Blue, Hard Lovin' Man, Maybe I'm Leo, entre outras, só foram conhecer uma versão ao vivo com Morse nas seis cordas. Chola mais, viúvas do Blackmore. Mas voltemos à música. Um riff grudento, como a maioria que saía das mãos de Ritchie, a banda dando uma segurada maior no improviso, deixado apenas para Gillan a tarefa de alcançar agudos inacreditáveis ao fim de cada estrofe. Adoro o solo dessa música, além de ser divido entre metade guitarra e metade teclado, sempre tem uma quebrada antes de cada volta, mostrando o grande entrosamento da banda.

Fechando o lado A, Child In Time. Bem, é um plágio uma música (mas sim, o Purple, infelizmente, plagiou uma parte da harmonia) que dispensa maiores explicações. Grande clássico da banda, é uma música de 10 minutos que conta apenas com oito versos, repetidos duas vezes. Como isso? Deep Purple dos anos 70. Além dos oito versos, Gillan faz uma vocalização, progressivamente mais aguda, até chegar num momento que... bem, não é à toa que eles não tocam ela há quase 15 anos ao vivo (e, decentemente, há uns 20). Child in Time tem um formato muito similar a algumas músicas do Rush, como The Camera Eye e Xanadu (principalmente a primeira). Ela é construída ao longo dos primeiros seis minutos. Os primeiros três contam com Gillan, os últimos são de solo, onde a banda vai crescendo progressivamente, aumentando a velocidade e o volume. Ao final desse solo, tudo para e, praticamente, voltamos ao início. Os últimos quatro minutos são, basicamente, a repetição de parte dessa sequência. Não considero isso repetitivo, de maneira alguma. É uma música épica, feita em uma época que a preocupação do ouvinte era, de fato, ouvir a música por completo, saborear cada minuto.

Pra iniciar os trabalhos no lado B, Flight of the Rat. Essa sim, totalmente negligenciada pela banda, a única música do disco que nunca conheceu uma versão ao vivo, mesmo sendo um puta som. Um riff simples, rápido, uma letra um tanto quanto divertida. Aqui o solo começa com Lord, passa por Blackmore, depois por uma seção muito funkeada e, após mais de dois minutos de solo, temos uma paradinha e volta o riff do início, para Gillan entrar de novo, repetir o início da letra. Logo após, temos uma outra seção mais funkeada, mais uma volta do riff, e chegamos ao final, onde tudo para, Gillan grita "please stay away", e Paice, sozinho, começa a repetir uma sequência de notas, alternando entre mãos e pés. Começa devagarinho, e, ao longo dos últimos 30 segundos da música vai acelerando insanamente.

Após esses últimos 17 minutos, que representaram "apenas" duas músicas, chegamos à música mais curta do disco. Ainda assim, contando com apenas três minutos e meio, Into the Fire conta com Gillan gritando muito, quebradas, solo de Blackmore e Lord, um final longo, enfim. Já fui mais encantado por ela em outros tempos. Vi ao vivo em 2009, e o Gillan ainda manda bem, dentro do possível, apesar de ter quase 70 anos. Um dos motivos de eu não ser tão encantado assim com ela é esse fato dela NUNCA sair do setlist. Mas é um belo som, sem sombra de dúvidas.

A penúltima música é Living Wreck. Ela certamente seria tão underrated quanto Flight of the Rat, não fosse a banda tocar ela ao vivo algumas dezenas de vezes, em 2006. Ela começa com Paice fazendo uma levada um tanto quanto funkeada, entrando em fade in. É uma música bem divertida de tocar. Aliás, falando em divertida, o que é essa letra? Som simplesmente sensacional, simples, mas intrincado. Ela é mais calma, comparada com as outras, mais parecida com o que a banda viria a fazer em músicas como Strange Kind of Woman e Maybe I'm Leo.

Fechando com chave de ouro esse clássico, Hard Lovin' Man. Outra que começa com um "Big Ending no início", mas bem mais curto, apenas dois acordes e, logo com 20 segundos, Glover já manda a melhor linha de baixo do disco. Esse estilo mais cavalgado vai seguir durante toda a música. Aqui, sem dúvida, os maiores destaques são Lord, Glover e Paice. Apesar de Blackmore tocar bem como sempre e Gillan gritar um monte, não chamam a atenção pra si. Tanto que essa música só entrou no setlist a partir de 2010, e de lá não saiu mais. É uma música longa, cheia de solos, então é melhor pra preservar o velho, mesmo que ele tenha que gritar um pouco de vez em quando.

Pra se ter uma ideia do que estou falando, até os três minutos e meio, o solo é apenas de Lord. Aí Gillan entra, com um pequeno gongo (como ele o faz ao vivo também), para toda a música, e voltamos, agora com Blackmore solando. Aqui a letra é estilo Gillan das antigas, beeeem sugestiva. No final, também contamos com bastante improviso, Blackmore começa a solar e toda a banda desaparece, ficando apenas ele por alguns segundos. Após isso, a banda volta e o som começa a ficar cada vez mais "bagunçado", até que sobra apenas Blackmore de novo, arranhando as cordas da guitarra, fazendo aqueles finais estilo show. Confesso que o disco poderia acabar de forma mais impactante, mas, depois desses 43 minutos, o ouvinte já está anestesiado. E assim terminamos esse clássico.



Edição de 25 anos: entre os extras,
lá está Black Night.
Uma curiosidade interessante é que Black Night não entrou no disco porque faltou espaço. O maior clássico desse disco foi feito pela banda para ser single. Foi mais ou menos o que o Purple fez com Strange Kind of Woman, no disco seguinte. O auge da banda era tão monstruoso que fomos brindados com outtakes, singles que viraram os maiores clássicos. Por isso que eu sempre defendo muito o Purple, em relação a esse menosprezo que ele recebe estando entre bandas como Black Sabbath e Led Zeppelin. Se o Purple tivesse acabado em 1976, seria uma das maiores da história também. Quis o destino que eles voltassem em 1984. Se, por um lado, a banda sacrificou essa "mística", essa grandeza, nos brindou com a oportunidade de assisti-los ao vivo atualmente. E, sinceramente, prefiro essa opção.

Bom, galera, por hoje era isso. Desculpem pela enrolação, mas achei melhor deixar a postagem da Bruna ir sozinha pro blog sábado. Duas postagens no mesmo dia tirariam o impacto individual de cada uma. Valeu! 

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