sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

On the Charts #17: Os 45 anos do Let It Bleed


Demorei pra voltar com o On the Charts, por falta de inspiração e um pouco de preguiça mesmo. Tem uma lista enorme de discos que ficaram pra trás, vou ter que fazer um intensivão até o final do ano pra compensar. Nomes como The Wall, Sheer Heart Attack, Õ Blésq Blom e Willy and The Poor Boys. Mas não faz mal, estamos voltando e com um nome de peso. 

Nesse dia, há 45 anos atrás, chegava às lojas um disco que consolidaria o sucesso dos Rolling Stones. Let it Bleed é a primeira contribuição de Mick Taylor como guitarrista da banda, já dando uma mudada no som dos Stones. Gravado no Olympic Studios, em Londres, Let It Bleed traz uma banda que já alça voos mais altos, com alguns traços até de, pode se dizer, megalomania. Apesar da ousadia e do risco, o que o tempo pôde provar é que deu certo. A partir dessa época de gravação, os Stones começaram a participar de shows maiores, como Hyde Park e o infame concerto de Altamont (que esses dias deu na TV, até cachorro cruzando o palco tinha). Até hoje ele é o disco que conta com mais músicas nos setlists do grupo, além de ser o disco mais tocado na história dos shows da banda. 

E, logo de cara, nos deparamos com o clássico dos clássicos. Sim, fã modinha, não estou falando de Start Me Up. Aqui o negócio é clássico mesmo. E, quando falamos de clássico mesmo, falamos de Gimme Shelter. As guitarras, o solo perfeito, os duelos vocais da voz grave de Jagger com o agudíssimo timbre de Merry Clayton. Aliás, quem nunca tentou alcançar o tom que ela alcança nos refrões (e desafinou que nem ela na gravação? Sim, se prestar atenção, vai perceber que ela desafina feio bem no meio)? Bom, uma música que, apesar de lenta, tem o tempero dos Stones. Uma coisa que prejudica ela um pouco é a qualidade precária da gravação, típica dos anos 60. Ainda assim, não tira o brilho desse clássico.

Apesar disso, sobre Love in Vain, a música seguinte, não podemos dizer o mesmo. Apesar do toque country, a música ficou cansativa, com seus mais de quatro minutos. Morosa e preguiçosa, eu considero o ponto fraco do disco, mesmo com interessantes passagens de guitarra. Acredito que o que a banda queria fazer nessa música não alcançou êxito nela mesma, mas sim na seguinte. Country Honk é, adivinhem só, uma versão country de Honky Tonk Woman. E aqui a banda mandou muito bem. Violinos, um caipirismo sem tamanho, que encaixou bem demais. Parece quase um bluegrass. Sensacional define. 

Foto com a contracapa também... bem interessante 
Após isso, Live With Me nos cativa, logo de cara, com sua proeminente linha de baixo. Sim, se tem uma coisa que eu defendo com todas as forças é o seguinte... PRESTEM ATENÇÃO NO BAIXO. Bill Wyman é um BAITA dum baixista que fica ofuscado pelo ego gigante do Jagger e do Richards. As linhas dele, além de serem de um nível técnico considerável, tinham muito feeling e conseguiam encontrar seu espaço na música, sem soarem deslocadas. Além disso, Live With Me impressiona pela polidez de sua gravação. O som é incrivelmente claro. 

Como se não bastasse toda a fodalhonice dessa música, o solo aqui é de sax tenor, magistralmente tocado pelo agora saudoso Bobby Keys. Se não me engano, foi a primeira participação de Bobby em algum trabalho dos Stones. Após isso, foram 45 anos de discos e shows na banda de apoio dos Stones, até mais ou menos um mês atrás, quando se afastou por "problemas de saúde", segundo o perfil oficial da banda no Facebook. Infelizmente, não eram probleminhas pequenos, como a banda dava a entender no perfil, e Bobby, infelizmente, não voltou. 

Pra fechar o lado A, Let It Bleed. Não chega a ser um dos grandes destaques do disco, mas isso acontece porque o disco tem um nível muito alto, pois é uma música divertida de ouvir. Tem um jogo de lado esquerdo/direito muito bom e uma linha de piano sensacional, tocada por Ian Stewart, o "sexto stone" (pra quem não sabe do que estou falando, vale dar uma pesquisada na história da banda). Talvez o único problema dela seja sua duração... eles podiam tirar uns 30 segundos dela, no final, que não ia fazer muita falta. 

Abrindo o lado B, Midnight Rambler. Uma das músicas que, nos shows atuais, conta com a participação especial de Mick Taylor nas guitarras. Apesar de ter sete minutos, são muito bem justificados. Um cativante riff blueseiro e um andamento quase dançante, muita harmônica. Não tem muito o que dizer, é o tipo de música pra ouvir e sentir. Interessante é que, como a banda estava envolvida com troca de membros, além das vidaloucuragens de sempre, temos músicas com participações de Brian Jones na gravação. É o exemplo dessa aqui, onde ele toca...conga. Coisas dos Stones. 

Seguindo, temos uma das melhores músicas da banda. A simplicidade de Keith em You Got the Silver faz o diferencial. Apenas um violão e sua voz já são o suficiente. O resto que vem junto é apenas um opcional, acompanhamento. E ela também tem um toque meio blues com country, que permeia o disco, como já vimos anteriormente. O único defeito dela é ser curta demais, mas não peca por ser cansativa. Se for o caso, é só ouvir de novo. 

Na sequência, temos a música mais "diferente do disco", Monkey Man. Um baixo marcante e suingado, piano com leves intervenções, guitarra mais funkeada. Não considero exagero o que falaram em uma outra resenha desse disco, que Monkey Man encaixaria tranquilamente num disco do INXS.  Ela é pop o suficiente pra isso. Uma curiosidade interessante é que, apenas na turnê do Voodoo Lounge (já sem o Bill Wyman, inclusive) ela estreou ao vivo. Foi tocada umas 20 vezes e nunca mais, depois disso. 

Bom, como eu disse lá no começo, o disco tem uns traços de megalomania. E You Can't Always Get What You Want é a megalomania em forma de música. Sete minutos, um coro quase de igreja no começo. É tão verdade isso que, atualmente, eles convidam um coral da cidade onde vão tocar pra cantar a música junto. Uma curiosidade interessante é que, na gravação, o Charlie Watts não tocou bateria. E, apesar de ser a maior música do disco,  não tem trocas de tempo, seções diferentes ou algo assim. É apenas uma longa e megalomaníaca música dos Stones. Mas, convenhamos, não há maneira melhor de fechar esse disco clássico. 

Bem, era isso. Gostaria de dedicar essa postagem à memória de Bobby Keys, uma grande perda que o rock e a música em geral sofreram essa semana. Que o velho Bobby esteja por aí, num barzinho lá em cima, fazendo um som com Ian Stewart e Brian Jones. Não sei se amanhã tem postagem, pois já tenho bastante coisa pra fazer nesse finde, mas sei que estou devendo algumas resenhas e outros discos aniversariantes. Então, até os próximos dias. Valeu!

Nenhum comentário:

Postar um comentário