terça-feira, 9 de setembro de 2014

Aconteceu em Porto Alegre #3: Titãs no Opinião

Sim, pouco menos de um ano depois, a banda que aparece novamente em um show presenciado por quem vos fala é o Titãs. Mas também, que show. Antes de iniciar com o que aconteceu nessa última sexta, temos que fazer um comparativo com a postagem do ano passado, sobre o show dos titânicos no Araújo Vianna. 

Primeiro: o local. O Araújo que me desculpe, mas, com todo o respeito, lugar dos Titãs é, no mínimo, no Opinião. Além da acústica sensacional, a interação com o público é completa. Todos os quatro são humildes, comunicativos e interagem muito com quem está os vendo. Não tem por que tocar em um lugar com cadeiras. 

Segundo: baladinhas. Contando apenas o setlist "oficial" (explicarei depois), o que se tinha de mais próximo de balada era Marvin e Flores. Diferente do show do ano passado, que Epitáfio e É Preciso Saber Viver eram presenças constantes, a temática dos shows da turnê do Nheengatu é só porrada mesmo. 

Terceiro: as músicas novas. Agora não são mais 10. São 12. E não soam cansativas, diferente do que parecia o "erro" do ano passado. Claro, como eu disse, ninguém conhecia a maioria das músicas, e agora muita gente já as tem na ponta da língua. Mesmo assim, elas já eram ótimas lá no ano passado, tanto que se encaixaram perfeitamente no setlist. 

Quarto: aspecto visual. Ainda que os Titãs nunca tenham sido uma banda de valorizar tanto o visual, nunca é tarde pra se começar. E eles tão fazendo bem nesse início de turnê. Mesmo que continuem sem usar telão (provavelmente por causa do alto custo), o pano de fundo é uma gigantesca imagem da tela da Torre de Babel, de Bruegel, a que figura na capa do disco. A pele do bumbo de Fabre estampa outra tela de Bruegel. Além disso, os jogos de luzes estão muito bonitos, combinando demais com a atmosfera do show. É Titãs das antigas com uma roupagem moderna, sem se auto plagiar. 

Agora, podemos avançar uns meses e começar a jornada até o show. Tudo começou com o anúncio do show em Porto Alegre, em 30 de Julho, e a compra do ingresso, poucos dias depois. Aí era só esperar, pouco menos de dois meses. Enquanto isso, vinham as notícias de como seriam os shows da turnê, Sérgio dizendo que iam rolar uns lados B e que o palco ia ter essa dedicação ao visual. Eu e a Bruna já começávamos a especular. Será que ia rolar Corações e Mentes? Quem sabe Miséria? Talvez até algo mais obscuro do Titanomaquia ou do Tudo Ao Mesmo Tempo Agora. "Nossa, imagina se rolasse Clitóris?". Enfim, era tipo isso que pensávamos. Conforme passavam as semanas, a ansiedade aumentava. Dia 23, primeiro show da turnê, no Circo Voador, RJ. Um extenso setlist, 30 músicas, 12 do disco novo. Tava uma beleza. No show seguinte, mesma coisa. Já sabíamos que esse setlist ia se repetir por aqui. 
Eis que, um ou dois dias antes do show, começaram a surgir aquelas ideias tipo "bah, e se eles olharem pra gente?". A Bruna teve a ideia de levar um cartaz, pedindo um par de baquetas e/ou o setlist. Eu, logo depois tive a ideia de levar um CD, pro caso de eu dar muita sorte e conseguir um autógrafo. Só que levar um CD no bolso da calça jeans é algo meio inviável. Por isso, no dia do show, saímos umas 20 pras 6 da aula e passamos aqui em casa, pra largar o material, trocar de roupa e ir a pé pro Opinião. Antes de sair, tirei o encarte do meu Tudo Ao Mesmo Tempo Agora, botei no bolso com uma caneta e um papelzinho indicando meu nome, peguei uma grana, e fomos. 

18:30. Chegamos ao Opinião, portão de entrada tava aberto, seguranças na porta e NINGUÉM na fila. Perguntei ao segurança se já estavam abertos os portões. Diante da negativa dele, percebi que éramos, junto com mais duas gurias que chegaram ao mesmo tempo, OS PRIMEIROS DA FILA. Tudo começava a ficar muito bom a partir daqui. Estava com medo de chegar essa hora e a fila já dobrar a esquina, como foi no show do Nando Reis, mas não. Lentamente foram chegando as outras pessoas, enquanto outro grupo ainda comprava os ingressos na hora. No final das contas, ficamos sabendo que os portões abririam 19:30.

O motivo? Bom, provavelmente o fato da banda estar passando o som ainda depois das 19:00, hora programada pro show. Pude identificar Fala, Renata, Canalha, Cadáver Sobre Cadáver e, não sei se era bem isso, mas A Verdadeira Mary Poppins. Nossa, nesse momento a expectativa tava lá em cima. Enquanto isso, um cara que era uma CÓPIA do Sérgio Britto passava pela rua, até nos deixando com uma certa dúvida se era ele mesmo ou um sósia, pois até as roupas eram parecidas.

19:30. Hora dos portões abrirem. Como a lógica sugeria, apenas dois lugares foram "ocupados" antes da gente escolher, então conseguimos lugar bem no meio e diretamente na grade. Começava a aumentar as chances de conseguir uns "brindes". A partir daí era esperar, e, sabem como é esperar algo assim. É tipo aquela aula chata interminável, que tu olha no relógio e marca uma certa hora, olha de novo e só passaram dois minutos, mesmo que tenha parecido uma meia hora.

Entre as músicas do som do bar, muitos clássicos. Creedence, RHCP, Nirvana, e eu e a Bruna conversando sobre o que esperávamos do show. Assim ia passando o tempo. Logo após, os roadies colaram o setlist no chão e pude conferir que sim, era o mesmo dos shows anteriores. Do lado é que ficava o mistério, duas folhas de papel com pares de palavras, como "pecado/culpa" e "abismo/abrigo". Ficamos discutindo sobre o que poderia ser isso, depois acabamos descobrindo.

Eis que chega 21:00. Aquela expectativa, sobe a tela do projetor de imagens, mostrando novamente o palco inteiro. As luzes azuis acendem e começa aquela música tribal. Cerca de um minuto depois, a banda entra, todos mascarados. Checa afinação, aparelhagem, tudo certo. É hora da porrada. Mário chama na bateria e a banda inicia com as duas notas iniciais de Fardado. Mas tudo para. Mário segue marcando o tempo e os titânicos continuam repetindo essa frase. Eis que um som do splash da bateria de Fabre dá o tempo para iniciar a música de verdade. E aí, meu amigo, é só porrada.

Uma sequência quase matadora de início. Fardado, Pedofilia, Cadáver Sobre Cadáver (de cara, três das quatro novíssimas presentes em Nheengatu), Baião de Dois (eles insistem com essa música, preferia Não Pode), Chegada ao Brasil (Terra à Vista) e Senhor. Nessa última que descobri a utilidade daquele papel que eu falei antes. Como a música tem uma estrutura bem parecida na maioria dos versos, o que muda é a última palavra. Pois bem. Nas duas folhas, estavam todas as "últimas palavras" dos versos.

Apesar de não ter o feedback do pessoal mais de trás, o que eu constatei é que as primeiras fileiras sabiam boa parte das letras, tanto que, quando Branco gritou "Senhooooor!", o pessoal já saiu gritando a letra. Pelo jeito, a banda também viu que o pessoal da frente tava bem dedidado às músicas novas, tanto que interagia muito com a gente.

Super Mário mandou bem demais
Depois desse começo ousado e matador, a banda deixou Mário, ao mesmo tempo, solar na bateria e puxar a próxima música do set, a clássica Polícia. Não, nada de Acorda Maria Bonita. Até isso sumiu do show. Enquanto eles tiravam as máscaras, Fabre tocava sozinho a parte do meio da música. Falando nisso, naquela versão bem mais acelerada, porradona mesmo. Logo após, Sérgio saudou o público e anunciou Fala, Renata, uma das já velhas conhecidas do público, afinal, a banda vem tocando ela desde 2011. O show seguiu, por mais algumas músicas, nessa onda de alternar uma clássica com uma nova. Após Polícia e Fala, Renata, tivemos Bichos Escrotos (como de costume, com TODO MUNDO cantando), Mensageiro da Desgraça e República dos Bananas.

Então começou, com Flores, o desfile de clássicos. Antes, uma observação. Provavelmente esses meses entre o lançamento do disco e o início da turnê serviram pra banda ensaiar AFU. Branco tá cantando melhor e, principalmente, Fabre tá tocando muito melhor, mais acostumado, sem acelerar tanto as músicas. Flores é um bom exemplo. Ainda que o feeling do mestre Charles Gavin, quando tocava essa música ao vivo, fosse incontestável, Mário tá se saindo muito bem. Enfim, voltemos para o principal.

Flores, AA UU, Desordem (já virando presença certa nos shows, fazendo-se a justiça a essa puta música que foi esquecida por muito tempo), Vossa Excelência (com direito a "comício" do Miklos, se candidatando para ser nosso "candidato ficha suja"), Diversão, Televisão, Cabeça Dinossauro e 32 Dentes, essa última de volta ao set, ano passado foi bem tocada em muitos shows, mas caiu fora justamente antes do show aqui em Porto.

Entre elas, muitos pedidos, alguns inusitados e outros nem tanto. Uns caras tavam pedindo a chatíssima Dona Nenê (ainda bem que não tocaram), ouvi pedidos de Saia de Mim (seria uma boa pedida, se não fosse tão Arnaldo essa música... talvez na voz do Sérgio), Nem Sempre Se Pode Ser Deus também foi bastante pedida, inclusive por mim. Ahh, eu também pedi por Clitóris, enquanto exibia o encarte do Tudo Ao Mesmo Tempo Agora. Ainda assim, de longe, o pedido mais inusitado foi por Ridi Pagliaccio. Tá louco.

Seguindo com o show, Sérgio falou um pouco sobre as minorias e, principalmente, racismo, muito pelo destaque que o ato infeliz de uma torcedora do Grêmio ganhou. Então veio Quem São os Animais?, seguida por Estado Violência. Sim, dessa vez rolou. E nem passava pela cabeça do Miklos  que o maluco que gritou por ela ano passado tava mais perto que ele imaginava (pra quem não tá ligado no que estou dizendo, é bom conferir a postagem do ano passado).

Ao fim de Estado Violência, Mário puxou uma levada mais swingada de bateria, usando muitas ghost notes na caixa. Logo após, começou a abusar do bumbo duplo. Quando eu já tava pensando que ia rolar um solo, me liguei que era o início de Lugar Nenhum. Ele adicionou uma introdução antes da chamada clássica e ficou muito foda. Aqui também é interessante ressaltar que os ensaios deram resultado. Mário tocando ela no tempo certinho e Branco cantando com um pouco mais de decência (mesmo que eu preferisse ouvi-la com o Sérgio no vocal).

Pra encerrar o show (o primeiro set, claro), Eu Me Sinto Bem e Sonífera Ilha, mais pesada que o habitual. E então chega um dos momentos mais fodas do show. Quando a banda termina a última música, Tony ia se dirigindo pro meio do palco, para agradecer os aplausos, e para no meio do caminho pra ler o cartaz da Bruna. Não que outros não tivessem reparado, lido e tal, mas Tony parou diante do cartaz, leu ele e chamou Fabre pra conferir. Ele leu também e fez sinal de positivo. Me impressionou a humildade dos caras.

Voltando pro primeiro bis, tivemos dois covers: Canalha, uma música mais arrastada, mas sem perder o peso, e Aluga-se que, como de costume, todo mundo cantou. Logo após o fim de Aluga-se, Sérgio já puxou o refrão de Homem Primata, sabendo que a reação da plateia seria imediata. E foi. O mais engraçado foi no meio da música, quando Sérgio deixou todo mundo cantar a estrofe que começa com o "eu aprendi, a vida é um jogo". Fora eu, a Bruna e mais um pessoal da fileira da frente, todo mundo puxou o "eeeeeeu me perdi, na seeeelva de pedra". Sérgio disse "não, não", pediu mais uma volta da música e puxou a estrofe certa, pro pessoal se achar. Foi bem engraçado, considerando que ano passado foi ele que errou a letra em Família.

A banda terminou o primeiro bis - e aqui Fabre já entregou o par de baquetas pra Bruna - e saiu do palco. Logo após, voltaram pro segundo bis, como planejado no setlist. Comida, Igreja e Marvin. E eu lá, como um louco, chamando os quatro (acho que até o Fabre eu chamei), esticando o encarte do Tudo Ao Mesmo Tempo Agora e a caneta. E nada. Já tava achando que ia sair de lá sem nada. Mas aí que o destino é foda.

Todo mundo continuou gritando "Titãs!Titãs!" e o clássico "mais um" e, contrariando as expectativas, A BANDA VOLTOU. Nossa, aí eu já tava delirando, tipo, mais músicas além do planejado. Além de tudo, mostra como o pessoal daqui curte eles e como eles são caras humildes, que respeitam o público. Sérgio, que já tava no champanhe ostentação, foi até a frente do palco com sua taça e falou aquele papo de "considerar fãs de rock uma família ser algo meio fora do contexto, que ele preferia a denominação de tribo, mas, apesar disso, a próxima música poderia ser em homenagem ao público presente". E lá veio Família de novo, meio "tastaviada" no início, mas com Sérgio acertando toda a letra. Pra fechar, A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana. Sinceramente, senti falta dela no set, mesmo sendo mais popzinha.

Tá aí. Tudo Ao Mesmo Tempo Agora,
autografado por Tony Bellotto e Sérgio Britto
Eis que veio, pelo menos pra mim, o momento MAIS foda do show. Terminada A Melhor Banda, já tava quase desistindo de conseguir o autógrafo, mas seguia lá, com a caneta e o encarte empunhados. Sérgio vem pra frente do palco, um pouco ao lado de onde eu estava, e cumprimenta um pessoal. Eu fiquei naquele feeling de "puta que pariu, não vai rolar". Mas então ele vem na minha direção, pega o encarte e a caneta da minha mão e não só autografa ele, mas entrega também pro Bellotto, que também autografa e devolve pra Bruna. Nossa, nesse momento eu fiquei, tipo, sem palavras. Realmente, os caras provaram que são muito humildes e respeitosos.

E não para por aí. Tipo propaganda da Polishop,  a banda voltou MAIS UMA VEZ pro palco. Quatro "bises" (eu sei que não é essa a palavra, mas a zueira é sem limites, sabe como é) numa única noite. Coisa de Robert Smith e seu The Cure. Sinceramente, quando eles voltaram pela quarta vez, já achei que eles iam emendar umas 10 músicas pra fechar o show. Não foi, claro, foram mais duas, mas quatro músicas extras já é uma grande coisa. Depois do show eu comentei com a Bruna que, "de brinde, até Epitáfio poderia vir que seria foda".

Kit "felicidade das criança"
As escolhidas pro derradeiro bis foram Go Back (que Sérgio explicou antes que era um poema que eles musicaram e tal, e até pediu desculpa por ser baladinha, que não tava planejado e tal, mas as porradas tinham acabado) e Pra Dizer Adeus. Ainda acho que, pra fechar com chave de ouro, podia rolar O Pulso, mas né, já tava bom demais.




Agora sim, estava encerrado o show. O show do ano. Nem Ira!, nem Paralamas, nem Humberto Gessinger, nem mesmo o que sobrou do Guns. Temos que valorizar o rock nacional, e, em termos de entrega, o conteúdo que os titânicos nos entregaram nessa noite da última sexta foi algo inacreditável. Um culto aos bons tempos do BRock e, espero que tudo siga nesse caminho.


3 comentários:

  1. Relato de fã mesmo, Arhur, do tipo que eu gosto de ler! Parabéns pelo texto e pelas "conquistas" que os Titãs te proporcionaram nessa noite! Legal que, no vídeo, dá para ver bem o momento que o Sérgio e o Tony autografam teu CD! Muito legal!

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    1. Valeu, Micael :D bah, quando o Sérgio pegou o CD e a caneta, foi aquela felicidade... mas tipo, foi só a coroação de uma noite que já começou sensacional. É muito bom ver uma banda nacional das antigas em evidência de novo, e, principalmente, fazendo o som das antigas também, abandonando a fase de novela da globo.

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