sábado, 12 de abril de 2014

On The Charts #5: Os 30 anos do Grace Under Pressure


Sim, mais um disco do Rush. Apesar do trio canadense não ter lançado nenhum disco em 1979, 2014 tem muitos discos aniversariantes deles. O debut da banda fez aniversário em 1° de Março (e o Leão postou... quem quiser ver, só clicar aqui) e ainda temos os 25 anos do Presto no fim do ano. Mas hoje é dia de tecladeira.

Grace Under Pressure foi lançado em 12 de Abril de 1984 e trazia nos seus sulcos um Rush bem diferente do habitual. Aquela banda pesada do começo da carreira, que tinha composições longas, que ocupavam um lado inteiro do disco, e até mesmo aquela banda já do começo dos 80, que estava consolidada e fazia discos sensacionais como Permanent Waves e Moving Pictures, havia sofrido mais uma metamorfose. O que encontramos aqui é muita tecladeira. Ao contrário de Moving Pictures e Signals que, mesmo contando com uma boa dose de teclados, quem mandava era a guitarra de Lifeson, nesse disco o que predomina são os teclados.

Comparando com Power Windows e Hold Your Fire, considero o Grace Under Pressure o mais fraco dos três. É um ótimo disco, mas mostra um Rush se acostumando com toda a parafernália eletrônica. Melodias que mudam muito facilmente de andamento e esse tipo de coisa, mas de uma maneira que descaracteriza a música, tornando ela meio genérica. Não no estilo de uma clássica Xanadu ou 2112. Os pontos fortes do Power Windows são as harmonias, que fecham de maneira SENSACIONAL com as linhas vocais de Geddy, principalmente em Marathon e Emotion Detector. Já Hold Your Fire mostra um lado mais "pop". Canções menores e muito redondinhas. A prova disso são músicas como Force Ten, Time Stand Still e Prime Mover.

Mais uma curiosidade: Grace Under Pressure foi o último disco do Rush que foi tocado na íntegra ao vivo (não, o Clockwork Angels não foi por causa de BU2B2).

E o que joga a favor do Grace Under Pressure são os hits do disco. Distant Early Warning já mostra de cara o que o Rush se propôs a fazer. Uma música que alterna momentos de "luz e sombra", e quando aparecem os teclados, o domínio é muito claro. Além disso, é uma música de uma complexidade bem grande, que não se vê tanto no Hold Your Fire (no Power Windows sim).

Logo após, temos Afterimage, outro single. Não fez o mesmo sucesso (até mesmo por não ser tocada há muitos anos - nem mesmo a perna de 1985 da turnê do disco ela integrou), e nela eu sinto essa sensação da "música genérica" que eu descrevi antes. É uma boa música, mas... é isso. É nítida a necessidade do Alex de tentar achar um espaço, porque praticamente todos estão preenchidos pelos teclados. Além disso, o "solo" do Alex no meio da música, e o refrão, são os destaques. Não colocaria ela numa coletânea, por exemplo.

Seguindo, o grande hit do disco: Red Sector A. O motivo pelo qual o kit de bateria do Neil Peart ainda tem o lado eletrônico. Ok, brincadeira. Falando sério agora. Uma música MUITO difícil de tocar na bateria. Não por ter trocas de tempo ou algo assim, mas pela complexidade da linha que o Peart criou, que segue como uma máquina durante seus 5 minutos. Aqui temos um bom exemplo, mas raro, de um equilíbrio entre guitarra e teclado. Os riffs principais são de guitarra, mas o teclado faz os fills que tem que fazer. Não por acaso foi a música que se sobressaiu no disco. Até hoje ela é tocada pela banda, e raramente sai do setlist, diferente do resto do disco, que esporadicamente entra uma ou duas músicas, sempre se alternando.

Sem falar na sua letra, uma crítica ácida do sofrimento que os judeus sofreram no holocausto (não esqueçam que a mãe de Geddy conseguiu fugir de lá. Já pararam pra imaginar que mundo de merda seria se o filho do capeta do Hitler tivesse, indiretamente, acabado com o Rush?). The Enemy Within é outra música que foi esquecida no tempo. Ainda assim, é uma boa música. Ela tem uma pegada muito Police, mesmo com o começo intrincado, característico do Rush. O resto da música é Police no último, principalmente na ponte entre o refrão e a estrofe seguinte.

Iniciando o lado B, The Body Electric. Podem falar o que quiser, não gosto muito da versão de estúdio. A bateria soa realmente datada, diferente da versão que eles apresentaram ao vivo, por exemplo, no DVD da Clockwork Angels Tour (onde ela foi ressuscitada depois de mais de 20 anos, como a maioria do setlist). É mais uma dessas "músicas genéricas". Não é ruim, inclusive o refrão dela é bem legal, e elaborado, mas não tem nada demais nela. É um pouco de "mais do mesmo". Já Kid Gloves mostra um pouco do Rush do Signals. Um pouco mais de guitarra e uma levada mais intrincada. Boa música. Também foi esquecida em 1984, sendo tocada só na primeira perna da turnê.

Já Red Lenses, penúltima música, lembra muito o que a banda viria a fazer no Presto. Um baixo até meio funky, eu diria, aquelas linhas de bateria eletrônica que o Peart curte fazer, e a letra falada pelo Geddy. Com certeza, algo diferente. E no meio, o solo é de teclado, com a guitarra fazendo uma progressão que me lembrou vagamente Time and Motion, do Test For Echo. Essa, diferente das anteriores, foi tocada em shows de 1984 a 1988, todos os anos. Mas desde então foi esquecida. Não me surpreenderia se ela voltasse pro setlist numa próxima turnê. O Rush gosta muito disso.

Finalizando o disco, Between the Wheels. Outra música que eles andaram tocando ao vivo, e outra música com o feeling de "genérica". O riff de teclado o tempo todo é quase irritante, tipo o que acontece em Grand Designs, do Power Windows. Alex luta aqui, mais uma vez, por espaço. Ainda assim, a linha vocal de Geddy é bem interessante, e é uma música bem complexa.

No geral, Grace Under Pressure é um disco bom. Não tem grandes destaques, mas é um disco coeso. Peca na falta de "maturidade" com o novo equipamento, maturidade que a banda viria a mostrar em Power Windows. Ainda assim, um disco importantíssimo para a consolidação do Rush que conhecemos atualmente, afinal, se não tivesse esse disco, a tecladeira não teria acontecido. Sem a tecladeira, não teríamos a volta ao som mais pesado e grandes discos como Test for Echo e Counterparts.

Outro ponto, que acabou de aparecer no facebook da banda, é a opinião de Geddy Lee sobre o disco (quem quiser ver na íntegra, clicar aqui). Basicamente, ele disse que foi o primeiro disco sem Terry Brown na produção e que o produtor contratado mudou de ideia na última hora. Basicamente, foi um disco produzido por conta da banda, o que acabou sendo uma experiência extremamente estressante, mas de um grande aprendizado.

Enfim, chega de enrolação, vamos ao que interessa. Só achei uma cópia que vem junta do Signals e do Power Windows, no youtube. Mas né, melhor ainda :D


Nenhum comentário:

Postar um comentário