sábado, 15 de janeiro de 2022

On the Charts #30: Os 55 anos do The Doors


Vocês acharam que a volta real oficial ia acontecer com algum outro temático? 

ACHARAM ERRADO! Tá começando o Choque de Cultura, programa cultural, com os maiores nomes do...OPA, PERAÍ. O estagiário se passou. Pelo vacilo, perdão. 

Mas, falando sério... não existia outra possibilidade que não fosse retornar com um On the Charts. Escrever para este temático é praticamente uma terapia. Ponho meus fones de ouvido, coloco para tocar o clássico que está fazendo aniversário e, enquanto ouço as músicas e relembro os diversos momentos de cada disco, vou escrevendo minhas impressões a respeito. 

Só falta um bom café/Martini/vinho para acompanhar a minha "sessão". E um bom toca discos, com um som de qualidade. Mas isso fica pra um outro momento. Hoje vamos sóbrios e de fone de ouvido mesmo. 

O disco aniversariante de hoje (na realidade, do último dia 4) é um clássico absoluto. Estreia de uma das bandas mais influentes e polêmicas dos anos 60, o disco homônimo do The Doors foi gravado em incríveis 6 dias (entre 19 e 24 de agosto de 1966, no Sunset Sound Recorders, em Hollywood) - o que, inclusive, nos faz pensar em como, mesmo com muito menos tecnologia, afinal, estamos falando de quase 60 anos de diferença, um disco levava muito menos tempo para ser gravado, além de custar infinitamente menos (e, muitas vezes, captar os melhores momentos das bandas, justamente pela urgência de trazer composições criativas e conseguir se estabelecer como uma banda de sucesso). Mas isso é história para um outro momento, de repente em um Café com Nata, o dia hoje é para ouvir esse discaço e conversarmos a respeito. 

O disco é composto basicamente de 11 músicas, 6 no Lado A e 5 no Lado B. Exceção feita à última música de cada lado (Light My Fire e The End, respectivamente), as músicas são curtas, entre 2 e 3 minutos, típico do som da época. O Doors soube muito bem surfar na onda da psicodelia, nestas composições mais longas, bem como trazer elementos até mesmo do som da Invasão Britânica, a exemplo do que o The Who fazia na época (inclusive, teve uma postagem sobre o Doors que o Leão chegou a comentar que eles seriam britânicos, o que, claro, não é o caso). 

Isso contribuiu para que o primeiro disco, bem como o som da banda, no geral, fossem extremamente influentes e impactantes à época. O Doors sempre se mostrou uma banda enérgica, tanto em estúdio quanto ao vivo. E sua primeira música de seu primeiro disco não poderia ser outra que não Break On Through (To the Other Side). Seus pouco mais de 2 minutos sintetizam o Doors, é o cartão de visitas perfeito. Tem Jim Morrison cantando, gritando, cuspindo a letra, com sua agressividade e irreverência características, tem solo de teclado de Ray Manzarek, não tem baixo 😂 aliás, até tem baixo, mas quem toca ele é o próprio Manzarek, no teclado. Resumidamente, nasceu clássica. 


Na sequência, temos Soul Kitchen. Aqui, a exemplo de algumas outras músicas, a banda abre uma exceção e contamos com uma bela linha de baixo, gravada por Larry Knechtel, relativamente conhecido músico de estúdio. A pegada da psicodelia dá as caras aqui, ainda que de forma mais tímida, nas estrofes (que parecem diretamente saídas da trilha sonora de algum filme do Austin Powers... bem como praticamente todo este disco, sendo justo). Interessante ressaltar que, quando parece que a coisa vai dar uma desacelerada, vem o refrão, mais gritado e agitado. Diferentemente de The Crystal Ship, a terceira música, que começa e termina tranquila, com uma pegada mais puxada pro que o Doors faria nas músicas mais longas, desacelerando e entrando na vibe. Boa música também, mas considero um pouco abaixo das primeiras duas. 

Twentieth Century Fox é a quarta música da bolacha. Esta novamente conta com a participação de Knechtel no baixo, e aqui podemos afirmar com segurança que a baixaria enriquece muito o som da banda (não só a do Morrison, mas a de quatro cordas mesmo), o que nos faz imaginar como o som da banda seria ainda melhor com um baixista do calibre dos maiores nomes da época, como John Entwistle, Jack Bruce, Noel Redding, entre outros. A música, apesar de não ser de grande destaque, é gostosa de ouvir, um meio termo entre o punch das primeiras e a calmaria de The Crystal Ship. 

Já Alabama Song (Whisky Bar), definitivamente, é o que temos de mais diferente no disco. Além de todos da banda terem gravado backing vocals (além do produtor Paul Rothchild), Manzarek toca um MARXOPHONE (claramente um comunista). Brincadeiras à parte, não sei exatamente o que é um marxophone, mas ele deu um toque um tanto infantil ao som dos teclados. Uma experiência interessante, no mínimo. Talvez funcionasse melhor como uma vinheta no disco, com um minutinho e alguma coisa, não com mais de três. Mas sei lá, depois de beber umas ela deve ficar bem divertida. 

A próxima música, fechando o lado A, dispensa apresentações: Light My Fire. Um dos maiores clássicos da banda, do rock e da música. Manzarek dá um SHOW aqui, dominando completamente seus 7 minutos com absoluta maestria, contando com um solo que dura uns 4, inclusive. Mas como eu sei que vocês já ouviram muito esse som, vale lembrar uma das histórias que provam por A + B porque o Doors era visto, junto com os Stones e o Who, à época, como uma banda de bad boys, transgressores e etc.

O Doors foi convidado pelo Ed Sullivan, uma espécie de Jô Soares dos anos 60 (minha referência para explicar quem era o Sullivan já tá desatualizada, eu sei), para tocarem em seu programa, e a música que a banda escolheu foi justamente Light My Fire. O problema é que, logo no começo da letra, Morrison canta que "girl, we couldn't get much higher", e, num programa de família dos anos 60, isso aí era a própria blasfêmia. 

Pouco tempo antes, os Stones tocaram Let's Spend The Night Together e tiveram que trocar o refrão para "Let Spend Some Time Together" (com direito a Mick Jagger revirando os olhos, em desaprovação, a cada vez que precisava cantar o novo refrão). Pensem, uma referência muito sutil a sexo, e não deixaram rolar, obviamente o Doors precisaria trocar a letra. Reza a lenda que Sullivan sugeriu algo como "girl we couldn't get much better". Morrison aceitou. 

Na hora de tocar a música, o home meteu essa:


Não preciso dizer que a banda foi absolutamente banida do programa e tocou um total de ZERO vezes das seis que dizem que eles teriam para fazer em outras ocasiões. Isso é uma síntese do que era Jim Morrison e também do que é o rock'n roll, convenhamos.

Abrindo o lado B, Back Door Man. Em uma batida que, em certo ponto, até lembra Come Together, dos Beatles, ela tem uma pegada interessante. Será que eles pegaram inspiração daqui? Fica o questionamento. Esta é mais uma das músicas que conta com uma linha de baixo, mas, desta vez, ela é executada pelo próprio guitarrista da banda, Robby Krieger. Bela música, das melhores entre as mais obscuras da bolacha. Já I Looked At You, a música seguinte, já entra um pouco na cota de "mais do mesmo". Tem um certo balanço, mas nada que desperte muito interesse. Não chega a ser ruim, e é uma das músicas mais curtas do disco, anyway. Pra quem tá curtindo a vibe, ela vai muito de boas.

Na sequência, temos provavelmente a melhor música, fora as três clássicas: End of the Night. Ela não só desacelera o ritmo, ela te faz voar, flutuar, mesmo sóbrio. A atmosfera dela é soturna e etérea, o efeito que a banda conseguiu nos instrumentos é absolutamente incrível. Música boa demais, inclusive pra colocar numa playlist daquelas para apagar todas as luzes e só viajar no som (com ou sem drogas). Já Take it as It Comes, penúltima música da bolacha, tem uma pegada meio ao estilo de I Looked at You. Nada demais, mas nada de menos. Sem problemas, I'll take it. De qualquer forma, é a música mais curtinha do disco, em contraste com a próxima.

A próxima, e última música do disco, é The End. Clássica absoluta da banda, possui várias atmosferas diferentes ao longo de seus quase DOZE minutos de duração. Desde o começo, mais com cara de música mesmo, até o momento em que Morrison meio que declama uma poesia e a banda segue como pano de fundo (um modelo que, inclusive, seria explorado pela própria banda, com os poemas de Morrison, nos discos gravados após sua morte). Não há muito o que descrever aqui, é mais uma questão de ouvir e entender. Este modelo até seria repetido em When The Music's Over, mas sem o mesmo impacto. Talvez um dia eu faça um temático apenas sobre uma delas, mas não hoje. 


Bom, por hoje era isso. Postagenzinha beem simples, ainda tentando tirar a ferrugem, mas espero que tenham gostado e que tenha servido para fazer jus a esse discaço. Quem não ouviu ele em homenagem ao 55º aniversário, pegue ele da estante, ponha no teu toca discos, ou coloque para tocar no seu streaming, se desconecte um pouco desse nosso mundo moderno, se deixe levar pela atmosfera dos anos 60... and enjoy!



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