quinta-feira, 28 de agosto de 2014

On the Charts #11: Os 25 anos do Mother's Milk

Sim, acabamos tendo dois On the Charts seguidos de discos dos Peppers (poderiam ser três, mas o Freaky Styley foi lançado em agosto de 1985). Aliás, mais da metade da discografia da banda - sete de seus dez discos - foi lançada em agosto ou setembro (inclusive, um dos primeiros On the Charts, quando eu ainda nem pensava que essa série poderia ter um nome, foi dos 20 anos do Blood Sugar Sex Magik e do Nevermind. Quem quiser conferir, só clicar aqui.

Mas chega de enrolação. Hoje é dia de mais um disco dos primórdios da banda. Em um espaço de seis dias (10 pra 16 de agosto) e, aqui no blog, de nove dias, temos um salto temporal de cinco anos na carreira dos Peppers. Bem, muita coisa aconteceu durante esses cinco anos. Só pra dar um resumo... depois do lançamento do debut e uma primeira turnê ainda com Sherman, Hillel Slovak resolve sair do What is This? e ficar somente com os Peppers. Assim, Sherman foi demitido.

Com essa nova formação, a banda terminou sua primeira turnê, entrou em estúdio com George Clinton (Parliament-Funkadelic) na produção e fez o disco mais funk de sua história, o ótimo Freaky Styley. Nele, temos uma mostra da evolução da banda em seus instrumentos, da qualidade de Hillel como guitarrista e de um som bem mais polido, com uma qualidade melhor. A banda vai pra estrada novamente, na Infinity Tour, e agora quem quer voltar é Jack Irons, que também saiu do What Is This?, sobrando, assim, para Cliff Martinez, que foi demitido.

Dessa maneira, apenas em 1986, a formação original dos Peppers estava reunida novamente e finalmente gravaria um disco junta. Mais ou menos por essa época, a banda começou a se envolver mais com drogas e isso fez mal especialmente a Kiedis e Slovak. Como a dependência de Kiedis era mais preocupante, chegando ao ponto de não ter mais ideias para as letras da banda e dormir em ensaios, Kiedis foi afastado da banda por um mês, para que voltasse limpo.

Deu certo. Kiedis voltou muito entusiasmado para a banda, inclusive com uma letra para o que viria a ser o clássico Fight Like A Brave. Como a banda estava compondo várias músicas para o novo disco, foram atrás do produtor. Procuraram por Rick Rubin, que recusou. Assim, Michael Beinhorn ficou encarregado da produção de Uplift Mofo Party Plan, lançado em 1987. Aqui já podemos ver um peso grande nas músicas, influência de Beinhorn. Essa produção mais "profissional" alavancou um pouco o sucesso da banda, sendo o Uplift o primeiro disco dos Peppers a entrar no Hot 200 da Billboard.

O novo RHCP, em 1988. Chad, AK, Flea e Frusciante.
Mas, apenas em 1988, aconteceria o fato marcante da história dos Peppers. O fato que iria mudar a história da banda por completo. Durante a turnê do Uplift, Hillel estava seriamente viciado. Os shows não estavam indo bem e a banda estava muito preocupada com ele. Não que Kiedis, por exemplo, não estivesse em uma situação séria. Mas ele fez um pacto com Hillel de se manterem limpos. Ele respeitou. Hillel não conseguiu, e acabou morrendo de overdose em 25 de junho de 1988.

A banda, claro, ficou muito abalada com isso. O verdadeiro "cabeça" dos Peppers tinha morrido. O cara que ensinou Flea a tocar baixo. O cara que era a maior influência do som da banda. Entre outras alcunhas. Anthony, por exemplo, não compareceu a seu funeral. Jack Irons, abalado com tudo isso, saiu da banda por não se sentir confortável com esse ambiente de drogas e de morte. Desfalcados de dois membros, a solução era tentar remontar a banda.

Assim, depois de um breve período com McKnight (ex Parliament-Funkadelic) na guitarra e D.H. Peligro (ex Dead Kennedys) na bateria, cumprindo uma turnê já agendada, Kiedis e Flea mudaram novamente a formação, achando a estabilidade com Chad Smith e John Frusciante, um moleque de 18 anos que ia em TODOS os shows dos Peppers com Slovak e sabia tocar todas as músicas da banda. Assim, pouco mais de quatro anos após seu início (e de muitas mudanças), o RHCP passava da formação original à formação clássica, depois de todas essas loucuras. O resultado, como já era de se esperar, foi incrível. E dele que falaremos agora.

Mother's Milk é um disco pesado. Ainda mais pesado que o seu antecessor. A bateria muito mais técnica de Chad e a guitarra inquieta de Frusciante casaram muito bem com o estilo da banda. Ainda que Frusciante não se sentisse à vontade com tanto peso, falando abertamente que gostou da maior liberdade que teve no Blood Sugar Sex Magik, é inegável o alto nível que permeia boa parte do disco.

E assim ele já começa, quebrando tudo com Good Time Boys. A bateria, animal como em Give It Away, com, claro, umas paradinhas estratégicas, Frusciante pesando bastante a mão mas sem esquecer do groove, Flea sendo Flea e o Anthony com atitude (algo um pouco mais raro de se ver depois de 1999). Além do aspecto musical, não dá pra esquecer duma parte logo depois do break, que o Anthony canta algo que soa como "vão tudo se fodeoooooo". Sempre dou risada dessa parte. Eles até andaram dando umas palhinhas dela nos shows com o Josh, bem que podia voltar ao setlist.

Seguindo o tracklist, temos a versão cheia de atitude da banda para Higher Ground. Destaque para todos, na real. A banda está on fire aqui. Chad espancando seu kit, Flea com o capeta nas mãos, fazendo uma das linhas mais difíceis da banda, cheias de slaps e velocidade, John fazendo os fills de maneira impecável, adicionando seu feeling à música, e Anthony cantando muito bem, com um alto alcance, considerando sua técnica, conhecida por ser limitada.

Subway To Venus é a terceira, iniciando a sequência mais fraca do disco. Foi tocada até 1992, e é uma das mais tocadas ao vivo até hoje (justamente pelo fato da banda não ter esse apreço todo pelo disco, o que eu considero injusto). Não gosto tanto dela, ela é pesada como as outras e tem uma seção bem rápida de metais, mas acho ela meio sem feeling, meio repetitiva demais. Logo após, temos Magic Johnson, que também não me cativa muito, apesar de, como todas as três músicas da sequência, ser uma das mais tocadas ao vivo. Ela peca, assim como a antecessor, por ser meio repetitiva. Pelo menos o solo de Frusciante é demais. Pra fechar a sequência "maldita", Nobody Weitd Like Me, talvez a pior música do disco, e justamente a mais tocada pela banda (exceto Higher Ground, claro). Até na turnê do Stadium Arcadium eles tocaram ela, não entendo por quê. Apesar de ter uma linha de baixo incrivelmente veloz e uma bateria muito difícil de se executar, é uma música incrivelmente chata. Muito embolada e sem feeling de novo.

Ainda bem que, depois de finda a sequência ruim, temos uma sequência das melhores músicas do disco. Começamos com Knock Me Down, talvez mais leve que as outras, mas muito boa. Na letra, Anthony meio que conversa com Hillel (assim como ele faria no disco seguinte, com My Lovely Man), mas aqui há uma abordagem mais direta do assunto dependência. Ela era pra ter mais uma estrofe, que foi cortada da versão final, por isso que parece meio repetitiva no final, mas isso não tira a qualidade dela. Seguindo, temos Taste the Pain, a música mais funky do disco. Com muito feeling, tem como curiosidade o fato de Chad não ter gravado a bateria dela, mas sim Philip Fisher, músico de estúdio. Antes que eu me esqueça, o solo dos metais é sensacional. Ainda queria ver uma turnê comemorativa dos Peppers, onde eles tivessem um time de metais para, sei lá, as últimas 8 músicas do show, e tocassem só essas antigonas, tipo The Brothers Cup, American Ghost Dance, a própria Taste The Pain, até umas da fase mais nova, tipo Tear, Hump de Bump, enfim... foco no pojeto.

A próxima música é Stone Cold Bush. Apesar de não ter sido single, é uma puta música. Até o Josh fazia uma palhinha dela nos shows dos Peppers, sempre no início de Look Around. Ela é pesada e rápida, mas não soa embolada ou sem feeling, como as da sequência maldita. Falando em feeling, o solo de John aqui é animal, e o do Flea também, que vem antes de entrar a guitarra.

O fim do disco é mais disperso. Nele, temos uma homenagem a Hillel e Irons, com a versão dos Peppers de Fire, ainda com a formação clássica. Aliás, uma versão bem acelerada. Essa música já tinha aparecido no The Abbey Road E.P., e agora entrava no disco. Logo após, como um grande paradoxo da situação, temos Pretty Little Ditty, a única música leve do disco. Justamente a primeira jam entre Flea e Frusciante. Ou seja, em uma música tínhamos o último registro oficial da formação original, e, logo depois, o primeiro registro da formação clássica. Sensacional.

Assim como Pretty Little Ditty, a música seguinte tem pouco mais de 1:30. A diferença é seu peso. Não é à toa que ela se chama Punk Rock Classic, uma música onde a banda ironiza o Guns 'n Roses, com o refrão "put us on MTV", dando a entender que eles eram "bandinha da MTV", justamente a maneira pela qual o RHCP ficou conhecido após o Californication, e o final, mas o porquê eu não vou contar, apenas ouçam. Depois dessa loucura toda, algo mais safado. Batidas mais lentas, uma guitarra bem funky e Anthony falando sobre uma empregada mexicana muito sexy. E esse é exatamente o nome da música: Sexy Mexican Maid. Boa música, com um belo solo de sax, mas não é um dos destaques do disco.

Pra fechar com chave de ouro, uma puta música que, por ironia do destino, foi a única que nunca ganhou versão ao vivo. Johnny, Kick a Hole in the Sky é pesada na medida. Agressiva tanto no instrumental quanto na letra, a música fala sobre o sofrimento que os índios norte americanos passaram por causa do homem branco. Quanto ao instrumental, aqui temos, talvez, a melhor linha de baixo de todo o disco, casou muito bem com a música. Bem que eles podiam tocar ela pelo menos uma vez, mas certamente não vai rolar.


Então é isso, a estreia de Frusciante e Chad na banda não poderia ser melhor. Com Mother's Milk, a banda chegou à posição 52 no Billboard Hot 200, até então, um recorde. Também foi o primeiro disco dos Peppers a ultrapassar a marca de 500 mil cópias vendidas, sendo certificado com platina em Março de 1990. Bem, justiça seja feita, é um puta disco. Não é o melhor da banda, mas mostrava uma grande maturidade de uma gurizada ainda nova e que estava pronta para conquistar o mundo com sua música, o que aconteceu no disco seguinte. Mas chega de enrolação. Parabéns a esse baita disco, e que venham outros aniversários :D

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