Bom, depois de alguma enrolação, finalmente estamos aqui para voltar com os épicos. E, de cara, falando dessa maravilha. Só, antes, peço desculpas por atrasar uns dias essa postagem, mas não é nada que influencie muito no planejamento do mês. Tanto que, até agora, não tivemos mais do que dois dias sem uma postagem. Considerando os meses anteriores, onde tivemos, por exemplo, 2 postagens em 14 dias, isso é uma vitória, e os números refletem isso. Bem, como não estamos aqui pra discutir os números do blog em abril (não ainda, pelo menos), vamos ao que interessa.
2112 é a faixa de abertura do álbum homônimo, o quarto de estúdio do Rush, lançado em 1976. Ocupando o lado A inteiro do disco, seus 22 minutos nos fazem viajar, uma imersão na atmosfera da história criada por Peart e ilustrada com a música de Lee e Lifeson. E, apesar de ter toda essa atmosfera anti comercial, foi um sucesso na época, pelo menos no meio dos ouvintes (a crítica que se foda). Fruto da teimosia da banda, verdade seja dita. Após o lançamento de Caress of Steel - e a repercussão um tanto quanto negativa do disco, por suas músicas longas, de 12 e 20 minutos, e seu pouco potencial comercial - os empresários queriam um som mais direto, que pudesse ser comercializado mais facilmente, músicas curtas, esse tipo de coisa. Eis que a banda resolveu bater o pé e entregou esse disco à gravadora. Eles mesmos falam, hoje em dia, que essa ousadia poderia ter custado a continuidade da banda, mas, se fosse para o Rush acabar, seria por convicção deles, fazendo a música que eles tinham em mente. No final, podemos dizer que essa perseverança teve sua recompensa.
Iniciamos nossa viagem de sete paradas com Overture. Uma das sequências mais emblemáticas da história da banda (e do rock também, por que não?), seus primeiros 40 segundos são apenas uma introdução do que vem por aí... um vento, a expectativa, e lá vem a banda. Aquela velha sequência de acordes de Lifeson, seguida por Lee e Peart com maestria. Duas voltas, uma com a guitarra normal e outra com chorus. Logo após temos aquele solinho, seguido pelo resto da banda da mesma maneira que o início da música, e Peart entra pra valer, com aquela levada clássica nos tons, além de ouvirmos a voz de Geddy como outro instrumento, apenas em vocalizações. Depois disso, mais uma quebrada, agora Lifeson manda mais duas sequências de acordes diferentes e, lá pelos três minutos, chegamos ao solo. São quatro voltas de um andamento mais calmo, enquanto Lifeson manda um daqueles solos que só ele sabe fazer. Depois disso, a banda entra naquela seção famosa da música, que Alex brinca com a plateia ao vivo. Ele manda quase todo o riff e deixa o último acorde pra galera gritar. E, para encerrar a primeira parte, ao final dessa última sequência, voltamos aos três acordes lá do início (dó, sol e ré), que fecharam a sequência inicial. Eles também finalizam a primeira parte da música, seguidos de um mi, repetido 5 vezes, e um trovão/explosão. Então Geddy canta a única linha de letra dessa primeira parte, "And the meek shall inherit the Earth", e entramos em The Temples of Syrinx.
Olhando essa minha descrição ou ouvindo a música pela primeira vez, essa primeira parte parece impossivelmente complexa. Eu também achava isso antigamente, mas, depois que tu te acostuma, tu sabe cada sequência que vem depois. Quando eu vou fazer um som com a gurizada da minha banda, sempre rola uma brincadeira com Overture, e sempre sai direitinho. No próprio documentário do Rush, Beyond the Lighted Stage, músicos que sempre foram fãs da banda falam que era uma música incrivelmente simples, mas o que tornava ela tão mítica era a ousadia e a grandiosidade da composição. Bem, vamos continuar a viagem.
Próxima parada, The Temples of Syrinx. Uma das partes mais curtas da suíte, mas uma das mais conhecidas também. Isso porque geralmente ela e sua antecessora são as únicas partes tocadas ao vivo pela banda nas turnês mais recentes (até, na turnê do Clockwork Angels, o Gran Finale foi tocado, mas normalmente isso não ocorre). A banda já entra nessa parte quebrando tudo, aquela sequência de acordes lá do início volta, Peart sempre fazendo magia com as mãos, no final de cada volta. Geddy entra gritando a letra, nos apresentando a sociedade da música. Basicamente, uma sociedade manipulada, como a do 1984, mas em vez do Big Brother, aqui temos os sacerdotes do Templo de Syrinx, controlando "as palavras que vocês ouvem, as músicas que vocês cantam" e defendem que "é um por todos e todos por um, mas sem perguntar como ou por quê". No refrão, a clássica frase "We are the priests of the Temples of Syrinx", seguida de coisas como "todas as dádivas da vida são mantidas dentro de nossas muralhas".
Na segunda estrofe, pode-se encontrar talvez uma crítica ao comunismo, não sei bem dizer. Frases como "Olhe o mundo que fizemos, igualdade é o nosso lema" e "segure a Estrela Vermelha orgulhosamente no alto" podem dar a entender isso, que há uma suposta igualdade, mas quem governa tem conhecimento de outras situações escondidas do povo em geral, configurando uma manipulação. Vale lembrar que em 1976 ainda estávamos no contexto da Guerra Fria e que, como foi dito pelo próprio compositor da letra, uma das inspirações de Peart para criar a história foi Ayn Rand. Pra quem não tá ligado, google it.
E, após o segundo refrão, terminamos The Temples of Syrinx com um dedilhado no violão. A partir daqui, as sequências de luz e sombra da música ficam muito mais pronunciadas. Começando por Discovery, a seção seguinte. É uma das minhas preferidas, por todo o contexto que ela traz consigo. Começamos ela com um som de água corrente e alguns toques nas cordas de uma guitarra. Nesse momento, eu sempre me perguntava "que porra é essa, o Lifeson tá afinando a guitarra no meio da música?". A resposta é SIM. E, quando eu descobri o porquê, eu fiquei boquiaberto, na real. Digamos que isso é a demonstração mais clara que posso conceber de metalinguagem em uma música.
Por que isso? Bom, no documentário sobre a criação desse disco, a banda explica o motivo dessa parte da canção. Basicamente, o protagonista da história, nesse momento, chega em uma caverna (captou o porquê do som da água correndo? Então, ainda vai ficar mais mindblowing). Eis que o nosso herói encontra uma guitarra escondida na caverna. Adivinha só qual é a primeira coisa que ele faz ao encontrar a guitarra? Sim, ele afina ela. Ou seja, a metalinguagem da coisa tá justamente aí, no fato de, durante a música, a história contar que alguém entrou numa caverna, encontrou uma guitarra e afinou ela - sendo que a afinação da guitarra na música é simplesmente Lifeson afinando sua guitarra. A partir daí, as duas músicas "se encontram", porque a composição do Rush, nesse momento, passa a ser o belo som que o protagonista tira da guitarra, na caverna. E quando eu digo belo, é belo mesmo, é o primeiro momento que tu sente uma alegria na representação da banda, o nome Discovery não poderia ser mais apropriado.
Nesse momento, o protagonista está maravilhado com sua descoberta, experimentando vários acordes e fazendo várias reflexões sobre isso, primeiro descrevendo o instrumento, comparando seu som com sons da natureza, as sensações que esses sons transmitem, tudo com um fundo de alegria, de felicidade. Ao final dessa parte, ele fala sobre a ansiedade de compartilhar essa descoberta, como as pessoas ficariam felizes de "ver essa luz" e terem a chance de fazer sua própria música, e como os sacerdotes louvariam seu nome naquela noite.
Mas não é bem assim que funciona naquela sociedade. A volta um tanto quanto abrupta do peso à música já nos indica que estamos entrando em uma nova seção, Presentation. Instrumentalmente, é uma das partes mais ricas da música, jogando muito com essa coisa de pergunta e resposta (Geddy soa sensacional no baixo, a propósito). E como funciona isso? Bem, primeiro temos uma estrofe leve, Geddy canta suavemente falando sobre a razão dele ir diretamente até os sacerdotes - algo bem unusual. Ele fala que encontrou essa maravilha antiga e queria mostrá-la a eles, que ouvissem a sua música, pois "aqui há algo mais forte que a vida, irá tocar vocês". Ingênuo, o protagonista não percebe que não é bem esse o interesse deles.
Para a resposta dos sacerdotes, seca e áspera, entra o peso novamente e Geddy grita, em um tom altíssimo. "Já conhecemos, não é nada novo, apenas uma perda de tempo. Não precisamos de coisas antigas, nosso mundo vai bem" é a resposta ouvida. Nessa parte mais pesada é que Peart simplesmente quebra tudo, sensacional a variedade de viradas e etc que ele faz aqui. Geddy insiste mais uma vez, não acredita no que os sacerdotes dizem, insiste mais uma vez para que eles ouçam sua música, mas ouve simplesmente que não deve incomodar novamente os sacerdotes, eles têm mais o que fazer. Para o final dessa seção, uma volta de um dos riffs das partes anteriores, um solo sensacional de Lifeson e, é claro, Peart e Lee quebrando tudo na cozinha.
Oracle: The Dream é a quinta parte. Mais curta da suíte, com apenas dois minutos, é também a menos lembrada. Foi tocada ao vivo apenas na turnê do Test For Echo. Por tabela, isso significa que 2112 foi ter a sua primeira versão completa ao vivo apenas 20 anos depois de seu lançamento. É uma pena, pois é uma seção que não fica devendo nada para as outras. Inicialmente, temos um efeito mais "espacial" na guitarra de Lifeson e Geddy canta a primeira estrofe, falando sobre o fato de estar voltando pra casa e ter caído no sono no meio da rua. Peart entra, e a banda segue o instrumental conforme as linhas vocais vão aparecendo. Aqui o protagonista descreve seu sonho, onde um oráculo lhe mostrava um futuro, onde a raça antiga voltaria para romper com os Templos (basicamente, romper com essa sociedade manipulatória que se estabeleceu).
Eis que chegamos em Soliloquy, penúltima parte. O barulho da água volta, como em Presentation, acompanhado apenas de Lifeson e Geddy. Aqui, o protagonista reflete sobre seu sonho. Aquelas belas imagens, de um mundo diferente do que vivia, ainda estão frescas em sua memória, e ele não queria voltar à realidade que o cerca. Essa parte da música é um belo indicativo do que vai acontecer no final. Na segunda estrofe, Geddy sobe o tom para um altíssimo agudo, além de contar com a entrada de Peart na música. Depois da segunda estrofe, temos um belíssimo solo de Lifeson, mais duas linhas de vocal e entramos no Gran Finale.
A última parte é iniciada por Lifeson, puxando mais um de seus grandes riffs, Peart segue em uma batida mais reta e essa tendência segue por quase um minuto, até que o break anuncia o último riff da música, aquele que a banda fica duelando entre si durante várias voltas, com inúmeras viradas de Peart. A "tensão" vai aumentando gradativamente até que chegamos ao final da última parte, onde, após uma progressão de acordes, a banda quebra tudo em um big ending, enquanto soa ao fundo a clássica frase "attention, all planets of the Solar Federation. We have assumed control". E assim termina essa obra-prima.
Como nem mesmo a banda acreditava no tamanho do sucesso que 2112 faria, na época foi um lançamento comum. Com o passar dos anos, e a percepção de que 2112 é um disco especial, muito querido pelos fãs, a banda caprichou em alguns relançamentos. Um dos últimos, que Geddy até fez propaganda no That Metal Show, conta com história em quadrinhos da suíte, vinil que mostra um holograma quando está rodando, enfim, o capricho que um clássico desses merecia desde o início.
E, uma última opinião sobre a música é que... mesmo sendo batido, é necessário dizer que 2112 é uma música que nasceu clássica. Toda a sua composição, meticulosamente calculada, os efeitos, a imersão na história. Arrisco dizer que, se fosse lançada em CD, num ousado projeto de disco de uma música só, não seria cansativo. Até mesmo porque o Rush sempre soube fazer músicas muito longas com maestria. E, por incrível que pareça, 2112 parece passar muito rápido a partir de pouco mais de sua metade. Até a sua quarta parte a história transcorre de maneira fluida. A partir da quinta, tenho a impressão que a banda poderia até mesmo ter alongado a suíte em alguns minutos. Mas assim já tá maravilhoso. Peço agora mais 20 minutos de sua atenção (se é que não estão nesse momento ouvindo a música enquanto leem a postagem)... com vocês, 2112!
Iniciamos nossa viagem de sete paradas com Overture. Uma das sequências mais emblemáticas da história da banda (e do rock também, por que não?), seus primeiros 40 segundos são apenas uma introdução do que vem por aí... um vento, a expectativa, e lá vem a banda. Aquela velha sequência de acordes de Lifeson, seguida por Lee e Peart com maestria. Duas voltas, uma com a guitarra normal e outra com chorus. Logo após temos aquele solinho, seguido pelo resto da banda da mesma maneira que o início da música, e Peart entra pra valer, com aquela levada clássica nos tons, além de ouvirmos a voz de Geddy como outro instrumento, apenas em vocalizações. Depois disso, mais uma quebrada, agora Lifeson manda mais duas sequências de acordes diferentes e, lá pelos três minutos, chegamos ao solo. São quatro voltas de um andamento mais calmo, enquanto Lifeson manda um daqueles solos que só ele sabe fazer. Depois disso, a banda entra naquela seção famosa da música, que Alex brinca com a plateia ao vivo. Ele manda quase todo o riff e deixa o último acorde pra galera gritar. E, para encerrar a primeira parte, ao final dessa última sequência, voltamos aos três acordes lá do início (dó, sol e ré), que fecharam a sequência inicial. Eles também finalizam a primeira parte da música, seguidos de um mi, repetido 5 vezes, e um trovão/explosão. Então Geddy canta a única linha de letra dessa primeira parte, "And the meek shall inherit the Earth", e entramos em The Temples of Syrinx.
Olhando essa minha descrição ou ouvindo a música pela primeira vez, essa primeira parte parece impossivelmente complexa. Eu também achava isso antigamente, mas, depois que tu te acostuma, tu sabe cada sequência que vem depois. Quando eu vou fazer um som com a gurizada da minha banda, sempre rola uma brincadeira com Overture, e sempre sai direitinho. No próprio documentário do Rush, Beyond the Lighted Stage, músicos que sempre foram fãs da banda falam que era uma música incrivelmente simples, mas o que tornava ela tão mítica era a ousadia e a grandiosidade da composição. Bem, vamos continuar a viagem.
Próxima parada, The Temples of Syrinx. Uma das partes mais curtas da suíte, mas uma das mais conhecidas também. Isso porque geralmente ela e sua antecessora são as únicas partes tocadas ao vivo pela banda nas turnês mais recentes (até, na turnê do Clockwork Angels, o Gran Finale foi tocado, mas normalmente isso não ocorre). A banda já entra nessa parte quebrando tudo, aquela sequência de acordes lá do início volta, Peart sempre fazendo magia com as mãos, no final de cada volta. Geddy entra gritando a letra, nos apresentando a sociedade da música. Basicamente, uma sociedade manipulada, como a do 1984, mas em vez do Big Brother, aqui temos os sacerdotes do Templo de Syrinx, controlando "as palavras que vocês ouvem, as músicas que vocês cantam" e defendem que "é um por todos e todos por um, mas sem perguntar como ou por quê". No refrão, a clássica frase "We are the priests of the Temples of Syrinx", seguida de coisas como "todas as dádivas da vida são mantidas dentro de nossas muralhas".
Na segunda estrofe, pode-se encontrar talvez uma crítica ao comunismo, não sei bem dizer. Frases como "Olhe o mundo que fizemos, igualdade é o nosso lema" e "segure a Estrela Vermelha orgulhosamente no alto" podem dar a entender isso, que há uma suposta igualdade, mas quem governa tem conhecimento de outras situações escondidas do povo em geral, configurando uma manipulação. Vale lembrar que em 1976 ainda estávamos no contexto da Guerra Fria e que, como foi dito pelo próprio compositor da letra, uma das inspirações de Peart para criar a história foi Ayn Rand. Pra quem não tá ligado, google it.
E, após o segundo refrão, terminamos The Temples of Syrinx com um dedilhado no violão. A partir daqui, as sequências de luz e sombra da música ficam muito mais pronunciadas. Começando por Discovery, a seção seguinte. É uma das minhas preferidas, por todo o contexto que ela traz consigo. Começamos ela com um som de água corrente e alguns toques nas cordas de uma guitarra. Nesse momento, eu sempre me perguntava "que porra é essa, o Lifeson tá afinando a guitarra no meio da música?". A resposta é SIM. E, quando eu descobri o porquê, eu fiquei boquiaberto, na real. Digamos que isso é a demonstração mais clara que posso conceber de metalinguagem em uma música.
Versão deluxe do disco |
Nesse momento, o protagonista está maravilhado com sua descoberta, experimentando vários acordes e fazendo várias reflexões sobre isso, primeiro descrevendo o instrumento, comparando seu som com sons da natureza, as sensações que esses sons transmitem, tudo com um fundo de alegria, de felicidade. Ao final dessa parte, ele fala sobre a ansiedade de compartilhar essa descoberta, como as pessoas ficariam felizes de "ver essa luz" e terem a chance de fazer sua própria música, e como os sacerdotes louvariam seu nome naquela noite.
Mas não é bem assim que funciona naquela sociedade. A volta um tanto quanto abrupta do peso à música já nos indica que estamos entrando em uma nova seção, Presentation. Instrumentalmente, é uma das partes mais ricas da música, jogando muito com essa coisa de pergunta e resposta (Geddy soa sensacional no baixo, a propósito). E como funciona isso? Bem, primeiro temos uma estrofe leve, Geddy canta suavemente falando sobre a razão dele ir diretamente até os sacerdotes - algo bem unusual. Ele fala que encontrou essa maravilha antiga e queria mostrá-la a eles, que ouvissem a sua música, pois "aqui há algo mais forte que a vida, irá tocar vocês". Ingênuo, o protagonista não percebe que não é bem esse o interesse deles.
Para a resposta dos sacerdotes, seca e áspera, entra o peso novamente e Geddy grita, em um tom altíssimo. "Já conhecemos, não é nada novo, apenas uma perda de tempo. Não precisamos de coisas antigas, nosso mundo vai bem" é a resposta ouvida. Nessa parte mais pesada é que Peart simplesmente quebra tudo, sensacional a variedade de viradas e etc que ele faz aqui. Geddy insiste mais uma vez, não acredita no que os sacerdotes dizem, insiste mais uma vez para que eles ouçam sua música, mas ouve simplesmente que não deve incomodar novamente os sacerdotes, eles têm mais o que fazer. Para o final dessa seção, uma volta de um dos riffs das partes anteriores, um solo sensacional de Lifeson e, é claro, Peart e Lee quebrando tudo na cozinha.
Oracle: The Dream é a quinta parte. Mais curta da suíte, com apenas dois minutos, é também a menos lembrada. Foi tocada ao vivo apenas na turnê do Test For Echo. Por tabela, isso significa que 2112 foi ter a sua primeira versão completa ao vivo apenas 20 anos depois de seu lançamento. É uma pena, pois é uma seção que não fica devendo nada para as outras. Inicialmente, temos um efeito mais "espacial" na guitarra de Lifeson e Geddy canta a primeira estrofe, falando sobre o fato de estar voltando pra casa e ter caído no sono no meio da rua. Peart entra, e a banda segue o instrumental conforme as linhas vocais vão aparecendo. Aqui o protagonista descreve seu sonho, onde um oráculo lhe mostrava um futuro, onde a raça antiga voltaria para romper com os Templos (basicamente, romper com essa sociedade manipulatória que se estabeleceu).
Vinil do relançamento com o holograma. |
A última parte é iniciada por Lifeson, puxando mais um de seus grandes riffs, Peart segue em uma batida mais reta e essa tendência segue por quase um minuto, até que o break anuncia o último riff da música, aquele que a banda fica duelando entre si durante várias voltas, com inúmeras viradas de Peart. A "tensão" vai aumentando gradativamente até que chegamos ao final da última parte, onde, após uma progressão de acordes, a banda quebra tudo em um big ending, enquanto soa ao fundo a clássica frase "attention, all planets of the Solar Federation. We have assumed control". E assim termina essa obra-prima.
Foto de uma das partes da história em quadrinhos de 2112. |
E, uma última opinião sobre a música é que... mesmo sendo batido, é necessário dizer que 2112 é uma música que nasceu clássica. Toda a sua composição, meticulosamente calculada, os efeitos, a imersão na história. Arrisco dizer que, se fosse lançada em CD, num ousado projeto de disco de uma música só, não seria cansativo. Até mesmo porque o Rush sempre soube fazer músicas muito longas com maestria. E, por incrível que pareça, 2112 parece passar muito rápido a partir de pouco mais de sua metade. Até a sua quarta parte a história transcorre de maneira fluida. A partir da quinta, tenho a impressão que a banda poderia até mesmo ter alongado a suíte em alguns minutos. Mas assim já tá maravilhoso. Peço agora mais 20 minutos de sua atenção (se é que não estão nesse momento ouvindo a música enquanto leem a postagem)... com vocês, 2112!
Nenhum comentário:
Postar um comentário